quarta-feira, 28 de março de 2018

A IV CONEPIR-PE - Conferência de Promoção de Igualdade Racial de Pernambuco e a revelação do Racismo institucional do Estado

Delegadas e delegados eleitos da IV Conepir-PE. Foto: Acervo de Alexandre L'Omi L'Odò.

A IV CONEPIR-PE - Conferência de Promoção de Igualdade Racial de Pernambuco e a revelação do Racismo institucional do Estado

Infelizmente tenho que escrever esse texto. Gostaria de ter apenas o que comemorar em relação à discussão de Promoção de Igualdade Racial em Pernambuco, mas, não tenho como omitir minha crítica neste momento, que precisamos refletir e nos fortalecer cada vez mais, para combater o racismo e a intolerância.

Este não será um textão... Mas nele, constará algumas visões minhas, sobre a Conferência e a despriorização da pauta racial do Governo do Estado. Quero que fique enegrecido, que esse texto é uma crítica ao Estado e ao seu racismo institucional, não às pessoas que realizaram a conferência, pois compreendo, que mesmo com todas as dificuldades, esses funcionários, tiveram muito boa vontade e lutaram para fazer o melhor, mesmo não conseguindo.

No último dia 27 de Março, uma quarta-feira, de 2018, fui como delegado eleito ao Centro de Formação e Lazer do SINDSPREV, que embora seja um local muito adequado para atividades como uma conferência, localiza-se em uma área de acesso difícil, devido sua distancia. Este fato do acesso ruim, já pode ser aqui, um dos primeiros elementos para desenvolvermos uma discussão sobre como dificultar a chegada dos povos tradicionais e dos movimentos ao local, tendo em vista, que não foram disponibilizados transportes para (por exemplo), pegar pessoas no Centro do Recife, levar ao local do evento, e depois levar de volta ao Centro... como forma de facilitar o acesso. Todas as pessoas que foram, gastaram de seu próprio bolso o recurso para pagar o taxi, uber, ou até mesmo ônibus. A questão do acesso, aos delegados e delegadas, é o mínimo que se deve orçar, quando se trata de uma conferência estadual.

Sabemos que uma conferência, é uma instância da democracia, para a sociedade civil e o governo, debaterem e pautarem questões prioritárias para o desenvolvimento do tema central dos debates. “Conferência, é para conferirmos”, e ampliarmos os avanços das políticas públicas. Um documento geral de uma conferência, tem a função de servir como norteador central para a efetivação de políticas públicas, portanto, sendo assim, não valorizar e garantir o debate coletivo em uma instância dessas, é matar na raiz seu objetivo geral e central. Assim, o Estado, matou na raiz o sentido da Conferência, pois, ela foi realizada em apenas um dia.

Um dia! Um dia não dá pra nada! A dinâmica do encontro foi muito ruim e prejudicou profundamente o desenvolvimento dos debates. Muitos e muitas, falaram por uma boca só: “o que estamos fazendo aqui, senão sendo-nos feitos de palhaços?!”. Essa foi a impressão geral... O que estávamos fazendo ali? Essa foi a face mais racista da Conferência de Promoção de Igualdade Racial do Estado de Pernambuco. A não priorização dos debates, como se não tivessem importância nenhuma, ou como se nós, delegados e delegadas não tivéssemos massa crítica para entender tudo o que estava acontecendo ali, foi a questão mais evidente para criticarmos e nos rebelarmos contra esse processo que, a meu ver, não nos deu condições de considerarmos representativo ou digno de respeito, afinal, nós que fomos desrespeitados.

Uma conferência, que tinha mais de 4 eixos temáticos para serem debatidos separadamente, propostas para serem aprovadas e ampliadas, selecionadas e criticadas... Debates complexos coletivos a serem feitos, além de no final haver a plenária geral para todas e todos aprovarem as propostas de cada eixo temático... Além da eleição dos delegados e delegadas para a Conferência Nacional... Isso tudo, foi impossível ser feito em um único dia. Aliás, foi feito! Feito da pior forma possível, sem nenhuma sensibilização, sem nenhuma respeito às discussões e as pessoas. Foi feito na tora...

