Espaço internacional de discussão e troca de saberes. Local para estreitar nossas negras discussões e lucubrações sobre a Música Percussiva (Yorùbá/afro-descendente e nordestina) e as religiões das matrizes indígenas e africanas, além de todo o seu imaginário histórico, social, cultural e pedagógico. Local de exposição de vivências práticas com a religião negra!!!
1835 - 2015 Malunguinho Histórico e Divino, 180 anos resistindo!
Dez anos do maior encontro de juremeiros e juremeiras do Brasil. O Kipupa Malunguinho em sua décima edição, levará mais um ano para as matas sagradas do "Catucá" a alegria da fé do povo de terreiro, para celebrar o Reis Malunguinho, único líder quilombola a virar divindade na história de nosso país. Celebraremos os 180 anos de resistência da luta por liberdade do povo negro/indígena de Pernambuco. Com muito coco, ritual nas matas e muita troca de saberes, vivenciaremos coletivamente mais uma vez o hermanamento entre a religiosidade tradicional de terreiro e a cultura popular.
Informações básicas:
Dia 27 de Setembro de 2015 (Domingo)
Das 09 às 18h
Local: Matas de Pitanga II, Abreu e Lima/PE (Sítio de Juarez) "Catucá"
Como chegar?
O local do evento é um pouco complicado de chegar. Mas providenciaremos ônibus saindo da Igreja do Carmo do Recife às 7h da manhã. Valor da ida e volta para o mesmo local R$: 30. Bilhetes vendendo no box de Eliane dentro do Mercado de São José.
Terreiros e grupos podem organizar suas caravanas independentemente.
Qualquer pessoa pode participar.
Terreiros podem levar ilús e demais instrumentos, além de suas oferendas próprias e irem vestidos com roupas tradicionais da Jurema.
A Jurema
Sagrada como patrimônio imaterial do Brasil
Perspectivas
para um processo de patrimonialização
No
último dia 18 de Agosto de 2015, estive a convite do IPHAN, em sua sede em
Brasília para participar como conferencista na Capacitação Interna para Gestão
do Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro,
apresentando uma conferência intitulada “Subsídios para preservação do
Patrimônio Cultural de Terreiros: aspectos da tradição Jurema”.
Palestra no IPHAN. Equipe do GTIT. Foto de Guitinho da Xambá.
O
GTIT – Grupo de Trabalho Interdepartamental para a Preservação do Patrimônio
Cultural de Terreiros, foi o organizador desta atividade que foi exibida ao
vivo via canal do youtube, com um grande grau de audiência, segundo os
organizadores.
Pude
apresentar a teologia da jurema com vasto material levado em Power Point e em
artigos científicos que eu mesmo já publiquei em congressos. Fotografias,
textos, vídeos, e muita discussão fizeram deste momento um dos mais ricos que
já pude protagonizar. Não poderia ser diferente. Afinal, eu fui convidado para
defender a Jurema Sagrada como patrimônio imaterial do Brasil, e para isso
naturalmente teria que ter um conteúdo à altura.
A
equipe do GTIT foi de uma sensibilidade imensa, me tratando super bem e dando
todas as condições para que eu pudesse expor tudo aquilo que venho pesquisando
e vivenciando durante toda minha vida. Foi uma experiência privilegiada.
A
invisibilidade e ostracismo que o culto da Jurema Sagrada foi acometido durante
tantas décadas, sobre tudo por causa da falta de interesse dos acadêmicos em
pesquisá-la e a falta de auto-estima do próprio povo de terreiro do Nordeste,
que vê ainda no Orixá a legitimação única de sua condição de sacerdote etc. está
sendo extinguida devido a momentos como este. Não podemos ser mais invisíveis.
Temos que ocupar todos os espaços que são para o povo de terreiro, sem vergonha
de nossas pertenças religiosas.
Ter
discutido a questão Afro-Indígena foi um dos pontos fortes desta palestra.
Afinal, compreendo que temos que transcender este ponto. Não se pode discutir
religiões de terreiro no Brasil apenas citando as de matriz africana. As
religiões de matrizes indígenas, como é o caso da Jurema e outras, existem e também
são fortes como as demais. Também, se buscarmos profundamente argumentos
científicos veremos que somos um povo afro-indígena, e que nossas práticas
estão completamente imbricadas. Isso naturalmente foi fruto do processo
histórico que vivenciamos, e que temos que respeitar.
A
Jurema tem uma cultura densa. Uma tradição ampla e cheia de elementos
belíssimos. Sua cosmologia e mitologia são grandiosas. Seus ritos complexos.
Sua forma de ser típica e tradicional. A Jurema tem fundamento e elementos
próprios que a dão sem dúvidas a condição de religião independente das demais.
Ela não é um apêndice da umbanda ou do “xangô de Pernambuco”, a Jurema é uma RELIGIÃO,
sem sombra de dúvidas! Afirmar isso infelizmente ainda é um processo necessário
de legitimação, afinal, alguns pesquisadores do passado a colocaram como
religião impura, misturada, degenerada e que seria na visão deles um apêndice
das demais, sem ter uma independência religiosa própria. Teremos que
desconstruir este processo que nos acarretou o ostracismo e a quase total
ausência de reconhecimento por parte das demais religiões de terreiro e da
sociedade. Este trabalho não é fácil, mas estamos conseguindo passo a passo
reverter esta injusta condição que os processos de opressão da história nos
forçaram a vivenciar.
O
processo de patrimonialização da Jurema é algo que deve ser celebrado por todos
nós juremeiros e juremeiras. Este é um reconhecimento importante que o Estado
brasileiro tem que nos dá. É apenas mais um dos tantos processos de reparação
que nosso povo tem que ser beneficiado. Sermos patrimônio imaterial do Brasil é
sinônimo de avanço para nosso povo que precisa a cada dia mais de elementos que
nos legitimem perante a sociedade para conseguirmos vencer o racismo e a
intolerância religiosa. Esta é uma construção legítima que merece nossos
aplausos.
Eu e Guitinho da Xambá.
Também
esteve presente o Guitinho da Xambá (do Grupo Bongar), representando a tradição
Xambá. Somos jovens que damos continuidade a luta de nossos ancestrais com muito
pertencimento e respeito, além de legitimidade. Sua palestra foi muito rica e
aprendi muito sobre a Nação Xambá, que eu tanto amo. Parabéns pela bela
apresentação.
Agradeço
muito à Jurema e ao Reis Malunguinho por me darem esta condição de defender
nossa religião. Isso me deixa muito feliz, afinal, ter a confiança das
entidades e divindades da Jurema é um privilégio. Compartilhar desta fumaça
sagrada é algo dignificante, ser juremeiro é uma honra.
Obrigado
a George Bessoni do IPHAN/PE que me indicou, seguimos juntos nestas lutas... Obrigado
a todos e todas do GTIT. Passamos um dia ótimo juntos. Produzimos bastante,
afinal três horas e meia de troca de saberes foi o mínimo que pudemos fazer
para dar conta de conteúdos tão esquecidos como são (ou eram) os pertinentes a
Jurema Sagrada. Rogo a todos os índios e caboclos, mestres e mestras, pajés,
caciques, trunqueiros, reis, divindades e entidades que faça com que a roda
continue girando e que consigamos fazer um grande trabalho real de catalogação
e registro dos bens imateriais e matérias da Jurema Sagrada.
Eu e Equipe do GTIT. Foto de Guitinho da Xambá.
Assistam
toda conferência no vídeo do youtube no início desta postagem.
Salve
a fumaça!
Sobô
Nirê Mafá!
“Quanto mais meu lírio cheira, é pau, é pau, é pau”!
É com imenso prazer que divulgo e convido meus irmãos de luta para neste dia 18/08 no IPHAN Nacional em Brasília participar da defesa da Jurema Sagrada como Patrimônio Imaterial do Brasil.
Esta capacitação servirá para que o IPHAN possa ter os argumentos necessários para dar o título a Jurema Sagrada de Patrimônio Imaterial do Brasil. Ista é uma coisa muito importante.
Quando penso que a força de meu Reis Malunguinho já me fez ir muito longe, ele me prova que posso ir bem mais... Sobre tudo para defender o interesse de todo nosso povo. De todo nosso coletivo.
Esta é uma responsabilidade que enfrento com muito orgulho e prazer. Estou preparado para ensinar ao IPHAN Nacional tudo que se faz necessário para que consigamos este título.
Torçam por mim. Vibrem. Esta luta é nossa. Fui selecionado para tal feito devido ao trabalho que realizo a mais de 15 anos. Isso é gratificante.
Sobô Nirê Mafá!
Obrigado senhores mestres e índios de minha Jurema.
Salve a fumaça!!
Quem vai estar comigo nesta luta defendendo a tradição Xambá é Guitinho do Bongar Grupo. Vai ser lindo! Salve!!
CONVITE OFICIAL DO IPHAN
Convidamos todos a participarem do 4º encontro da Capacitação Interna para Gestão do Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, ação coordenada pelo GTIT – Grupo de Trabalho Interdepartamental para a Preservação do Patrimônio Cultural de Terreiros.
As comunicações coordenadas serão ministradas por Guitinho da Xambá da tradição Xambá e por Alexandre L’Omi L’Odò da tradição Jurema. Os palestrantes abordarão aspectos de suas respectivas tradições e sua relação com as políticas de preservação do patrimônio cultural.
A capacitação ocorrerá no dia 18 de agosto de 2015, com atividades pela manhã às 09h30 e de tarde às 14h30. A participação remota ocorrerá através do envio de questões pelo e-mail do GTIT.
Participantes da reunião de Jurema. Foto: Acervo de Alexandre L'Omi L'Odò.
Ilé Iyemojá Ògúnté - Resgatando a tradição da Jurema Sagrada de seus ancestrais
Após mais de 20 anos sem realizar o culto da Jurema Sagrada dentro do Ilé Iyemojá Ogunté, no dia 11 de Agosto de 2015 nos reunimos para reviver e reativar a força profunda da tradição da casa.
Foi um momento muito lindo e cheio de força e ciência. Os senhores mestres se fizeram presentes para retomar sua história por completo. Vivenciamos uma noite de emoção e de renovação.
Estou muito feliz de ter podido me fazer presente neste dia. Ter podido cantar na mesa e compartilhar deste saber tão grandioso, que é o saber da família materna de minha iyalorixá e meu babalorixá. Saberes de Dona Leônidas da Costa.
Estou de alma lavada. Leve e limpa. Feliz demais por dentro. Enfim a Jurema triunfou dentro da casa mais tradicional do nagô de Pernambuco. E os Orixás permitiram!!!
Esta foi só um dentre as tantas que ainda iremos fazer. Afinal o Mestre Antônio mandou. E os Caboclos confirmaram.
Parabenizo a atitude e persistência de Bárbara, que está na luta pelo fortalecimento do Ilé. Que a fumaça a proteja.
Não poderia deixar de registrar este momento aqui no meu blog. Em breve virão mais escritos sobre este processo de retomada histórica do culto da Jurema no terreiro.
Sacerdote juremeiro e do culto aos Orixás (Egbomi), é mestrando em Ciências da Religião pela UNICAP, graduado em licenciatura plena em História, pela Universidade Católica de Pernambuco - 2014.
É membro do Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa da Presidência da República, e do Conselheiro de Políticas Culturais do Recife. Milita nos campos das políticas públicas.
Tem experiência na área de educação, com ênfase em educação social, artística, musical e afro indígena teológica. Desenvolve trabalhos nas áreas de pesquisa, reconhecimento e preservação de patrimônio imaterial.
Tem publicado artigos científicos sobre temas relacionados a religiosidade da jurema sagrada, nos âmbitos de sua teologia e história. Ensina língua, história e cultura yorùbá, do coco e da Jurema sagrada. Desenvolve carreira de artistas e produz filmes/documentários.
É coordenador geral do Quilombo Cultural Malunguinho e desenvolve projetos de pesquisas com povo de terreiro.
Realizador há 10 anos do Kipupa Malunguinho (encontro nacional dos juremeiros), tem estimulado uma movimentação política de fortalecimento do Povo da Jurema entorno de sua história e religiosidade.