domingo, 3 de abril de 2022

Peixinhos de Axé e Ciência – História e Etnografia dos Terreiros do Bairro de Peixinhos/Olinda


Peixinhos de Axé e Ciência – História e Etnografia dos Terreiros do Bairro de Peixinhos/Olinda


Enfim publicamos os resultados parciais desta pesquisa que desde 2010 vinha sendo gestada e estruturada por mim. Com nascimento no Mapeamento Socioeconômico e Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro, onde fui um dos pesquisadores de campo contratados pela UNESCO e MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, pude visitar a realidade das casas de axé e Jurema de Recife e Região Metropolitana, tendo a oportunidade de ver no bairro que nasci e me criei (Peixinhos) mais de 32 terreiros ativos e desconhecidos da sociedade. Até eu, que ali passei toda minha vida lutando e vivenciando a religião, não os conhecia por completo. Isso me deixou perplexo e provocou em mim o desejo de registrar e contar essas histórias de resistência e amor ao sagrado, além de mostrar pra toda a sociedade que em um bairro só, aglutinava-se uma diversidade de terreiros e tradições diferentes muito grande, possibilitando a tamanha vocação que a comunidade tem para a cultura.

Dessa forma nasceu o projeto, que foi bem ousado, afinal pesquisar tantas casas foi um trabalho gigante, que com prazer, garra e fé consegui encaminhar com sucesso. Apresentado no Edital do FUNCULTURA 2017/2018, na categoria de pesquisa, foi um dos que alcançou maior nota na seleção e assim foi possível desenvolver esse trabalho que contou especialmente com a produção executiva da Baba Produções, que também foi minha proponente jurídica.

O projeto realizou mapeamento, pesquisa etnográfica e histórica, dos mais de 30 terreiros de Jurema e candomblé do Bairro de Peixinhos em Olinda/PE. Foi o primeiro registro sistemático das manifestações culturais e celebrações religiosas de tradição de matrizes africanas e indígenas da comunidade. Digo primeiro registro, porque o livro importante e pioneiro de Dona Zuleide de Paula, historiadora do bairro, não obstante tenha sido divisor de águas, não teve um recorte e nem um registro amplo e específico das manifestações espirituais e afro-indígeno-religiosas do bairro. Portanto, essa pesquisa, contribui para fechar essa lacuna resgatando dados sobre a denominação, primeiros habitantes, usos e costumes, e adentrar nas profundezas de cada um dos terreiros, seus babalorixás, iyalorixás, juremeiros e juremeiras, rituais e ancestrais, afim de revelar um retrato fiel das tradições de matrizes africanas e indígenas da localidade, que é um dos mais populosos bairros do municio, e o que tem, sem dúvidas, o maior número te templos religiosos afro indígenas.

A importância desta pesquisa está na preservação da memória e tradição oral destes terreiros, que não tiveram atenção da academia para terem registradas suas memórias ou qualquer outro tipo de apontamento. Ademais, a oralidade é fator de perecimento, diante das sucessões de gerações e dissipação da memória não registrada. Pesquisar, escrever, publicar e divulgar a história oral dos templos negríndios de Peixinhos é preservar a memória dos negres que construíram Pernambuco. As vozes dos antepassados falam, e foram ser escritas, para que o vento não as leve e apague.

Realizei o mapeamento, pesquisa etnográfica e histórica, nos 32 terreiros de Jurema e candomblé do Bairro de Peixinhos em Olinda/PE, realizando o primeiro registro sistemático de suas manifestações culturais e celebrações religiosas. Também a pesquisa bibliográfica e etnográfica para categorizar e sistematizar o contexto histórico e social/cultural dos terreiros e da Comunidade foram adotadas como norteadores metodológicos, tendo com atores centrais Amadou Hampaté Bá (1982), J. Vancina (1982), Clifford Geertz (1989), Marieta de Moraes Ferreira (2012), Henrique Espada Lima (2012), L’Omi L’Odò (2011, 2013, 2017), dentre outres.  

Esse trabalho ainda continua. Não consegui fazer a etnografia completa das casas nem registrar a memória completa dos que já existiram e contribuíram na construção de tudo que conhecemos hoje. Como falei antes, essa proposta foi ousada e precisa de mais tempo para ser concluída a contento. Temos material para um belo livro, um belo filme ou até uma série para TV. Estamos na luta para a conclusão deste trabalho, que foi finalizado em sua primeira etapa maior, mas que precisa de mais financiamento para ser ampliado e fortalecido tanto na pesquisa quanto no ponto de vista audiovisual. Vamos lá, que ainda tem muito o que se fazer. Essa é minha missão e estou muito feliz em ter podido contribuir com algo tão importante para a preservação da memória e história desse povo tão excluído da historiografia oficial e da sociedade como um todo.


Veja a live que trouxe parcialmente os resultados deste trabalho: https://www.youtube.com/watch?v=xZArcr5xLXY&t=381s


Essa pesquisa é dedicada à Amália Rocha e Oxum Osandidè. Também à Dona Zuleiide de Paula, escritora do primeiro livro sobre Peixinhos.


Instituições apoiadoras:

Quilombo Cultural Malunguinho e Casa das Matas do Reis Malunguinho


Sobô Nirê Mafá!

Trunfa Riá!

Onirê Mandá!

Saramunanga Cipopá!


Alexandre L’Omi L’Odò

Quilombo Cultural Malunguinho

alexandrelomilodo@gmai.com

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Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!