Humanamente é impossível! Além dos debates, tiveram mesas de abertura, falas longas... Leitura e aprovação do regimento da conferência e ainda ao final leitura das moções... Muita coisa! Muita coisa jogada de qualquer forma, para ser feita em apenas um único dia... Isso é racismo institucional – O estado de Pernambuco não respeita a discussão racial de forma nenhuma. Nem conseguem fingir direito... Pelo menos fazendo uma coisa com mais respeito... Fizeram e jogaram em nossa cara seu racismo em forma de ausência de recurso e atenção.

Nas circunstâncias apresentadas acima, seria muito melhor não termos feito conferência. Conferência é uma coisa séria e importante, e não um lixo, do qual fomos todos jogados dentro para sermos passados por um rolo compressor que tem como objetivo principal, calar o debate racial em Pernambuco! Compactuar e calar perante a este absurdo, seria ser covarde com nossos ancestrais, pois eles, jamais permitiriam que tudo isso acontecesse, sem haver reação imediata contra os herdeiros da Casa Grande.

Fiquei até o final para ver tudo... Saí de lá mais de oito horas da noite, cansado e pessimista. Meus amigos e amigas de movimento, também expressaram o mesmo sentimento. Infelizmente tivemos que estar ali até o final para vermos com nossos próprios olhos, o quanto o Estado foi racista! Essa conferência, jamais poderá constar no currículo do governador em sua campanha eleitoral, pois sabemos que ela foi feita nas coxas, exatamente para servir como elemento para que esse governo que apoiou o Golpe, diga que apóia a discussão racial! Temos que dizer coletivamente que É MENTIRA! QUE O GOVERNO DE PERNAMBUCO É RACISTA E NÃO NOS REPRESENTA!

Não saí delegado e nem concorri a vaga. Compactuo com o pensamento de meus irmãos e irmãs de Salvador, que não realizaram conferencia por terem a posição política de não dialogar a nível federal com o governo golpista. GOLPE É GOLPE! E estamos em um Estado de exceção. Nunca devemos perder a consciência disso.

Poderia ainda falar que o almoço foi insuficiente, que não teve jantar, que houve erro na condução da conferência etc. Mas não escreverei mais, acredito que não há muito o que falar, após constatar, que a discussão, que é o essencial de uma conferência, foi vilipendiada, prejudicada e tornada inviável, como forma de nos impedir de progredir.

Lamento. Estou triste. Rogo que possamos nos fortalecer mais para não aceitarmos mais esse destrato com nossas pautas políticas. Não podemos brigar entre nós. Não podemos fazer o jogo dos senhores e senhoras da Casa Grande. Temos que eleger nossos próprios representantes para que essa discussão seja feita desde dentro do Estado, com pessoas (não qualquer pessoa) nossas, que possam nos representar e nos fortalecer na luta contra o racismo institucional.

Alexandre L’Omi L’Odò
Delegado na Conferência Estadual – IV CONEPIR-PE
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomiloso@gmail.com

sábado, 3 de março de 2018

Povo de Terreiro de Pernambuco diz Fora Michele Collins no MPPE

Várias instituições foram no último dia 02/03 protestar contra os crimes de racsimo e intolerância religiosa cometidos por Michele Collins, em frente ao MPPE. Foto: Acervo Casa das Matas do Reis Malunguinho.

Povo de Terreiro de Pernambuco diz Fora Michele Collins no MPPE

Quero aqui deixar claro para o Povo de Terreiro de Pernambuco, que o histórico protesto ocorrido ontem, em Frente ao Ministério Público do Estado, para defender a honra de nossas divindades, e em prol da luta contra o racismo e intolerância religiosa, gritando abertamente #ForaMicheleCollins, foi organizado pelas seguintes instituições:

1 - Rede das Mulheres de Terreiro de Pernambuco;

2 - Ilé Àse Orisanla Talabi;

3 - Quilombo Cultural Malunguinho;

4 - Articulação das Advogadas Negras e de Terreiro de Pernambuco;

5 - Terreiro Xambá;

6 – Tenda de Umbanda Caboclo Flecheiro;

7 - E, pessoas e outros terreiros como Tiago Nago, Professora Denise Botelho, Professora Ceiça Axé, etc.

Assim sendo, continuaremos com esta luta contra todo e qualquer tipo de absurdo que ocorra contra o Povo de Terreiro. CHEGA de passividade e pactos com o Governo e com o racismo. Nosso Povo precisa avançar e não ficar preso à inexistentes representações. Nosso grito de luta não ser a calado pelos capitães do mato que rastejam perante o Estado! Somos livres e autônomos, ninguém poderá NOS CONTROLAR, como ficamos sabendo ontem... Quando nos foi relatado que pessoas de Terreiro, por interesses espúrios, não queriam que este ato acontecesse.

