Etapa educativa do Kipupa Malunguinho 2022 realiza debate e defesa de dissertação de mestrado sobre educação contra colonial.
No último dia 17 de setembro, o terreiro de Jurema e Candomblé Casa das Matas do Reis Malunguinho tornou-se uma grande sala de aula internacional com presença de professoras e professores universitários da América do sul e Caribe na realização da Etapa Educativa do XVII Kipupa Malunguinho 2022, que tem realizado suas atividades internas desde o início da pandemia.
A parceria FUNDAJ e CMRM propiciou um grande debate com o tema: Malunguinho na Aula é Reis: perspectivas para uma educação contra colonial, dissertação de mestrado apresentada/“defendida” no chão de terra batida da casa do Reis Malunguinho, com produção da própria Casa, garantindo uma estrutura qualificada para a apresentação. Esse trabalho acadêmico já qualificado tem data oficial para defesa pública na UFRPE em 17 de outubro de 2022.
Mestando Henrique Falcão, cientista social e futuro mestre em educação contra colonial. Foto de Monique Silva.
A Etapa Educativa do Kipupa é um dos braços educacionais do Quilombo Cultural Malunguinho, que há 20 anos realiza atividades do gênero com grande participação do povo de terreiro e interessades, formando inúmeras pessoas no campo dos temas afro e indígenas. Nos últimos anos, essa proposta de formação contra colonial tem adentrado algumas escolas do Recife apoiada na Lei Estadual Malunguinho 13.298/2007, revogada e recolocada na lei estadual 16.241/17 e pelas demais Leis Malunguinho municipais, como 5591/2008 (de Olinda); 2.285/09 (de São Lourenço da Mata); 18.562/19 (de Recife) e a 3.164/19 (de Igarassu).
Uma das etapas educativas realizadas na mata sagrada disponíveis para conhecimento está nesse mini-documentário produzido por nós em parceria com a produtora audiovisual Angola Filmes no ano de 2018: https://www.youtube.com/watch?v=qqfAp9Y0IXY&t=47s
O terreiro se encheu de fumaça da gaita mestra, mazurca bem tocada nos bombos sagrados e muita firmação aos pés do patrono para receber com alegria esse histórico e revolucionário momento para a vida de todes participantes. Henrique Falcão, juremeiro, cientista social e mestrando do Programa de Pós Graduação em Educação, Culturas e Identidades da UFRPE em convênio da FUNDAJ, nos trouxe o resultado quase final de seu trabalho de mais de dois anos de pesquisa entorno da temática de Malunguinho, educação das relações étnico-raciais e as Leis que instituíram oficialmente a Semana Estadual da Vivência e Prática da Cultura Afro Pernambucana (e afro indígena, no caso da lei de Recife).
Vibração para agradecer ao sagrado. Foto de Monique Silva.
Cantando para Reis Malunuginho. Foto de Monique Silva.
Henrique Falcão, que também é percussionista, tocando para Reis Malungunuho. Foto de Monique Silva.
Defumação de Jurema. Na imagem, professora argentina recebendo o axé da CMRM. Juremeira Welica no serviço de limpeza espiritual. Foto de Monique Silva.
Sua imersão científica investiga a figura de Malunguinho e sua pluralidade como ícone histórico, divino e símbolo de uma educação afro-indígena. Em seu resumo, o autor nos aponta exatamente o que traz à luz da história:
“Malunguinho, ou os Malunguinhos, foram guerreiros quilombolas do Quilombo do Catucá em Pernambuco, lutavam por liberdade do povo negro e indígena e utilizavam de guerrilhas para combater diretamente o Estado e as milícias que atacavam os seus territórios. Encantaram-se no panteão da Jurema Sagrada, mitificando o ser histórico e passando ao patamar divino de Reis, ocupando local de destaque na religiosidade, assumindo também multifaces espirituais, podendo manifestar-se como trunqueiro, caboclo e mestre. Assim, como expressão de resistência, tornou-se modelo para a formação e atuação da Lei Malunguinho, de Nº 13.298/07, que exige nos espaços educacionais uma Semana de Vivência e Prática da Cultura Afro-indígena Pernambucana, enfatizando a sua importância na formação das/dos estudantes, transmitindo saberes tradicionais, racializados e salientando a luta pela educação contra hegemônica, tomando Malunguinho como persona simbólica desta pedagogia”.
Ceclebração de abertura dos trabalhos. Foto de Monique Silva.
Os bombos sagrados do Reis Malunguinho batendo forte pra saudae esse momento histórico. Foto de Monique Silva.
Defumação dos convidades de outros países. Foto de Monique Silva.
Fala de abertura do sacerdote Alexandre L'Omi L'Odò preludiando ato histórico na Casa das Matas do Reis Malunginho. Foto de Monique Silva.
Ele faz essa conexão teórica com os debates em torno da crítica ao modelo educacional e a modernidade, colonização, colonialidade e o contra colonial, vinculando a religiosidade da Jurema e suas narrativas orais com epistemologias que contrariam o fazer educacional nos moldes unicamente eurocêntricos, perpetuando os paradigmas dominantes da modernidade.
