segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Querem nos levar ao caos teológico!

 
Juarez, integrante do QCM. Em sua fala no VI Kipupa Malunguinho sua emoção estava a flor da pele. Fé na Jurema. Foto de Laila Santana. 

Querem nos levar ao caos teológico!
Sou de uma religião complexa. Mas, as pessoas que a compõem, formam um quadro de maior complexidade que a própria religião. Portanto: Paradoxo mesmo é aceitar calado os abusos sem tornar mais complexa ainda toda situação que a circunda.

...

Ao que me parece, o formato do pensamento do povo de terreiro de Pernambuco anda meio confuso em relação a sua teologia e lógica histórica cultural. Hoje, ouvi da boca de um homem de terreiro que a tradição teológica de nossa religião é feita de individualidades e “que cada terreiro tem sua forma, seu método, sua maneira de fazer as coisas”. Isso me chocou, assumo...

Quando alguém afirma algo deste porte, ainda redundando dizendo que todo caminho leva à mesma coisa (no caso de que qualquer ritual pode ser feito da maneira que for que surtirá o mesmo efeito para o Orixá ou para as divindades e entidades da Jurema), ainda aludindo a clássica popular “todo caminho leva à Deus”, podemos identificar uma situação crítica na identidade e tradição das religiões de terreiro.

A tradição oral é sim uma “faca de dois gumes”! Isso se prova no pensamento revelado acima. Afinal, podemos mesmo fazer qualquer coisa dentro de nossos terreiros? Podemos mesmo afirmar que “eu fiz desse jeito e deu certo, então tá certo”? Ou temos uma tradição que tem uma lógica antiga que rege a liturgia e o formato sagrado de fazer as coisas, ensinada oralmente pelos nossos mais velhos?

Enfim, as religiões de terreiro são jogadas ao descaso do imaginário, viagem, entendimento livre de qualquer um?

Estes questionamentos faço por perceber que o ego individual de cada um tem feito dos mal iniciados e formados, e, esvaziados teologicamente uma máxima na recriação esvaziada da tradição.

Isso se prova na prática do Iaô-Deká, Bori de Caboclo, entre outras aberrações...

Tem muito cacique para pouco índio! São muitos maus discipulados. São muitos os que acreditam piamente que não existe limite na prática religiosa. Acreditam de fato que a religião é um jogo infantil onde qualquer coisa que dê certo por qualquer motivo, em sua concepção é o correto ou verdadeiro para seu Orixá ou entidade de Jurema.

Isso é um absurdo!

Infelizmente nossos mais velhos não se dão a estas discussões como gostaríamos, mas no fundo, todos eles reprovam essas práticas de extermínio da memória ritual do povo de terreiro, conseqüentemente de seu patrimônio imaterial. Devemos refletir mais sobre nós mesmo. Colocações e concepções como as exposta aqui para análise, são formas aprofundadas do pensamento coletivo do povo de terreiro, influenciados pelo pensamento pós moderno das religiões no ocidente capitalista que vivemos e nos enjaulamos.

Povo de terreiro acorde! Respeitem aqueles que por nós lutaram e morreram. Respeitem as tradições. Essa estória de que “as coisas são ao meu modo”, fica para a relação familiar individual de cada um, não para uma religião que tem uma teologia profunda e complexa, onde seus rituais são regidos por odús e métodos ancestrais. Acordem. Muita coisa já se deformou, temos que salvar o que resta daquilo que foi pensado para a preservação e recriação da África mítica e da terra livre indígena brasileira. Somos uma sociedade alternativa em meio ao mundo cristão americano, portanto, temos que nos colocar no lugar que foi criado por aqueles que tiveram estratégia de sobrevivência de sucesso, os nossos ancestrais negros e negras e indígenas.

Ainda, o que percebo é que as questões de política e meio social, tem interferido de forma danosa aos terreiros e suas práticas. É ruim demais ver um dito sacerdote afirmar com veemência coisas tão depreciativas e que vão de contra a toda lógica da religião de matriz africana e indígena.

Assim como sempre afirma o teólogo afro professor Jayro Pereira de Jesus: “o povo de terreiro tem fome de cidadania, portanto, é massa fácil de manobra na mão dos que querem” nos levar ao caos teológico.

Portanto, falar de minha religião, lucubrar, discutir, fomentar debates, questionar, provocar, pesquisar e ser combativo aos equívocos que por ventura venha a perceber faz parte de minha fé. Minha fé também é tornar complexo tudo que circunda nossa religião. Religião que para quem adentra com o coração, espírito e consciência, nunca desiste de salvar. Por isso postei a foto de nosso querido enviado de Malunguinho, o Juarez, nosso guia da mata. Assim como ele, minha fé também está a flor da pele.

Agô, agô, agô! Ficar calado é covardia e falta de respeito e amor por minha religião/religiosidade!
 Salve a fumaça! 
 
Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Que orixá rege o ano? Por Mãe Stella de Oxóssi


Que orixá rege o ano?

Maria Stella de Azevedo Santos
Iyalorixá de Ilê Axé Opô Afonjá
Jornal A TARDE 04/01/2012

Este é um artigo que possui objetivo esclarecedor. Tentarei tornar compreensível um assunto que surge todo princípio de ano. A imprensa faz reportagens e as pessoas indagam umas as outras ou perguntam a si mesmas sobre o orixá que influenciará o novo ano que surge. Fazem isso na tentativa de adivinhas o que é preciso ser divinado. Adivinhar é fazer conjecturas sobre um tema usando a intuição, o que todo ser humano pode fazer. Divinar, todavia, é entrar em comunicação com o sagrado, através de rituais guiados por sacerdotes. É claro que todo ser vivo, por possuir uma parcela divina, é capaz de se conectar com os deuses. Mas a utilização de oráculos, os quais fornecem informações mais precisas sobre o destino da comunidade, requer uma preparação especial e um estilo de vida que propicia à intuição inerente a todos apresentar-se de maneira muito mais clara. A intuição se transforma aqui em revelação: quando os véus que encobrem os mistérios são retirados pelos deuses, a fim de que nossa jornada aconteça de uma maneira orientada e, assim, possamos cumprir a tarefa que nos foi legada com o mínimo de percalços possível, o que torna a vida bem mais leve. 

