Iyá Iyemojá Ògúnté na reabertura do Ilé Iyemojá Ògúnté em maio de 2012. Foto de Joannah Luna.
Iyemojá Ògúnté Mudou Minha Vida mais Uma Vez
Ontem minha vida mudou mais uma vez... Não sou preso em, ou a padrões estáticos, gosto de me jogar e viver o que for possível no corpo e em tudo....
Ver nos rituais de axé anuais de nossa casa Iyemojá Ògúnté no corpo de minha iyá Mãe Lu Omitòógún foi profundamente transformador mais uma vez para mim. Ver sua dança tão inusitada, inesperada, quase difícil de compreender, solta, leve, íntegra, viva, forte e africana, me tirou do eixo comum da vida e me colocou defronte a mais maravilhosa possibilidade de ser feliz com o corpo, com a alma e com a consciência. Iyemojá me fez flutuar em mim mesmo, voar nos campos livres do passado da Nigéria e mergulhar nas suas águas, que ela dançava brincando com elas... Essa dança tão atípica só pude ver no Ilé Iyemojá Ògúnté - Terreiro Nagô... Já andei em muitos terreiros do Brasil todo, mas só lá existe este traço da dança de Iyemojá, creio. Nada de dança coreografada, com requintes de passos marcados... Nada marcado, nada esperado, nada ordenado... Simplesmente livre e vibrante...
Fui pego em momento de plena contemplação por Mãe Zite de Ipondá, que da janela me olhou naquela situação e chamou minha atenção com as mãos e fez sinal de "legal" com elas, avisando que estava adorando ver aquilo também... Logo ela veio para o salão e começou a dançar junto com Iyemojá e todo o terreiro veio abaixo em dança coletiva, cânticos, palmas, vibrações e fé. Foi um momento profundo do axé da casa que muito me honra em ter me aceito...
Vi Deus e Deusa em tudo aquilo. Deus e Deusa dentro de Mãe Lu, dentro de todas as crianças que estavam ali tocando, dançando e cantando, dentro de meu pai Paulo Braz, dentro dos tambores, dentro das comidas.... De tudo... Uma vibração tão profunda de paz e misericórdia, de absolvição, de respeito ao sagrado, de harmonia, de transcendência humana dos padrões ocidentais e cristãos que aquilo me salvou mais uma vez... Me salvou do risco de crer num Deus fora de nós, que está acima de nós, e que nos condena. Nuca acreditei por opção própria nessa teologia cristã, e após ter vivenciador tudo isso, pude entender mais ainda que pular fora do barco do sofrimento da vida proposto pela condenação mental do cristianismo me renasceu mais uma vez, reafirmou-me e me fez entender que de fato estou no lugar certo.
Tinha também muito Deus e Deusa dentro do abraço forte e intenso profundo de Xangô no meu irmão Júnior Boto. Um abraço tão consciente que me fez meditar. Me purificou... Me deu redenção e me elevou ao espírito da terra e do fogo.
Hoje é a festa de Iyemojá... Vai ser maravilhoso poder estar junto com esta família que tem o que sempre procurei na vida, ciência profunda do amor e África.
Kolofé, Kolofé, Kolofé! Agô Kolofé!
“Eu só poderia crer em um Deus que soubesse dançar” | Nietzsche.
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Postagem de grande repercussão no facebook. Datada do dia 14 de Dezembro de 2013. Fiz este texto após chegar em casa da abrigação de Iyemojá Ògúnté. E de fato, minha vida mudou. Só poderia mudar perante tanta beleza e divindade pura e transcendente. Minha Mãe Lu é uma mulher inspiradora, e ela também é parte desta transformação linda. Axé e adupé Iyemojá. Kolofé!
Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com