Esse trabalho ainda é um registro amplo da trajetória do Quilombo Cultural Malunguinho na conquista e efetivação das leis que foram fruto de seu trabalho assim como a realização das Semanas de Malunguinho nas escolas, realizadas pelo QCM, pela Professora Célia Cabral e professor Rodrigo Correia. É um trabalho rico e cheio de elementos muito bem investigados por esse habilidoso acadêmico que nasce para a academia e para a luta da juremologia e da juremagogia, como ele mesmo cria e dá sentido.
A presença dos professores e professoras universitários que debateram com o mestrando e demais membros e membras do terreiro, possibilitando um momento incrível de troca de saberes, foi um dos trunfos dessa Etapa Educativa do Kipupa. Vindos de países como Argentina e Chile, deram grandes contribuições e puderam elogiar o muito bem estruturado trabalho desse jovem promissor.
Frofessora da Argentina interagindo e dando contribuição crítica ao trabalho de Henrique Falcão. foto de Monique Slva.
Professora de univeridade da América Latina elogiando o trabalho que segundo ela está muito bem estruturado e qualificado. Foto de Monique Silva.
Professor do Chile parabenizando e contribuindo para a dissertação apresentada. Foto de Monique Silva.
Debate amplaido e contribuições da professora argentina. Foto de Monique Silva.
Professora Cibele da FUNDAJ dando sua contribuição. Foto de Monique Silva.
Os filhos e filhas da Casa das Matas se fizeram presentes com demais convidades, promovendo debates mais ricos e a noite finalizou com comida tradicional de terreiro e uma tour dos professores e professoras pelo espaço, onde foi mostrada a biblioteca do templo, seu grande acervo de material de pesquisa sobre a Jurema, o altar sagrado, o acervo de pinturas e quadros raros e demais dependências da casa.
Início dos debates após brilhante apresentação de Henrique Falcão. Foto de Monique Silva.
Luíza, filha da CMRM, professora da rede pública do Estado de Pernambuco falando da importancia da pesqusia para formação de professoras e professores. Salientou que não há acesso à este tipo de conteúdo e que seria muito útil no combate ao racismo nas escolas. Foto de Monique Silva.
Catarina Falcão, mãe do mestrando falando do orgulho de ver nascer dentro do terreiro uma pesquisa tão importante. Emocionada ao ver seu filho ascendendo na academia, lembrou de seu pai Luiz Marinho, grande intelectual e teatrólogo pernambucano. foto de Monique Silva.
Artur Falcão, primo e irmão de santo de Henrique. Falou sobre o quanto é importante este trabalho e o quanto está aprendendo com ele. Artur, filho da CMRM, tocou com amor ao Reis para agradecer esse dia tão especial. Foto de Monique Silva.
Ricardo Nunes, pai carnal de Henrique. Falou sobre o orgulho de ver o filho elevando-se profissionalmente e do quanto a epsquisa é importante para nossa história. Foto de Monique Silva.
Fequinho, ou FK Feiticeiro, falando do quanto foi importante receber os conhecientos que nessa noite reverberaram em sua vida. Parabenizou o seu irmão de santo henrique. Fotoo de Monique Silva.
Gleice Kelly Heitor, mostrou como é importante um estudo dessa qualidade para o avanço dos debates contra coloniais. Ela, que é coordenadora do Instituto Brenand, deiou aberta a possibilidae de amliar esse debate na instituição. Foto de Monique Silva.
Joannah Flor, cantora e filha da CMRM, parabenizou seu irmão Henrique e dissertou sobre a importância de estudos deste tipo para o avanço da história do povo de terreiro, em especial do povo da Jurema. Foto de Henrique Falcão.
Quilombo reunido. Foto de Monique Silva.
Mestrando pela UFRPE, falando da importância dos estudos de Henrique para o Povo da Jurema. Foto de Monique Silva.
A alegria e realização nos tomou e festejamos juntes esse ato raro que agora compõe nossas memórias mais valiosas. Uma dissertação de Mestrado ser apresentada e defendida em um terreiro de catimbó em si já é um ato revolucionário de múltiplos significados.
Parabéns a Henrique Falcão. Desejamos sucesso em sua defesa oficial na universidade. Você está muito preparado e merece o título de Mestre.
O padrinho Alexandre ficou muito orgulhoso de ver parte de sua tragetória e contribuição para a edicação anti colonial em Pernambuco registrada com tanta competência acadêmica e amor pelo seu filho Henrique. A Casa das Matas teve uma noite de grande triunfo. Foto de Monique Silva.
Os presentes nesse momento histórico. Foto de Moonique Silva.
Professoreas e professor das universidades do exterior e Cibele da FUNDAJ. Foto de Monique Silva.
Henrique e os convidades. Foto de Monqiur Silva.
Recebendo as congratulações. Foto de Monique Silva.
Nosso quilombo Casa das Matas do Reis Malunuginho. Alguns filhes. foto de Monique Silva.
Sobô Nirê Mafá!
Mais um importante trabalho acadêmico registrando Malunguinho na história do Brasil. Isso deve ser celebrado!!
Alexandre L’Omi L’Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com