Vamos em Frente com a força de Iemanjá, todos os orixás, de Malunguinho e a Jurema Sagrada, e, da Umbanda.

Queremos sim a condenação por crime de racismo, da vereadora Michele Collins. Ela cometeu um ato imperdoável. Que fique claro, que se houver alguns dos nossos que querem calar perante a este absurdo, COMO VIMOS ONTEM... A AUSÊNCIA DE DETERMINADAS PESSOAS QUE SE DIZEM LUTAR PELO POVO DE TERREIRO, PROVA QUE NÃO HÁ DE FATO RESPEITO À LUTA, MAS SIM PACTO COM OS RACISTAS!

Sigamos em Frente na luta por nosso coletivo. Só na hora da guerra, é que sabemos quem é quem!

#ForaMicheleCollins!!!!

Alexandre L’Omi L’Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

sexta-feira, 2 de março de 2018

Depoimento no MPPE da vereadora Michele Collins, foi marcado por protestos do Povo de Terreiro de Pernambuco

Povo de Terreiro unido contra o racismo em frente ao Ministério Público de Pernambuco. O grito coletivo foi contra a vereadora racista do Recife, Michele Collins. Foto: Acervo Casa das Matas do Reis Malunguinho.

Depoimento no MPPE da vereadora Michele Collins, foi marcado por protestos do Povo de Terreiro de Pernambuco

O Povo de Terreiro de Pernambuco, no último dia 02/03, mostrou de fato como se faz movimento social. Protestamos pacificamente contra o racismo e a intolerância religiosa em frente ao MPPE - Ministério Público de Pernambuco, dizendo coletivamente #ForaMicheleCollins.

No dia de seu depoimento ao Ministério Público, para esclarecer sobre os crimes de racismo, incitação ao ódio e intolerância religiosa, que cometeu contra o Povo de Terreiro, a vereadora foi recebida com um organizado protesto dos terreiros. Ela se acovardou e não passou entre os grupos que reivindicavam respeito à Iemanjá. Contudo, os sacerdotes e sacerdotisas presentes firmaram o ponto e gritaram Fora Racista Collins!

O grupo de quatro advogadas negras, articuladas pelo nosso movimento em prol do povo de terreiro, deram um show de organização e nos representaram com forte veemência, na oitiva da vereadora. Houveram alguns entraves, como o temporário bloqueio da entrada de nossas advogadas na hora do depoimento de Michele, contudo, ao final, nossas representantes foram recebidas pelo promotor Westei Conde, para um diálogo sobre direitos humanos e a luta contra o racismo.

O processo segue, tendo como próximo passo, a oitiva dos terreiros pelo Ministério Público, no dia 22 de Março, às 10h.

Estamos orgulhosos do dia de hoje. Queremos deixar escurecido que queremos justiça e iremos até o fim nessa luta coletiva!

O POVO DE TERREIRO NÃO QUER SER REPRESENTADO POR QUEM NÃO NOS REPRESENTA. QUE ESTE RECADO FIQUE BEM DADO AOS CAPITÃES DO MATO! Pernambuco, hoje vive um difícil momento para o Povo de Terreiro. Para além dos permanentes crimes de racismo e intolerância que sofremos, ainda temos que lidar com o oportunismo de pessoas de dentro de nossas tradições que assumem cargos políticos e querem manipular os terreiros em favor do Estado. Mas a máscara já caiu há muito tempo!

COMPARTILHEM Boa notícia de nosso povo de terreiro!

Alexandre L’Omi L’Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

quinta-feira, 1 de março de 2018

Fora Michele Collins! Alexandre L'Omi L'Odò faz apelo público em defesa do Povo de Terreiro



Fora Michele Collins! Alexandre L'Omi L'Odò faz apelo público em defesa do Povo de Terreiro

#ForaMicheleCollins!

Vídeo denúncia e de apelo à justiça para que sejam cumpridas as leis contra o racismo e a intolerância religiosa.

