segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cordel Malunguinho Histórico Divino

Imagem da capa do cordel Malunguinho Histórico Divino

Cordel Malunguinho Histórico Divino


NO BRASIL OS AFRICANOS

ENFRENTARAM A VIOLÊNCIA

APONTARAM AS ESTRATÉGIAS

DE LUTA E DE RESISTÊNCIA

E ASSIM ABRIRAM CAMINHO

PARA A PRÓPRIA INDEPENDENCIA


NÃO SE LIMITARAM AS FUGAS

NEM SÓ AS INSSURREIÇÕES

AS PRÁTICAS DE SUICÍDIO

E OUTRAS NEGOCIAÇÕES

NA BUSCA DE LIBERDADE

GANHARAM REPERCUSSÕES


NA CONDUÇÃO DAS REVOLTAS

CADA NEGRO ERA UM GUERREIRO

FORAM ADAPTANDO A ÁFRICA

AO MOMENTO BRASILEIRO

E ABALANDO AS ESTRUTURAS

DO PERVERSO CATIVEIRO


NÃO ERA SÓ REAÇÃO

A OPRESSÃO ESCRAVISTA

A TRADIÇÃO CULTURAL

ASSOCIADA A CONQUISTA

ENFRAQUECENDO OS PILARES

DO PENSAMENTO RACISTA


AO INVÉS DE ESCONDERIJO

HISTÓRICO - TRADICIONAL

A FORMAÇÃO DE QUILOMBO

VIROU REFERENCIAL

DA IDENTIDADE NEGRA

E DE POLÍTICA SOCIAL


FOI NO SÉCULO DEZESSETE

O AUGE DA ESCRAVIDÃO

ÁFRICA, EUROPA E AS AMÉRICAS

O EIXO DA EXPLORAÇÃO

QUANDO OS QUILOMBOS SURGIRAM

PREGANDO ORGANIZAÇÃO


TANTO EM CONGO COMO ANGOLA

LUTAM EM VÁRIAS ESCALAS

LUNDAS, KONGOS, MBUNDUS

OVINBUNDOS,IMBANGALAS

SE PROTEGERAM EM QUILOMBOS

DA DUREZA DAS SENZALAS


MARCARAM ESSAS REGIÕES

CONFLITOS PELO PODER

MIGRAÇÕES POR TERRITÓRIOS

CISÕES PUDERAM FAZER

E AS ALIANÇAS POLÍTICAS

PRO MOVIMENTO CRESCER


QUILOMBO É DE ORIGEM BANTU

MAS FOI APORTUGUESADO

PALAVRA DA LÍNGUA UMBUNDU

TEM SEU SIGNIFICADO

NA LIGAÇÃO DO PRESENTE

AOS RITUAIS DO PASSADO


OS QUILOMBOS ACEITAVAM

HOMEM MULHER E CRIANÇA

NEGRO, INDÍGENA E BRANCO

POBRE QUE CLAMAVAM POR MUDANÇA

E NOS PADRÕES SENHOR-ESCRAVO

NÃO TINHAM MAIS CONFIANÇA


ERA UMA ASSSOCIAÇÃO

QUE A TODOS DA HOSPEDAGEM

TRANSFORMAVA EM SUPER-HOMEM

QUALQUER NÍVEL DE LINHAGEM

PRESTANDO SOCORRO AS VÍTIMAS

DA BURGUESIA SELVAGEM


NO QUILOMBO NÃO HAVIA

DIFERENÇA DE TERRENOS

MESTIÇAGEM BIOLÓGICA

GRANDES MÉDIOS NEM PEQUENOS

E A ARMA DO INIMIGO

ERA O QUE CONTAVA MENOS


PRATICAVAM AGRICULTURA

USAVAM FOGO NA BROCA

O MILHO, O SORGO, A BATATA,

AMENDOIM, MANDIOCA,

O QUE NÃO IA AO COMÉRCIO

SERVIA PARA FAZER TROCA


INHAME, BANANA E TARO

TRILHARAM O MESMO CAMINHO

CERVEJA DE MILHO E SORGO

DA RÁFIA FAZIAM VINHO

TUDO EM COLETIVIDADE

QUE NINGUÉM CRESCE SOZINHO


OUTROS NOMES DO QUILOMBO

MOCAMBO QUE HOJE É FAVELA

PALENQUE EM CUBA E COLOMBIA

CUMBE NA VENEZUELA

TODOS CORRERAM PERIGO

NENHUM SAIU SEM SEQUELA


FICARAM PRÓXIMO AOS ENGENHOS,

CAMPOS, PEDRAS PRECIOSAS

MANTIVERAM SEUS COSTUMES

E AS AÇÕES RELIGIOSAS

AS IRMANDADES DE NEGRAS

SAIRAM VITORIOSAS


FORAM TODOS PERSEGUIDOS

PELOS CAPITÃES-DO-MATO

DA SOCIEDADE O ÓDIO

DA POLÍCIA O APARATO

PRA CADA FORMA DE LUTA

TINHA UM TIPO DE MAU TRATO


CONTARAM COM O APOIO

DOS ESCRAVOS LUTADORES

ÍNDIOS E COMERCIANTES,

PEQUENOS AGRICULTORES

E OS IDEAIS MAGNÍFICOS

DOS HEROIS LIBERTADORES


A NOTÍCIA DOS QUILOMBOS

NAS TERRAS DOPERNAMBUCO

CAUSOU TRANSTORNO EM OLINDA

DEIXOU RECIFE MALUCO

E DEU CALAFRIO NOS DONOS

DO SISTEMA JÁ CADUCO


O NEGRO ATUAVA COMO

MOLEQUE, AMA E CASEIRO,

GUARDA-COSTA, COZINHEIRA

MUCAMA, BÁ E COCHEIRO

OU FUGIA PRO QUILOMBO

OU MORRIA EM CATIVEIRO


OS QUILOMBOS SE INSTALAREM

NA ÁREA DA MATA NORTE

CONVIVERAM COM DESPEJOS

ATAQUE, EMBOSCADA E MORTE

CATUCA FOI O MAIS ESPERTO