Os leitores acostumados com os artigos que escrevo poderão estranhar a formalidade deste texto. É que “há tempo para tudo”: para contar anedotas, falar poesias, refletir sobre a vida... Esse tema pede seriedade! Faço isso porque creio ser a imprensa o meio ideal para esclarecer assuntos, que só não só melhor comentados por falta de oportunidade e conhecimento. Tendo agora esta oportunidade que me é dada pelo jornal A TARDE, não quero desperdiçá-la. Mesmo tendo eu a consciência de que nada se modifica de um dia para o outro, aproveitarei o momento para tentar fazer com que a população melhor compreenda as respostas do oráculo trazido pelos africanos para o Brasil, esperando que as sementes aqui jogadas possam um dia florescer e dar bons frutos.

A pergunta correta não é qual o orixá que rege o ano e, sim, qual o orixá que rege o ano para aquelas pessoas que cultuam as divindades e estão vinculadas à comunidade em que o jogo de búzios foi utilizado. Se isso não for bem esclarecido e, consequentemente, bem compreendido, parece que todos os sacerdotes erram em suas respostas, uma vez que uma iyalorixá diz que o orixá do ano é Iyemanjá, enquanto outra diz que é Oxum, ou um babalorixá diz que é Oxossi. Mesmo correndo o risco de o texto ficar enfadonho, insistirei em alguns pontos, a fim de elucidá-los melhor. No nosso terreiro, o Ilê Axé Opô Afonjá, o regente do ano 2012 é Xangô. A referida divindade, que se revelou no jogo feito por mim, não esta comandando o mundo inteiro, nem mesmo o Brasil ou a Bahia. Ela é o guia das pessoas que, de uma maneira ou outra (mais profunda – como é o caso dos iniciados; ou mais superficial – os devotos que freqüentam a “Casa”), estão vinculadas a mim enquanto iyalorixá, ou ao terreiro em questão.

O leitor, diante dessa explicação, poderá ficar confuso e sentir necessidade de perguntar: “E eu, que não cultuo orixá e não tenho relação com o candomblé, não serei orientado nem protegido por nenhuma divindade?” A resposta é: “Claro que sim! Por aquela que você cultua ou acredita”. Um católico, ou um protestante será guiado pelos ensinamentos de Jesus; um budista, pelas sábias orientações de Buda... Outra pergunta ainda poderá surgir: “E quanto às pessoas que não são religiosas, elas ficarão à toa?”. Não, é claro que não. Essas serão guiadas e orientadas pela natureza, que é a presença concreta do Deus abstrato. Seus instintos, protegidos por suas cabeças e corações, conduzirão suas vidas de modo que seus passos sigam sempre na direção correta. 

Que Xangô – divindade da eloquência, da estratégia, do fogo que produz o movimento necessário a todo tipo de prosperidade – possa receber, de meus filhos espirituais, cultos suficientes para que fortalecido possa torná-los cada vez mais fortes para enfrentar as intempéries que todo ano traz consigo. Obrigada, Ano Velho, pelas experiências passadas para o Ano Novo.

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Publico aqui este texto da sábia e querida Mãe Stella para poder informar mais amplamente o sentido do Odu que rege o ano de cada terreiro de candomblé. É importante podermos ter em vista que não há mesmo um regente geral para todos no ano, já que Odu é caminho individual. Bom, boa leitura e aguardo comentários!!

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Mais de 50.000 (cinquenta mil) acessos em meu blog - Salve a fumaça!

Imagem interna da tabela de visitações de meu blog. Mais de 50.000 acessos!!

Mais de 50.000 (cinquenta mil) acessos em meu blog
Salve a fumaça!!

Hoje é um dia muito feliz para mim e consequentemente para o trabalho que desenvolvo em conjunto com o Quilombo Cultural Malunguinho. O meu blog: www.alexandrelomilodo.blogspot.com alcançou mais de 50.000 (cinquenta mil) acessos. é muita gente lendo sobre Jurema Sagrada, Candomblé, cultura popular e outros assuntos. 

Acredito muito na internet como espaço de mídia alternativa e livre. Portanto, fica aqui minha comemoração por mais esta vitória na minha caminhada de sacerdote, músico, produtor e pensador.

Salve a Fumaça!!


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Entrevista na RadioCom do Rio Grande do Sul - www.radiocom.org.br


Entrevista na RadioCom do Rio Grande do Sul

Acabei de dar uma entrevista muito legal na RádioCom do Rio Grande do Sul, no programa Navegar. O apresentador Alexander fez perguntas entorno da tradição da Jurema Sagrada e da cultura popular de Pernambuco. Falamos ainda sobre o Prêmio do Registro do Patrimônio Vivo que o Mestre Galo Preto ganhou no final de 2011 e, também, sobre a Festa da Lavadeira e seus entraves jurídicos para acontecer. Ainda citei o meu querido Pai Borel de Xangô, um dos personagens e ativistas negros daquela região. Tive também um bate-papo super interessante com o pesquisador Jarbas, especialista em samba.

É muito interessante este tipo de intercâmbio entre estados. A cultura negra ou de matrizes africanas merecem maior espaço na mídia e o programa cumpriu bem a missão de levar informação sobre estas tradições à um público mais amplo. Parabéns aos seus realizadores.

Quem quiser conhecer melhor a rádio visite o site e escute ao vivo os programas, é muito boa mesmo:  

Salve a fumaça!!!


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

domingo, 22 de janeiro de 2012

A outra fase do Case-Funase - Professor Carlos Tomaz escreve sobre experiência afro pedagógica de sucesso

Professor Carlos Tomaz. Foto de Anderson Santiago.

Educação: A outra fase do Case-Funase
Carlos Tomaz - Professor da REDE AFRO LGBT 
carlinhostomaz@hotmail.com
  
Jornal Diário de Pernambuco de 21/01/2012.  
COLUNAS
 
As últimas notícias sobre a situação do Case do Cabo não agradam ao povo pernambucano, o caos instalado com as últimas ocorrências é de fazer cabelos arrepiar. Fumaça, fogo, destruição, sangue, gritos, cabeça cortada e lançada muro afora. Desespero de mães a fim de saber notícias de seus filhos ali confinados para a tal ressocialização. Os espaços de reeducação no Brasil, sejam eles para menores infratores, como é o caso da Funase, sejam os presídios pernambucanos como o Aníbal Bruno, ainda estão longe do verdadeiro ideal de Projeto Ressocializatório, isso porque para ressocializar é preciso educar com investimento em projetos civilizatórios e humanos.

Aí está o nó do problema, afinal de contas, o que é ser humano num contexto de sociedade excludente, desigual como a nossa? O case do Cabo vive hoje esse drama. A mídia tem se interessado em mostrar a desgraça, afinal isso dá ibope, mas aqui não tenho a pretensão de reforçar o que a mídia vem fazendo, mas o de tentar nesse breve artigo revelar a outra face do case, o lado positivo. Então vejamos: Tive a oportunidade de conhecer de perto a escola que funciona dentro do Case Cabo, fui convidado para no mês da Consciência Negra ministrar uma palestra para adolescentes e jovens que ali estudam. Na oportunidade conversei com alguns jovens, dentre as falas que ouvi dos mesmos, uma me chamou a atenção, disseram que quando chegaram na escola os professores perguntavam o que eram, e os meninos respondiam: “A gente é tudo bandido”. A intervenção pedagógica dos professores afirmando que ali todos eram pessoas humanas e estudantes começou fazendo a diferença e, em outro momento a mesma pergunta já não tinha a mesma resposta. Agora, com a frase elaborada numa variedade linguística que não condiz com a norma culta: respondiam: “A gente é tudo istudante”. Essa sentença revela a importância da educação e do tratamento ao menor infrator como pessoa humana e não mais como bandido. Essa diferença e essa consciência humana levada aquele universo de tanta violência garantiu que, em meio à destruição, a escola fosse poupada.


Os jovens tocaram fogo, quebraram muita coisa, até mataram, mas a escola não foi tocada, lá ainda está o banner do mês da Consciência Negra, ninguém queimou. Esse detalhe talvez não percebido por muitos que tem a função de agente socioeducativo, traz à luz que a educação é a saída para o fim da destruição da nossa juventude, e esse trabalho tem sido feito ali com uma equipe formada por professores como Danilo, Marcos, Rita sob a orientação das professoras Sandra e Mizia da GRE METRO SUL e a contribuição dos movimentos sociais de Direitos Humanos negro e LGBT. Assim pensemos num Case focado na educação, mas com uma diferença: Uma educação que valorize e respeite cada adolescente e jovem como pessoa humana. Isso não é impossível.

Confira a matéria no site do jornal:

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O professor Carlos Tomaz, coordenador da Rede Afro LGBT, professor da rede pública de ensino do Estado de Pernambuco e integrante do Quilombo Cultural Malunguinho mais uma vez publica no jornal de maior circulação e respeito de Pernambuco, o Diário.  Em seu texto, podemos ver o quanto é inprescindível a efetivação da Lei Federal 10.639/03. Temos que nos propor a interagir e invadir os espaços de ensino com esta Lei. Ela nos garante a possibilidade de entendermos quem somos e interagirmos de forma menos racista no nosso mundo ocidental. Portanto, dou minhas congratulações pessoais ao meu querido amigo por mais este trabalho de afirmação da cultura e memória do povo negro brasileiro. Vamos em frente, não podemos parar! Axé e salve a fumaça! 


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Candomblé - Paz e Fraternidade. Documentário com o sacerdote Raminho de Oxóssi




Candomblé - Paz e Fraternidade
Documentário com o sacerdote Raminho de Oxóssi

Publico aqui documentário realizado por alunos da faculdade Maurício de Nassau sobre o terrreiro de Oxóssi Ibualama e Oxum Opará, o terreiro do querido e famoso Babalorixá pernambucano da nação Jeje Nagô  e Jurema Raminho de Oxóssi.


São poucos ainda os registros audiovisuais sobre um dos maiores terreiros (em tamanho) de PE. Com este vídeo, poderemos conferir uma rara fala do sacerdote que demonstra detalhes dos rituais e das formas e fazeres tradicionais na religião.

Muito respeitado, o Tata Raminho de Oxóssi é historicamente responsável pela propagação da cultura Jeje Nagô em Pernambuco. Este fato vale apena salientar, já que ele iniciou mais de 3.000 iyawòs, juremeiros e juremeiras.

Assistam, vale a pena. A beleza é grande.


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

sábado, 14 de janeiro de 2012

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA - REPORTAGEM PARA O JORNAL FUTURA



INTOLERÂNCIA RELIGIOSA 
REPORTAGEM PARA O JORNAL FUTURA

O crime da intolerância religiosa invade a cada dia mais o Brasil. Isso é assustador e merece muita atenção das autoridades e das religiões em geral. Temos que reverter este quadro. Hoje, as religiões que mais sofrem racismo e intolerância são as religiões de matrizes africanas e indígenas como o candomblé, a Jurema Sagrada, a Umbanda, o Jarê, o Tambor de Mina, o Batuque do RS etc. 

Isto tudo tem motivo claro: o racismo sofrido por negros e negras, por índios e índias. Como essas religiões pertencem a estas matrizes etno-culturais, são exatamente elas que mais sofrem toda sorte de crimes de discriminação, e abusos provindos principalmente de adeptos das igrejas evangélicas. Esta relação entre as citadas religiões não é recíproca. O povo das religiões de matrizes africanas e indígenas não tem no princípio de seus códigos de ética e teologia a perspectiva da violência contra outras formas de fé e de experiências religiosas. Como sempre em suas falas afirma o teólogo e professor Jayro Pereira de Jesus que estas religiões tem o princípio da xenofilia, e não da xenofobia, que afasta, que entende o outro como estrangeiro. 

