50 anos de axé
Àjòdún Àádota
Iyemojá Ògúnté Mi, firme como uma montanha!
Foi
em um Janeiro de 1966 que uma jovem negra de apenas 16 anos, filha de Iyemojá
Ògúnté, se iniciou na tradição nagô de seus avós e pais em rituais de muito
segredo e discrição. Lá no passado, em um período de grande perseguição às
religiões afro que a doce adolescente nasceu para o Orixá.
Teve
em sua cabeça as fortes mãos da Sra. Maria Vicentina da Costa, a Tia Vicência - Ifádayrò (de Iyemojá Sesú), sua iyalorixá, filha adotiva de Ignês Joaquina da Costa –
Ifatinuké, e teve como pai (no ritual) Olofin Oduduwá, “padrinho” do Sítio de
Pai Adão.
Participaram
deste ritual, seu pai carnal Malaquias Felipe da Costa – Ojé Bií, e como
“padrinhos” Paulo Braz Felipe da Costa – Ifátòógún (seu irmão carnal) e o Sr.
Toinho do Monte. Sua “madrinha” foi Tia Mãezinha – Iyamidè, filha carnal de Pai
Adão, que dela cuidou dentro do Peji do Sítio junto com Tia Vicência nos dias
de seu resguardo religioso.
Sua
trajetória, iniciou mesmo na Jurema Sagrada, quando nos antigos tempos do Nagô,
era necessário primeiro confortar os caboclos e caboclas para se ter a permissão
para “fazer o santo”. Consagrada para o Caboclo Viturino e o mestre Antônio,
tinha em sua mãe carnal a maior escola possível nesta “ciência mestra”, já que
a Sra. Leônidas Joaquina da Costa - Omisèun era uma grande juremeira,
herdeira da tradição indígena de seus pais e avós.
Ela
ainda herdou a tradição da fé em Nossa Senhora da Conceição (sincretizada com
Iyemojá nos cultos de matriz africana de Pernambuco), santa católica que sempre
foi adorada por Pai Adão, pelo seu Pai e hoje por ela com profundo amor,
devoção e fervor. Aprendeu a rezar o mês mariano e zela pela imagem de Maria,
que tem mais de 180 anos de existência, pois pertenceu a Pai Adão no passado.
É
isso mesmo, a menina herdou a tradição da tríplice pertença religiosa. A
Jurema, a Tradição Nagô e o Catolicismo Popular vivem harmonicamente em seus caminhos
do axé. Seu cosmo é regido por este universo xenofílico.
A
menina cresceu e se demonstrou uma grande iyalorixá. Com sorriso largo, carisma
sem igual, suavidade nas palavras, sabedoria nos conselhos dados, humildade
religiosa e devoção ímpar, ela trouxe para junto de si centenas de filhos e
filhas que a amam e comungam de sua trajetória de vida com felicidade. Ela tem
mão odara, e quem se banha em suas águas, conhece o bem e a beleza da vida
afroreligiosa.
Hoje,
a Sra. Maria Lucia Felipe da Costa, Mãe Lu Omitòógún, de 65 anos de idade,
sacerdotisa mor do Ilé Iyemojá Ògúnté, é na linhagem hierárquica nagô a iniciada
à Ògúnté mais antiga viva do Sítio de Pai Adão. É professora formada em
Letras/Inglês e pós-graduada em história das artes, mãe de uma única filha carnal
chamada Bárbara (atual mãe pequena do terreiro) e professora de uma escola de
referência no Recife.
Ela
é oceânica! Mulher de grande respeito. Cuidadora e criadeira de muitos filhos
adotivos. Arrimo de família. Guerreira e sonhadora. Consciente de seu papel
como mulher negra, milita na causa ainti-racismo. Ensina que devemos lutar por
nossos direitos e vai à luta com seus filhos, pois é uma mãe sem igual. Ela
compra as brigas dos filhos sim, encara a guerra e vence as batalhas que a vida
nos traz. Ela segura em nossas mãos. Ela nos acaricia e acolhe. Na beira de sua
cama choramos nossas mágoas. Ela também chora com a gente. Ela nos abraça e nos
faz ter a certeza que sempre poderemos contar com sua força maternal de grande
sacerdotisa.
Mãe
Lu é nossa Iyemojá, a grande mãe. Nela tudo é seio farto. Nela mora o sossego
do mar calmo em dias de paz.
“Iyemojá a to f’ara ti bi oké – Firme como uma montanha”!
Tití àiyé!
No
dia 26 de Novembro de 2016, celebraremos em nosso terreiro seus 50 anos de
iniciação religiosa com o Presente (Panela) de Iyemojá e a saída de dois iyawò.
Neste ato, vamos vibrar, louvar, celebrar o dom de termos esta grande mulher
como nossa mãe e também de termos Ògúnté Mi como nossa regente soberana nos
caminhos de odú.
Convidamos
todas e todos. Axé!
Alexandre
L’Omi L’Odò.
Omo
Orixá - Historiador e Mestrando em Ciências da Religião.
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com