MALUNGUINHO ERA O MAIS FORTE


DO RECIFE ATÉ ALHANDRA

CORTARAM TODO CASCALHO

DE ITAPISSUMA A VITÓRIA

DE SÃO LOURENÇO A PAUDALHO

PRA FORMAR FOI ESPONTÃNEO

PRA DERRUBAR DEU TRABALHO


OUROS QUILOMBOS MENORES

PAU PICADO E TERRA DURA

COVA DA ONÇA EM OLINDA

ZUMBI NO BAIRRO DO IBURA

OS COITOS EM LIMOEIRO

TODOS SOFRERAM TORTURA


OS LÍDERES SÃO JOÃO PATACA,

JOÃO BAMBA E MANOEL GABÃO

JOÃO BRABO, MANOEL GALO,

JOÃO MIGUEL E OUTRO JOÃO

CAETANO E MOÇAMBIQUE

COMBATERAM A REPRESSÃO


RAIMUNDO, ANGICO, MOLENGA

PAIVA, BRABO, CARUMBÁ,

CAMPONA, OLANDA, MOBUNGA,

PAULO, ANTONIO CABUNDÁ

VALENTIM, QUINTO E DOMINGOS

JOÃO BATISTA E CACARÁ


CINCO MULHERES GUERREIRAS

COMEÇANDO POR MARIA

DEPOIS DESSA GENOVEVA

ANTONIA, ANA E LUZIA

SE DESTACARAM NA BRIGA

PELA CARTA DE ALFORRIA


NO COMBATE AOS QUILOMBOLAS

SE UNIRAM A SOCIEDADE

O ESTADO IMPERIAL

OS PODERES DA CIDADE

JOGARAM SUJO E PESADO

CONTRA A LUZ DA LIBERDADE


PRA REPRIMIR OS QUILOMBOS

AQUI CRIARAM A POLÍCIA

COMPANHIAS MILITARES

UM ESQUEMA DE MILÍCIA

SOBRE CONSCIÊNCIA NEGRA

NÃO PODIA TER NOTÍCIA


ORDENANÇAS FILIPINAS

O JUIZADO DE PAZ

A GUARDA NACIONAL

OS COMANDOS DISTRITAIS

MASSACRARAM O POVO NEGRO

IMPLANTANDO AS LEIS BRUTAIS


QUASE 300 QUILOMBOS

TODOS FORAM EXTERMINADOS

NOS MANGUES, NAS CAPOEIRAS,

NOS MORROS, NOS ALAGADOS

JOÃO BATISTA FOI O ÚLTIMO

DOS CHEFES SACRIFICADOS


MALUNGUINHO INDA RESISTE

NA CULTURA POPULAR

COMO EXU, MESTRE, CABOCLO,

REI DAS MATAS SECULAR

NO RITUAL DA JUREMA

É PRIMEIRO A ENTRAR


ESSA É A GRANDE VERDADE

QUE O BRASIL DEVE SABER

FIZ A DEFESA DOS POBRES

BANIDOS PELO PODER

E A DA CLASSE DOMINANTE

QUEM QUISER PODE FAZER


Cordel de ANTÔNIO LISBOA- Poeta Cordelista


________________________


Posto aqui na sua integridade o cordel Malunguinho Histórico Divino, do poeta Antônio Lisboa, que foi um produto de pesquisa feita por João Monteiro e o Quilombo Cultural Malunguinho nos seis anos de trabalho e afirmação da memória e luta do líder negro Malunguinho em Pernambuco para ser um material didático e pedagógico público e de fácil acesso.


Com a pesquisa também de Valéria Costa e produção de Mísia Coutinho este projeto foi aprovado no SIC da Prefeitura Municipal do Recife em 2008 e teve patrocínio do Hospital Santa Joana.


Com sofisticação, o material é lindo de se ver e o texto relata a luta dos negros por liberdade no século XIX no quilombo do Catucá, liderados pelo eternizado no culto da Jurema Sagrada, Malunguinho. Com as fotos de Douglas Fagner e produção executiva de Alexandre Veloso, este cordel inova na estética criativa que foi pensado por Mísia Coutinho.


Democratizo aqui este texto que imprime a alma do povo negro nordestino, pois fala de coisas de luta na linda e inteligente linguagem do cordel.


*Para conseguir exemplares do Cordel, nos liguem no fone 55 81 8887-1496 (L'Omi) ou 55 81 8649-8234 (João Monteiro) ou entrem em contato no email quilombo.cultural.malunguinho@gmail.com


Boa leitura e divulguem.


Mesa de Jurema com os Três Reis Malunguinhos firmados. Foto: Alexandre L'Omi L'Odò.


Alexandre L'Omi L'Odò

Quilombo Cultural Malunguinho

Coordenação Geral

alexandrelomilodo@gmail.com

81 8887-1496

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Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!