Nossa religião agrega, protege e entende o diverso e o diferente. Este princípio chamado de xenofilia merece total apropriação em termos de consciência religiosa por parte do povo de terreiro. A compreensão mais ampla deste conceito irá nos ajudar a enfrentar de forma mais resiliente todo este processo de crimes das religiões contra a fé do negro e do índio.

Transcrevi e destaco as falas dos entrevistados nesta válida reportagem do Jornal Futura como forma de deixar mais acessível as informações que eles projetaram:
 
Professor Teólogo afro Jayro Pereira de Jesus:

“O povo da Umbanda e do Candomblé de sertã forma, histórico e secularmente, adquiriram o que a psicologia chama hoje de resiliência – Capacidade de suportar as violências históricas. E essa violência da intolerância religiosa é mais uma, ou seja, é um povo adepto calejado pelo processo histórico da violência simbólica e material que recrudesce com a intolerância religiosa e que, se comparado com a do passado, na cabeça de cada religioso afro, essa de hoje é muito amena”.

 Sacerdote Pai André:

“As pessoas aqui te discriminam, as pessoas aqui abusam de você, falam besteira na sua porta, colocam panfleto, jogam sal na sua porta, achando que o sal vai te defender de alguma coisa, ou te livrar de alguma coisa, não sei por que, nunca tive problema nenhum com sal, a não ser na pressão (arterial). A desunião do povo do candomblé também é que está colocando e dando espaço para que essas outras religiões venham e te detonem, por que se o povo do candomblé que tem nessa cidade se unissem e mostrassem o que é a religião, mostrasse a beleza que é o candomblé, não estaríamos vivendo isso hoje em dia”.

Boa leitura e reflexão. Vamos contribuir mais para uma maior divulgação de nossas religiões de terreiro. Salve a fumaça e abaixo a intolerância religiosa já!


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomildoo@gmail.com

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Diálogo das religiões - Direito de resposta (video completo) - Uma ação de afirmação do Povo de Terreiro do Brasil



Diálogo das religiões
Direito de resposta (video completo) 
Uma ação de afirmação do Povo de Terreiro do Brasil 
Vídeo gravado para ser exibido na TV Record, como direito de resposta das religiões afro contra ataque sofrido.

Nós que fazemos parte das religiões de matrizes africanas, cientes de nosso papel na sociedade e em nosso meio religioso, devemos ficar atentos à ações como essa, que nos legitimam como cidadãos e cidadães plenos de direito. Porque leis existem para serem cumpridas e não para ocuparem lugar em arquivos obsoletos. Vivemos em um Estado "LAICO", onde eu posso exercer minha fé da forma a qual eu me sinta bem, onde minha essência seja completada através da exaltação do divino por meio de cânticos e danças, que também retomam a minha ancestralidade. O Brasil tem que entender que o respeito aos cultos afro indígenas é a mesma coisa que o respeito aos nossos ancestrais em comum. Temos que contribuir de forma ativa e consciente na eliminação completa dessa cultura racista institucionalizada no país.
Foi dado, pela Justiça Federal o direito de resposta ao Povo de Terreiro, através da ação movida pelo CEERT, INTECAB e Min. Público Federal contra a emissora de TV Record que, ao deter TEMPORARIAMENTE a concessão pública de TV, por tantas e tantas vezes discriminaram, ofenderam e deturparam (e ainda o fazem) as religiões de Matrizes Africanas e Indígenas em sua grade de programação.
Em decisão inédita do Ministério Público Federal, entidades afro-brasileiras foram autorizadas a produzir um vídeo de direito de resposta coletivo a uma reportagem da TV Record. O programa foi gravado e tornou-se público no final de 2011, mas não pode ser exibido, pois a emissora recorreu da ação e conseguiu impedimento momentâneo.
O programa DIÁLOGOS DAS RELIGIÕES de 60 minutos foi gravado para ser apresentado DENTRO da grade da referida emissora, e assim o foi. Pena que esta ação não teve tanta repercussão como gostaríamos, mas aproveito o espaço livre da internet para fazer mais popular este programa que deve ser visto e sofrer reflexões por parte de todos e todas das diversas religiões que compõem o quadro do imaginário da crença nacional. 
Este vídeo aqui postado, traz o programa na íntegra e sem cortes. Vale apena ver e ouvir as falas de pessoas de renome no meio das religiões de terreiro, como é o caso do comunicólogo e professor Muniz Sodré que nos ajuda a compreender mais amplamente a cosmovisão e teologia afro e indígena quando nos presenteia com uma percepção aprofundada sobre nossa entidade e imaginário. 
Segundo ele nos mostra, a concepção sobre as religiões de matrizes africanas pode ser muito instigante filosoficamente. Ele diz que essas religiões tem o “princípio de respeito ao poder de realização, é isso que se chama axé”. Portanto, o próprio programa foi uma manifestação da crença e fé do Povo de Terrreiro, a própria manifestação do axé...
Destaco a fala mais bem embasada teologicamente do vídeo todo, ao qual proveio da iyalorixá Sandra Epega, que nos abrilhantou e nos fez perceber a dimensão linda que é nossa religião, contribuindo para o entendimento de muitos que não enxergam por esta ótica. Segue fala transcrita na íntegra: 
“A tradição de Orixá e a Umbanda, e todos os segmentos do candomblé que cultua Orixá, Nkisi e Vodun, eles tem normas de moral, eles tem normas de comportamento e principalmente na tradição de Orixá, nós temos um imenso pilar, onde se baseia tudo que é Iwá (o caráter). Desejamos aos nossos Omotitun (crianças recém nascidas), Iwá funrè (caráter para você). E temos três importantes virtudes que vem do orun (céu). Prometemos aos nossos ancestrais que seremos alegres - Ayó (a alegria)-, por isso as nossas orações são o canto e a dança. O tempo todo nós rezamos cantando, nós rezamos dançando e nos mantemos alegres durante todo período que moramos em Ilú Àiyé (o planeta terra). A segunda virtude é Imoran Atimoiyé (o conhecimento que leva à sabedoria). Nós nos tornamos sábios aprendendo com os nossos mais velhos, dentro do respeito e da hierarquia africana. E o terceiro é Surú (a paciência), tão importante que nós chamamos – mãe paciência -, e essa mãe paciência que nos envolve e que nos faz passar pacientemente por todos os nossos problemas, porque sabemos que com o apoio dos Orixás, da nossa tradição oral, com apoio daquilo que trazemos na cabeça dos nossos mais velhos, porque não somos de tradição oral tão somente porque éramos ágrafos, somos de tradição oral porque ainda hoje somos os guardiões da palavra de Orixá e de ancestral, somos nós que guardamos Ofó (a palavra mágica de Orixá e ancestral). E com a paciência que nós temos para guardar tudo isso, nós sabemos que podemos passar por tudo, mas seremos vencedores. E nós sabemos também que com a nossa paciência podemos dizer claramente: Aláfia Asegún Isoro Àiyé (que a paz prevaleça sobre a terra). Axé, axé, axé!

