Entidades como MNU (Movimento Negro Unificado), Rede de Negras, Negros e Afro LGBTT - RNAF/GGP, CEPPIR/PE, Festa da Lavadeira, Ação Cultural, Rede Nacional de Matriz Africana dos Pontos de Cultura, INTECAB/PE, UFPE, UNICAP, Prefeituras de Abreu e Lima e Recife, além dos Mestres Griôs (os Kimbandas de Malunguinho) do Quilombo Cultural Malunguinho.
Reunindo um público diversificado, entre sacerdotes dos cultos afro, pesquisadores, artistas, produtores, estudantes e pessoas interessadas, o evento teve saída as 8h da manhã do Nascedouro de Peixinhos em Olinda, Pátio do Carmo no Recife (2 ônibus) e em Paulista. Seguindo o comboio de Malunguinho via as antigas Matas do Catucá, na mata norte do Estado.
Juntando também pessoas das comunidades e povoados adjacentes, com a intenção de provocar o raciocínio e o reconhecimento do espaço, para a partir da ação cultural ali desenvolvida, eles olharem o antigo Catucá como espaço de vida, história e força espiritual, contribuindo para o fortalecimento do movimento contra o desmatamento da localidade, que anda a paços largos. A comunidade ali existente começa a vislumbrar e discutir novos rumos e perspectivas, a partir da movimentação dos Juremeiros e Juremeiras que ali afirmaram com a religiosidade de matriz indígena, o valor e a importância de tal espaço. Jamais estas matas serão as mesmas para os que ali vivem e resistem como povoado que lutou pelas terras que hoje tem.
No evento também foi o momento da gravação do documentário sobre Malunguinho, Histórico e Divino, pelos alunos da UNICAP, que estão finalizando o curso de jornalismo com o tema, (revelando nossa história de PE), os alunos João Júnior e Luiz entre outros coordenaram as gravações e o registro audiovisual do Kipupa.
Esteve presente também o documentarista Felipe Perez Calheiros, que também fotografou e realizou registros do evento, que também tem como pretensão, no futuro realizar um filme com o tema Malunguinho.
Eduardo Melo (criador e produtor executivo da Festa da Lavadeira, Ação Cultural, o maior evento de cultura tradicional e popular do Brasil), impressionado com a força do evento, colocou-se disposto a somar conosco forças na luta pelo resgate de nossa história e auto-estima com a religião da Jurema e o imaginário que cerca os “brinquedos” do homem do nordeste e do povo de terreiro do Brasil.
A dita “Cultura Popular”, é uma expressão viva e dinâmica do imaginário do negro e índio no Brasil. É um desdobramento do conceito de vida destes povos. O coco, a Ciranda, os Maracatu, Afoxés, dentre dezenas de outros Brinquedos, denotam que estes elementos são princípios fundadores do que conhecemos hoje como cultura brasileira, musica brasileira e identidade brasileira no mais profundo sentido dos termos fundidor e fundador.
A cerimônia religiosa ficou na regência do Babalorixá e Mestre Juremeiro Sandro de Jucá e da Sacerdotisa Iyalorixá e Mestra Juremeira Mãe Lúcia de Oyá T’Ogùn, que dês da fundação da tradição do coco do Catucá, o I Kipupa Malunguinho em 2006 foram protagonistas deste ritual religioso à memória e espiritualidade dos Malunguinhos que alí estão nas matas e nas mesas de Jurema de todo Nordeste.
Com a grande participação de diversos sacerdotes e sacerdotisas da Jurema Sagrada, o ritual ficou muito rico em loas e toadas (segmentos) de Jurema, que os mais de 200 Juremeiros e Juremeiras cantaram para saudar a união e a força espiritual que ali se fazia presente.
Vários foram os Mestres Juremeiros que vieram participar da cerimônia, Malunguinho (de Alexandre L’Omi L’Odò e outros), Zé Pretinho (de Ana de Oyá), o Grande Mestre Seu Curisco (de Mãe Lúcia de Oyá T’Ogùn), Mané Quebra-Pedra (de Beth de Oxum), Mestre buique (de Alexandre de Iyemojá), Zé da Hora, Mestre Caçador (de Ary Bantu), Mestre Zé Gaguinho (de Mãe Graça de Xangô), Mestre Manoel Maior, Mestre Pilão Deitado, Mestre Carlos, dentre muitos outros que não recordo-me agora. Foi tudo muito forte, e tanto as pessoas quanto a espiritualidade da Jurema Sagrada tiveram uma brilhante participação e ação afirmativa dentro da mata. Com as oferendas de fruta silvestres e litorâneas à Malunguinho, os Caboclos também foram muito saudados, pois Malunguinho também é caboclo, como expressa esta linda toada:
“Na mata tem um Caboclo
Todo vestido de pena
Este Caboclo é Malunguinho
Ele é Rei lá da Jurema
Na mata tem um Caboclo
Com uma preaca na mão
Esse Caboclo é Malunguinho
Não mexa com ele não”.
(da tradição da Jurema Sagrada de Pernambuco)
Após as cerimônias de entrada e louvação, adentrarmos a mata mais de 30 minutos a pé, chegando à clareira Cova da Onça, onde acontece a brincadeira. Todo brinquedo ficou por conta do Grande Mestre Galo Preto, comemorando 65 anos de coco e tradição no Brasil. Ao som da Embolada e do coco de roda, o evento na mata finalizou-se com o a cerimônia da alimentação coletiva. Com o já tradicional angu no dendê e a galinha também na iguaria, finalizamos o evento no lindo entardecer do Catucá às 17h.
O evento já está virando um marco de resistência, reafirmação, preservação e renovação dinâmica da tradição da Jurema no Estado, pois por ter um perfil único e exótico, atrai a cada ano mais pessoas interessadas na vivência e prática de suas próprias tradições que até então se encontravam adormecidas e desconhecidas pela ausência de informação.
O Kipupa Malunguinho é o povo de Terreiro olhando para seu universo, é o povo de terreiro unindo-se para construir novos rumos para a preservação e entendimento do que conhecemos como dia-a-dia da história viva de nossos antepassados que tanto lutaram para permitir que estivéssemos aqui hoje contando esta história.
Pelo olhar apurado e profissional da fotógrafa pernambucana e olindense Laila Santana, filha dos olhos da Oxum, coloco o resultado aqui do lindo registro realizado por ela. (Todas as fotos nesta matéria são de Laila Santana).
Agradecimentos especiais
Ao Deputadpo Estadual Isaltino Nascimento (PT), pelo grande apoio e consiceração dispensadas.
A Jorge Arruda, Secretário executivo da CEPIR (Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Racial), E a todos os terreiros Participantes, em especial a casa de Mãe Tânia de Oxum pelo esforço desprendido.