Nós, Povo de Terreiro, fomos profundamente violentados pela vereadora do Recife, Michele Collins, que em um ato coletivo de racismo, realizou um ato, dia 3 de fevereiro, na beira mar, para "quebrar a maldição de Iemanjá sobre a Terra". Este crime, ficou explícito e público a partir de uma publicação em seu facebook, onde orgulhosamente ela para mostrar sua maligna ousadia, perante os adeptos da fé intolerante, violenta e desrespeitosa, escreveu e publicou uma fotografia deste ato.

Nós, do Quilombo Cultural Malunguinho, hermanados com todos os movimentos de luta do Povo de Terreiro e dos direitos humanos, dizemos publicamente #ForacheleCollins

Esse crime não pode ficar impune! Queremos a criminalização pela lei destes atos de racismo, intolerância religiosa e incitação ao ódio e à xenofobia.
Não queremos as desculpas dela! Ela retirou a postagem do ar e em matérias de jornal falou que escreveu de forma equivocada... MENTIRA! Sabemos que todos os dias dentro das quatro paredes das "igrejas evangélicas", é ensinado o ódio e a intolerância religiosa. O desrespeito ao próximo... Isso tudo a partir de interpretações equivocadas do livro sagrado dos cristãos - a bíblia.

Rogo à Iyemojá, à Oxalá e à Xangô, que a justiça seja feita. Um crime público e de tão grande repercussão não pode passar impune de forma alguma! Se a Justiça permitir a impunidade, estará nos condenando à todas e todos, que fomos vítimas, e abrindo o precedente para conflitos religiosos onde a violência será protagonista.

Ajudem a COMPARTILHAR esse apelo!

Axé! Agô Kolofé!

Vídeo produzido pela Aláfia Filmes - Instituição de luta pelos povos tradicionais.

Alexandre L'Omi L'Odò
Coordenador Geral do Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Nota de Falecimento - Adeus à Mestre Sapo

Mestre Sapo. Foto: Divulgação.

NOTA DE FALECIMENTO 
Adeus à Mestre Sapo

Hoje, os berimbaus do mundo silenciaram... Mestre Sapo partiu para o mundo dos encantos.
Sapo, foi um dos mais proeminentes mestres de capoeira angola das últimas décadas. Era muito respeitado e conhecido em todo planeta. Homem negro de muita visão, construiu o Memorial de Capoeira Angola Mãe, que tinha como símbolo a zebra, único equino a não ser domesticado em todo planeta pelo homem. 

Este símbolo forte de resistência e desobediência, descrevia perfeitamente toda trajetória deste Mestre, que respeitosamente, criou um grande espaço de formação em Olinda, dando oportunidade à todas e todos de aprender a capoeira angola gratuitamente e democraticamente. O espaço é lindo. Um museu que conta sua história e a da capoeira. É sempre emocionante entrar neste templo sagrado, criado com esforço de uma vida inteira dedicada integralmente à esta arte.

Hoje, visitei seu velório. Acabei de chegar de lá. Vi que não haviam elementos cristãos... Achei fantástico! Seu ataúde foi colocado no centro de seu local de aula, onde toda vida ensinou, tocou, jogou, brilhou e transcendeu na capoeira. Uma estrela vermelha decorava o altar dos antigos mestres... Isso me fez pensar muito sobre o por que àquele símbolo da luta do povo pobre e dos trabalhadores, que militam na esquerda no país, estaria alí... Contudo, não descobri. Mas... Perante uma trajetória brilhante de superação como a dele, não me deixa muitas dúvidas... ele também era uma estrela vermelha, que iluminou a vida de milhares de pessoas.


Obrigado Mestre Sapo. Sua missão foi cumprida de forma linda. Viraste um encantado da capoeira. Já eras em vida essa energia divina. Agora, vivendo no mundo da verdade, vai poder rogar por nós à Pai Tupã, Mãe Tamain, Olorun, Zambi, e todos os espíritos de guerra e de luz.

Que a Jurema lhe abençoe na nova jornada. Que Malunguinho, líder guerreiro e herói, segure em sua mão, e o encaminhe para o quilombo de nossos ancestrais ilustres no mundo espiritual.

Axé! Trunfa Riá! 

Voe leve na fumaça! 

O Quilombo Cultural Malunguinho e a Casa das Matas do Reis Malunguinho se condoem com essa perda irreparável para a cultura do mundo. Olinda, é apenas um detalhe... 

PS: Essa foto é muito antiga do Mestre Sapo, não tive acesso à uma mais recente

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Quilombo Cultural Malunguinho

Quilombo Cultural Malunguinho
Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!