Espero que aos amigos e amigas que passarem por aqui fique a consciência de que devemos nos prestar mais à divulgação de nossa religião, sempre nos afirmando pela positividade e expandindo conhecimentos para os que por falta deles ou por maldade mesmo nos discriminam e nos submetem a reação. Contudo, paz e paciência, uma de nossas virtudes para todas e todos. Axé e salve a fumaça. vamos discutir...


Alexandre L'Omi L'Odò
Iyawò e Juremeiro
alexandrelomilodo@gmail.com

Polêmica entorno da venda do acarajé na Bahia por evangélicos que insistem descaracterizar a tradição



Polêmica entorno da venda do acarajé na Bahia por evangélicos que insistem descaracterizar a tradição

Acredito que esta discussão deve ser levada muito a sério! O povo de terreiro não deve se deixar levar por mais este crime contra a identidade do povo afro descendente, sobre tudo o da Bahia. O Acarajé, especiaria maravilhosa que o povo negro preservou e tornou popular no Brasil todo, além de ser a comida por excelência do Orixá Oyá, é um alimento sagrado sim. Independente de onde e como esteja sendo vendido é sagrado, pertence ao sagrado de terreiro e ao imaginário do negro neste país. Tombado como patrimônio imaterial, o Acarajé, merece ser preservado na sua fórmula original de preparo e na forma de como é vendido tradicionalmente pelas baianas de acarajé em diversas partes do país.

Esta investida das Igrejas evangélicas é mais uma forma de agredir o povo de terreiro com intolerância, desrespeito e sacrilégio contra um bem teológico de nosso povo. Não podemos permitir isso! Quem quiser vender Acarajé, que venda da forma original. Com roupa de baiana e com tempero afro, com muito dendê, caruru, vatapá e pimenta...

Achar que famílias por sustentarem seus filhos vendendo este alimento de forma alheatória é bom,  merece uma discussão profunda sobre racismo e modos de transformação da cultura... As igrejas tentam de todas as formas nos repelir, nos omitir, nos satanizar. Isso é uma forma oficial de crime contra o patrimônio imaterial e contra a fé do povo de candomblé. “Acarajé pentecostal”, por favor, né... Isso é absurdo! Não devemos nos deixar levar pelo discurso da democracia racial em um país que só os negros e índios são condenados a miséria e a todas as formas de crimes contra a humanidade e cidadania.

A Regina Cazé falou besteira sim em defender que se pode vender Acarajé de toda forma. Achei muito irresponsável da parte dela, pois como uma apresentadora que está sendo ouvida e vista por todo Brasil, ela deveria ficar neutra ou ser a favor mesmo das baianas vestidas, pois é claro que não devemos apoiar tamanha loucura contra a tradição negra, sobre tudo por ser o Acarajé, um bem tombado.

Imaginem dizer que seria interessante redecorar e reconstruir de toda forma a Igreja da Sé em SP, só por que deveríamos redecorar as paredes para fazer famílias ganharem um dinheirinho a mais com tal mudança na arquitetura e na arte empregada em tudo dentro deste templo, imaginou?

Pois é, patrimônio é aquilo que resguarda em si memória histórica, identidade, tradição e valor diverso para futuras gerações. Assim é o Acarajé, um patrimônio de um povo, imaterial, mas que tem o mesmo valor que o bem material com Igrejas, obras de arte, documentos históricos etc. É CRIME DESTRUIR O PATRIMÔNIO, como prevê a lei deste país.

Chega de crimes contra o povo de terreiro – Abaixo à intolerância religiosa – Abaixo aos neopentecostais e outros evangélicos que cometem crimes de intolerância – ABAIXO A TODA FORMA DE DISCRIMINAçÃO!

Oyá kararò bi otá!

E apra ver a mal intenção dos evangélicos de forma bem clara, observem alguns comentários feitos no youtube onde o vídeo está na internet:

1- @OSUNBII TÁ VENDO, VCS MESMO SABEM Q O Q COMEM É COMIDA DE SATANÁS,EU TAMBÉM SOU CONTRA OS EVANGÉLICOS VENDEREM COMIDA CONSAGRADA A DEMÔNIOS,PORÉM TODO MUNDO É LIVRE PRA GANHAR O PÃO DE CADA DIA D FORMA HONESTA, E NISSO ELA ESTÁ NO SEU DIREITO, AFINAL ELA NÃO CONSAGRA AO DIABO ANTES DE SAIR VENDER, CONSAGRA AO SENHOR JESUS CRISTO, POR ISSO VENDE BEM E DEUS A ABENÇOA, E QUEM TEM Q SE CONVERTER SÃO VCS,FEITICEIROS, SE NÃO VÃO QUEIMAR NO INFERNO ANTES DO Q IMAGINAM, MAS NUNCA ESQUEÇAM:JESUS AMA VCS - @joaomarinhosp

2- PATRIMONIO MATERIAL!!!! ESSA É BOAAAA  KKKKKK!
ONDE O SERVO DE DEUS CHEGA O CAPETA NÃO AGUENTA!!!!
gutierre39

3- o acarajé e uma porcaria assim como toda a comida baiana, assim como o candomble, umbanda tudo e uma maquiagem do diabo pra enganar as pessoas de que nao fazem nada
Jesus disse EU SOU O caminho a verdade e a vida
portabetel

E mais, vejam esse vídeo, é muito legal, fala dos evangélicos que adoram condenar, vale a pena ouvir: 



Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Protesto a favor da Anulação do Aumento de 62% da Remuneração dos Vereadores da Câmara Municipal do Recife

Protesto a favor da Anulação do Aumento de 62% da Remuneração dos Vereadores da Câmara Municipal do Recife

O Diretório Acadêmico Demócrito de Souza Filho - DADSF - Gestão Contestação: Sonhos Não Envelhecem, entidade representativa dos estudantes da Faculdade de Direito do Recife - FDR – UFPE, convoca todos os estudantes, grupos políticos e de extensão, entidades da sociedade civil organizada e todos aqueles que compartilhem da mesma indignação a participarem do Protesto pela Anulação do Aumento de 62% da Remuneração dos Vereadores da Câmara Municipal do Recife, a ser realizado no dia 01 de fevereiro de 2012 (a confirmar), data da primeira sessão ordinária da Câmara neste ano.

A partir desta iniciativa, o DADSF, afirmando o papel de grupo de pressão que lhe é próprio perante a sociedade civil, pretende expressar o sentimento de repúdio, comum a todo cidadão recifense, ao abusivo aumento salarial aprovado pelos vereadores.

Apesar de o ato haver sido conduzido dentro da legalidade, deve-se levar em conta que o aumento absurdo não se coaduna com os princípios norteadores da administração pública, inclusive por um assunto tão importante ter sido votado apenas no apagar das luzes do recesso legislativo, na qualidade de matéria extra pauta, numa clara tentativa de impedir repercussões e manifestações contrárias ao ato. Tal atitude só aumenta o anseio de afirmar abertamente o sentimento de indignação que acomete a população desta cidade. Faz-se necessário declarar o fracasso dos legisladores municipais neste intento.

A SUA PARTICIPAÇÃO É IMPORTANTÍSSIMA. Cada rosto pintado, cada braço erguendo cartazes e cada voz gritando em repúdio fará a diferença nesse protesto, seja na repercussão do ato, seja na consciência dos nossos representantes. Vamos mostrar que, de fato, “o povo unido jamais será vencido”.

Diretório Acadêmico Demócrito de Souza Filho - DADSF
Gestão Contestação - Sonhos Não Envelhecem

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Assine o abaixo-assinado pela anulação do aumento de 62% da remuneração dos vereadores de Recife!

http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N18608


Programação do evento:

9h - Concentração na Faculdade de Direito do Recife, localizada defronte à Câmara Municipal, para confecção dos cartazes e materiais para o protesto, além de reunião para acertarmos os últimos detalhes do protesto.

12:30h - Pausa para almoço

14:00h - Início do protesto


Vamos lutar contra este abuso!

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

sábado, 7 de janeiro de 2012

Festa para Malunguinho abrindo o ano de 2012 do QCM.

Boa noite a todas e todos. Venho por meio desta nota convidá-los para a grande festividade em comemoração ao Rei Malunguinho. Será a 38° festa para esta grande entidade no terreiro de Dona Dora, a Casa Mensageiros da Fé, terreiro tradicional de Jurema e candomblé do Jordão Baixo no Recife. Esta celebração marca a abertura oficial do calendrio anual de atividades do Quilombo Cultural Malunguinho (QCM) em 2012. Na ocasião será inaugurada a nova casa de Malunguinho, espaço dedicado ao seu rgande cultuador o Juremeiro João Folha. Vai ser um grande evento com uma sambada de coco ao término dos rituais.

Compareçam!! Serão todas e todos bem vindos!!

Contatos para chegar no local: 8887-1496 / 9428-4898

Serviço:
Festa de Jurema para o Rei Malunguinho (com roda de coco ao final)
Data: 08/01/2012
Local: Jordão Baixo/Recife. A forma de chegar lá é pegar a Rua Rio Xingú no Ibura e descer do ônibus logo após a curva. Entra-se na rua a esquerda onde a curva acaba e segue em frente até uma Igreja toda Azul, entra na rua a esquerda e já está no terreiro de DOna DOra. Vê-se logo um Iroco frondozo dentro de seus muros... Dúvidas nos liguem.


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Como mudar oficialmente de nome, usando uma justificativa afro-indígena religiosa?

Alexandre L'Omi L'Odò. Tempos de iyawò. Foto de Aloísio Moreira. 2004.

Como mudar oficialmente de nome, usando uma justificativa afro-indígena religiosa?

Atendendo ao pedido do Povo de Terreiro, que nas redes sociais me solicitaram informações de como mudar de nome na justiça, escrevi este breve texto para socializar aos interessados e interessadas, a metodologia que usei para mudar de nome usando uma inédita justificativa religiosa afro indígena. Este breve artigo tem como objetivo orientar todas e todos de como se dá o processo oficial de troca de nome por causa da Jurema Sagrada, Batuque, Tambor de Mina, Jarê, Candomblé, Umbanda, enfim, as religiões de matrizes africanas e indígenas do Brasil.

A primeira etapa a ser cumprida em uma iniciativa de troca oficial de nome é identificar que, o nome ou palavra, africano ou indígena, que está ligado à pessoa como apelido ou até mesmo nome sacerdotal (dijina ou orunkó), é legítimo na identificação cotidiana do indivíduo em seu meio religioso. Eu mesmo, desde muito cedo (13 anos de idade) sempre fui chamado de L’Omi, ou Alexandre L’Omi L’Odò, nome artístico e sacerdotal que me acompanha até hoje. Sou identificado em todos os lugares com este nome, e por isso, assim como o apelido Lula, do nosso ex-presidente, teve subsídios legais que o ampararam na troca definitiva ou acréscimo de nome no registro de nascimento, eu me senti incitado a trocar o meu nome por ter a mesma legitimidade e condições de exigir este meu direito.

No caso do nome sacerdotal, a pessoa deve estar ligada obviamente a algum terreiro e ter um histórico que possa ser comprovado com fotos, artigos escritos, teses ou livros publicados, sites ou blogs, documentos de eventos ou crachás de conferências com o nome/”apelido” registrado nestes materiais. Ainda, para a justificativa da petição ao juizado específico (vara de família – no meu caso aqui em Olinda/PE) deve-se ter um embasado argumento que legitime o pedido ao juiz ou juíza. Este argumento deve ser escrito em formato de texto, com amplo contexto de informações afro indígenas educacionais, levando em conta, que devemos pensar que as pessoas que pegarão no processo, não entendem nada de nossa religião, então, tudo deve ser minuciosamente explicado – palavras, termos, etc. tudo deve ser cuidadosamente “ensinado”, inclusive com tradução da língua originária (yorùbá ou kimbundo etc.), para facilitar o entendimento do que você precisa expressar para embasar seu argumento para que o juiz ou juíza possa não ter dúvida alguma sobre o que você está falando e expressando.

Deve-se conseguir um advogado ou advogada competente e que entenda sua demanda sem preconceitos ou racismos. Pois um advogado que não entenda nossas questões religiosas pode escrever uma petição errada, com fundamentos e justificativas que não contemplem a intenção real do pedido. É bom lembrar que o racismo institucional é forte e presente em todos os lugares do país, portanto, vai ser fácil encontrar advogados com intenções de “facilitar” a forma de como pedir ao juiz a troca de nome, e isso pode deturpar toda intenção da proposta colocando-a como mera justificativa de apelido e não de nome sacerdotal. Muitos advogados(as) e juízes(as) não querem saber destes casos e vão dificultar o processo, ou por “falta de entendimento” da petição, justificando que apelido é apelido e nome sacerdotal (social) é outra coisa..., ou dizendo que “esse negócio de macumba não é legitimo”.

Comigo o processo teve suas complicações, mas graças à advogada Greyce Pires, que é ligada ao Quilombo Cultural Malunguinho, a mesma que deu entrada no processo com uma petição escrita a duas mãos (eu e ela) tendo no texto informações corretas e bem embasadas, facilitou, de certa forma, o processo, que andou normalmente na justiça.

Após petição pronta, com anexo se possível, apresentando documentos diversos que comprovem que você é chamado efetivamente pelo nome ao qual designou na petição, o advogado(a) responsável irá dar entrada na vara ao determinada para este tipo de processo. Como falei antes, aqui no Fórum de Olinda/PE, é a vara de família, a responsável por cuidar destes casos. Em outros locais podem ser outras varas. Cada localidade tem um tipo específico de relação com este tipo de caso, embora na maioria das instituições seja mesmo a vara de família responsável por este tipo de questão.

Depois disso, deve-se aguardar o despacho (intimação) da juíza ou juiz responsável que irá solicitar no prazo de 30 dias que o requerente do caso possa juntar ao processo (criar um anexo a mais) uma série de documentações que irá comprovar se o requerente está em dias com a justiça e com outras instâncias do Estado, do município e do país.

Segue lista completa de documentos que me foram solicitados pelo Juiz:

1.    Certidão de Antecedentes Criminais das comarcas de quatro municípios (incluindo o local de moradia);
2.    Certidão de Antecedentes Criminais da Justiça Federal, eleitoral e Militar da União e estadual;
3.    Certidão Negativa de débitos fiscais perante a fazenda pública da União, do Estado e de mais quatro municípios (incluindo o local de moradia);
4.    Certidão Negativa de Protestos de Títulos dos Cartórios de Protestos de títulos e documentos das comarcas de quatro municípios (incluindo o local de moradia).

Após a junção de toda essa documentação, o requerente deve entregar através de seu advogado o anexo ao juiz. Vale apena salientar que o processo de junção de toda essa documentação é muitíssimo cansativo e nos põe à prova. Eu mesmo pensei em desistir, pois correr atrás de tudo isso me cansou demais. O deslocamento para os municípios vizinhos, a demora nas entregas dos documentos solicitados e a falta de compromisso dos órgãos emissores destas documentações é deprimente. Contudo, venci esta etapa decisiva com sucesso.

Em seguida, todo este processo é encaminhado internamente pelo juiz para o MP – Ministério Público, que irá averiguar se toda a documentação está correta e em dias com os prazos.  Depois desta avaliação, o MP retorna a documentação ao juiz que irá dar a sentença em data pré-marcada e avisada ao advogado e ao requerente.

Lembro que a mudança de nome é um direito constituído de todos os cidadãos e cidadãs, portanto, o juiz é obrigado a dar sentença favorável aos casos que se fizerem totalmente legais e comprovados.

Acredito que em fevereiro de 2012 terei a glória de ter meu nome modificado em honra ao meu Orixá – Oxum, dona da minha cabeça e divindade ao qual sou entregue totalmente. Este meu ato está ligado ao resgate de memória e identidade de meus antepassados negros e indígenas. À minha bisavó Adélia de Iyemojá Sesú, ao meu avô Silvino Paulo dos Santos Filho (negro de Cabrobó – tribo Truká) e a todos que lutaram para que eu hoje estivesse aqui relatando esta história e ação afirmativa. Quero dar um nome africano ou indígena aos meus filhos e filhas no futuro, para isso, desde já mudei meu nome para que eles possam naturalmente ter em seus registros de nascimento o nome L’Omi L’Odò (das águas do rio), para orgulharem-se da luta de seus antepassados africanos.

Se eu conseguir vitória neste caso, serei a primeira pessoa a trocar de nome dentro destes termos, de nossas religiões de terreiro. Isso será um orgulho para mim e para as pessoas que contribuíram com o processo. Além disso, será uma vitória de todos nós, filhos e filhas das divindades e entidades que nos dão força e alegria de viver e, que habitam os terreiros de todo Brasil.

