Cordel Malunguinho Histórico Divino
NO BRASIL OS AFRICANOS
ENFRENTARAM A VIOLÊNCIA
APONTARAM AS ESTRATÉGIAS
DE LUTA E DE RESISTÊNCIA
E ASSIM ABRIRAM CAMINHO
PARA A PRÓPRIA INDEPENDENCIA
NÃO SE LIMITARAM AS FUGAS
NEM SÓ AS INSSURREIÇÕES
AS PRÁTICAS DE SUICÍDIO
E OUTRAS NEGOCIAÇÕES
NA BUSCA DE LIBERDADE
GANHARAM REPERCUSSÕES
NA CONDUÇÃO DAS REVOLTAS
CADA NEGRO ERA UM GUERREIRO
FORAM ADAPTANDO A ÁFRICA
AO MOMENTO BRASILEIRO
E ABALANDO AS ESTRUTURAS
DO PERVERSO CATIVEIRO
NÃO ERA SÓ REAÇÃO
A OPRESSÃO ESCRAVISTA
A TRADIÇÃO CULTURAL
ASSOCIADA A CONQUISTA
ENFRAQUECENDO OS PILARES
DO PENSAMENTO RACISTA
AO INVÉS DE ESCONDERIJO
HISTÓRICO - TRADICIONAL
A FORMAÇÃO DE QUILOMBO
VIROU REFERENCIAL
DA IDENTIDADE NEGRA
E DE POLÍTICA SOCIAL
FOI NO SÉCULO DEZESSETE
O AUGE DA ESCRAVIDÃO
ÁFRICA, EUROPA E AS AMÉRICAS
O EIXO DA EXPLORAÇÃO
QUANDO OS QUILOMBOS SURGIRAM
PREGANDO ORGANIZAÇÃO
TANTO
LUTAM
LUNDAS, KONGOS, MBUNDUS
OVINBUNDOS,IMBANGALAS
SE PROTEGERAM EM QUILOMBOS
DA DUREZA DAS SENZALAS
MARCARAM ESSAS REGIÕES
CONFLITOS PELO PODER
MIGRAÇÕES POR TERRITÓRIOS
CISÕES PUDERAM FAZER
E AS ALIANÇAS POLÍTICAS
PRO MOVIMENTO CRESCER
QUILOMBO É DE ORIGEM BANTU
MAS FOI APORTUGUESADO
PALAVRA DA LÍNGUA UMBUNDU
TEM SEU SIGNIFICADO
NA LIGAÇÃO DO PRESENTE
AOS RITUAIS DO PASSADO
OS QUILOMBOS ACEITAVAM
HOMEM MULHER E CRIANÇA
NEGRO, INDÍGENA E BRANCO
POBRE QUE CLAMAVAM POR MUDANÇA
E NOS PADRÕES SENHOR-ESCRAVO
NÃO TINHAM MAIS CONFIANÇA
ERA UMA ASSSOCIAÇÃO
QUE A TODOS DA HOSPEDAGEM
TRANSFORMAVA EM SUPER-HOMEM
QUALQUER NÍVEL DE LINHAGEM
PRESTANDO SOCORRO AS VÍTIMAS
DA BURGUESIA SELVAGEM
NO QUILOMBO NÃO HAVIA
DIFERENÇA DE TERRENOS
MESTIÇAGEM BIOLÓGICA
GRANDES MÉDIOS NEM PEQUENOS
E A ARMA DO INIMIGO
ERA O QUE CONTAVA MENOS
PRATICAVAM AGRICULTURA
USAVAM FOGO NA BROCA
O MILHO, O SORGO, A BATATA,
AMENDOIM, MANDIOCA,
O QUE NÃO IA AO COMÉRCIO
SERVIA PARA FAZER TROCA
INHAME, BANANA E TARO
TRILHARAM O MESMO CAMINHO
CERVEJA DE MILHO E SORGO
DA RÁFIA FAZIAM VINHO
TUDO EM COLETIVIDADE
QUE NINGUÉM CRESCE SOZINHO
OUTROS NOMES DO QUILOMBO
MOCAMBO QUE HOJE É FAVELA
PALENQUE
CUMBE NA VENEZUELA
TODOS CORRERAM PERIGO
NENHUM SAIU SEM SEQUELA
FICARAM PRÓXIMO AOS ENGENHOS,
CAMPOS, PEDRAS PRECIOSAS
MANTIVERAM SEUS COSTUMES
E AS AÇÕES RELIGIOSAS
AS IRMANDADES DE NEGRAS
SAIRAM VITORIOSAS
FORAM TODOS PERSEGUIDOS
PELOS CAPITÃES-DO-MATO
DA SOCIEDADE O ÓDIO
DA POLÍCIA O APARATO
PRA CADA FORMA DE LUTA
TINHA UM TIPO DE MAU TRATO
CONTARAM COM O APOIO
DOS ESCRAVOS LUTADORES
ÍNDIOS E COMERCIANTES,
PEQUENOS AGRICULTORES
E OS IDEAIS MAGNÍFICOS
DOS HEROIS LIBERTADORES
A NOTÍCIA DOS QUILOMBOS
NAS TERRAS DOPERNAMBUCO
CAUSOU TRANSTORNO EM OLINDA
DEIXOU RECIFE MALUCO
E DEU CALAFRIO NOS DONOS
DO SISTEMA JÁ CADUCO
O NEGRO ATUAVA COMO
MOLEQUE, AMA E CASEIRO,
GUARDA-COSTA, COZINHEIRA
MUCAMA, BÁ E COCHEIRO
OU FUGIA PRO QUILOMBO
OU MORRIA EM CATIVEIRO
OS QUILOMBOS SE INSTALAREM
NA ÁREA DA MATA NORTE
CONVIVERAM COM DESPEJOS
ATAQUE, EMBOSCADA E MORTE
CATUCA FOI O MAIS ESPERTO
MALUNGUINHO ERA O MAIS FORTE
DO RECIFE ATÉ ALHANDRA