Agradeço a provocação do irmão Alexandre de Oxalá, coordenador do site Rede Afrobrasileira Sociocultural - http://redeafrobrasileira.com.br, que também me provocou para escrever este texto.

Salve a Jurema Sagrada, Axé, Nguzo.
Oré Iyéiyé ooooo Òsún!
Sobô Nirê Malunguinho Reis Malunguinho!

Alexandre L’Omi L’Odò
Iyawò e Juremeiro.
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

É tempo de ofertar flores a Iemanjá. Entenda a simbologia desse ritual

Entrega de flores para Iemanjá. Foto de Helder Tavares.

É tempo de ofertar flores a Iemanjá. Entenda a simbologia desse ritual

Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
30/12/2011 | 12h37 | Réveillon
Por Marcionila Teixiera

Idéia do desconhecido e do infinito que as águas do oceano transmitem convida para uma reflexão sobre a vida e a vontade de agradar divindades por um ano de alegrias

Elas exalam aromas, representam um ciclo vital e, por isso, são símbolo de transformação. Em momentos de recomeço e balanço pessoal, como agora, as flores também ganham outros espaços, expandem seus significados. O sincretismo religioso se fortalece em dezembro e as pessoas lançam mão de um gesto que ganha cada vez mais adeptos com o passar dos anos no país. Entregar flores às águas do mar e, ao mesmo tempo, alimentar-se de pensamentos positivos para o ano que se aproxima é um ato que vai além dos rituais das religiões afro-brasileiras, que cultuam a divindade Iemanjá, considerada a rainha do mar. Agnósticos e mesmo seguidores de outras crenças também usam o simbolismo das flores e do mar como inspiração para alimentar os desejos de colher bons frutos ao longo dos próximos 12 meses.

"Hábito de entregar oferendas à rainha do mar 
no fim do ano está mais presente do que nunca"

Ninguém duvida que as flores têm o poder de transformar um dia comum em uma data especial; um ambiente simples em um local aconchegante. No candomblé e na jurema, elas são muito mais. “As flores têm importância para nós porque representam a conclusão de um ciclo vital da planta, pois são elas que dão início aos frutos. Ela transborda energia de transformação”, comenta Alexandre L’Omi L’Odò, juremeiro. A simbologia é tamanha na religião que seus seguidores costumam usar banho de flores como forma de recarregar as energias. “As divindades também apreciam as flores como presentes, principalmente Iemanjá e Oxum, que reina sobre as águas doces”, completa L’Omi L’Odò.

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"Há quem leve perfumes para o mar para presentear Iemanjá.
Também é importante pular sete ondas"
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Rosas ou cravos brancos são usadas para agradecer a Iemanjá o ano que passou, tenha sido ele positivo ou não, e com isso descarregar as energias negativas, abastecer-se de desejos de paz, amor, prosperidade. Não importa o dia, mas se for nos horários onde o sol está menos presente e no momento de romper o ano, melhor. “Há quem leve perfumes para o mar para presentear Iemanjá. Também é importante pular sete ondas”, ensina a yalorixá Valda de Sango Ayra.

Sagrado - Para quem tem fé, dezembro é o mês de agradecer, seja a quem for, seja a o que for, buscando o mar como inspiração e as flores como instrumento para se chegar ao sagrado. “Nessa época do ano, é como se todo mundo virasse adepto do candomblé. Prova disso é que as pessoas usam roupas brancas e ninguém tem vergonha de jogar flores ao mar, por exemplo”, observa a yalorixá Valda.

O que vale é a intenção que contagia cada um. “O mar representa o infinito. Todos gostam de reverenciá-lo, seja porque veem Jesus nesse ambiente ou qualquer outra divindade. Isso é o que importa”, destaca L’Omi L’Odó.

+ Saiba Mais
Ritual Sagrado

Cravos e rosas brancas podem ser presenteados a Iemanjá, a “rainha do mar”. Mas é importante que a pessoa entregue as flores nas ondas, como um agrado, e não as jogue

No momento da entrega, a pessoa deve se esvaziar dos pensamentos cotidianos e chamar vibrações positivas, como desejo de saúde e amor

A entrega das flores pode ser feita em horário de sol ameno, como 6h ou 17h. Fazer o
ritual no momento de romper o ano também é muito representativo, segundo os seguidores de religiões afro, já que a homenagem também vai para a divindade que regerá o ano que acaba de chegar

Derramar perfume - como Seiva de Alfazema - nas águas do mar também agrada Iemanjá. Para completar, pode-se saltar sete ondas

Outra dica é usar roupa branca ou azul clara. No caso das mulheres, saia; no caso dos homens, calça

Olokun é outra divindade do candomblé agraciada pelas flores jogadas ao mar

Para os que preferem presentear Oxum, basta jogar flores e rosas amarelas nas águas do rio e seguir o mesmo ritual dedicado a Iemanjá
Fonte: 
Alexandre L’Omi L’Odò (juremeiro)
e yalorixá Valda de Sango Ayra
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Publico aqui texto integral da matéria do Jornal Diário de Pernambuco de 30 de dezembro de 2011. Tive o prazer de contribuir com informações sobre a compreenção teológica do ato da entrega das flores para Iemanjá. Também pude revelar parte essencial da importância simbólica e metafísica das flores nos rituais de Jurema e candomblé e outras contribuições no tocante aos rituais. Salve Iyemojá, especialmente Ògúnté, donas dos mares de Pernambuco. Axé e Mojubá gbogbo agbá mi!! 
Mesmo ainda triste com a perca de minha "avó de santo" Marlene de Oxum Ajangurá, cujo o enterro e ritual de entrega do corpo foi realizado hoje (30/12/2011), desejo a todas e todos um feliz 2012 com axé e muita fumaça de nossa Jurema Sagrada! Sobô Nirê! 

Oré iyéiyé ooooo Òsún Ajangurá!!
Àsèsè o ku Agbà o! 
(Axexê, eu venero e saúdo os mais Antigos, oh!) 


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Quilombo Cultural Malunguinho

Quilombo Cultural Malunguinho
Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!