CORTARAM TODO CASCALHO
DE ITAPISSUMA A VITÓRIA
DE SÃO LOURENÇO A PAUDALHO
PRA FORMAR FOI ESPONTÃNEO
PRA DERRUBAR DEU TRABALHO
OUROS QUILOMBOS MENORES
PAU PICADO E TERRA DURA
COVA DA ONÇA EM OLINDA
ZUMBI NO BAIRRO DO IBURA
OS COITOS EM LIMOEIRO
TODOS SOFRERAM TORTURA
OS LÍDERES SÃO JOÃO PATACA,
JOÃO BAMBA E MANOEL GABÃO
JOÃO BRABO, MANOEL GALO,
JOÃO MIGUEL E OUTRO JOÃO
CAETANO E MOÇAMBIQUE
COMBATERAM A REPRESSÃO
RAIMUNDO, ANGICO, MOLENGA
PAIVA, BRABO, CARUMBÁ,
CAMPONA, OLANDA, MOBUNGA,
PAULO, ANTONIO CABUNDÁ
VALENTIM, QUINTO E DOMINGOS
JOÃO BATISTA E CACARÁ
CINCO MULHERES GUERREIRAS
COMEÇANDO POR MARIA
DEPOIS DESSA GENOVEVA
ANTONIA, ANA E LUZIA
SE DESTACARAM NA BRIGA
PELA CARTA DE ALFORRIA
NO COMBATE AOS QUILOMBOLAS
SE UNIRAM A SOCIEDADE
O ESTADO IMPERIAL
OS PODERES DA CIDADE
JOGARAM SUJO E PESADO
CONTRA A LUZ DA LIBERDADE
PRA REPRIMIR OS QUILOMBOS
AQUI CRIARAM A POLÍCIA
COMPANHIAS MILITARES
UM ESQUEMA DE MILÍCIA
SOBRE CONSCIÊNCIA NEGRA
NÃO PODIA TER NOTÍCIA
ORDENANÇAS FILIPINAS
O JUIZADO DE PAZ
A GUARDA NACIONAL
OS COMANDOS DISTRITAIS
MASSACRARAM O POVO NEGRO
IMPLANTANDO AS LEIS BRUTAIS
QUASE 300 QUILOMBOS
TODOS FORAM EXTERMINADOS
NOS MANGUES, NAS CAPOEIRAS,
NOS MORROS, NOS ALAGADOS
JOÃO BATISTA FOI O ÚLTIMO
DOS CHEFES SACRIFICADOS
MALUNGUINHO INDA RESISTE
NA CULTURA POPULAR
COMO EXU, MESTRE, CABOCLO,
REI DAS MATAS SECULAR
NO RITUAL DA JUREMA
É PRIMEIRO A ENTRAR
ESSA É A GRANDE VERDADE
QUE O BRASIL DEVE SABER
FIZ A DEFESA DOS POBRES
BANIDOS PELO PODER
E A DA CLASSE DOMINANTE
QUEM QUISER PODE FAZER
Cordel de ANTÔNIO LISBOA- Poeta Cordelista
________________________
Posto aqui na sua integridade o cordel Malunguinho Histórico Divino, do poeta Antônio Lisboa, que foi um produto de pesquisa feita por João Monteiro e o Quilombo Cultural Malunguinho nos seis anos de trabalho e afirmação da memória e luta do líder negro Malunguinho
Com a pesquisa também de Valéria Costa e produção de Mísia Coutinho este projeto foi aprovado no SIC da Prefeitura Municipal do Recife em 2008 e teve patrocínio do Hospital Santa Joana.
Com sofisticação, o material é lindo de se ver e o texto relata a luta dos negros por liberdade no século XIX no quilombo do Catucá, liderados pelo eternizado no culto da Jurema Sagrada, Malunguinho. Com as fotos de Douglas Fagner e produção executiva de Alexandre Veloso, este cordel inova na estética criativa que foi pensado por Mísia Coutinho.
Democratizo aqui este texto que imprime a alma do povo negro nordestino, pois fala de coisas de luta na linda e inteligente linguagem do cordel.
*Para conseguir exemplares do Cordel, nos liguem no fone 55 81 8887-1496 (L'Omi) ou 55 81 8649-8234 (João Monteiro) ou entrem em contato no email quilombo.cultural.malunguinho@gmail.com
Boa leitura e divulguem.
Mesa de Jurema com os Três Reis Malunguinhos firmados. Foto: Alexandre L'Omi L'Odò.
Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
Coordenação Geral
alexandrelomilodo@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário