Maracatu Nação do Reis Malunguinho
Histórico
Fundado em 2016, no bairro de Peixinhos, em
Olinda/PE, o Maracatu Nação do Reis Malunguinho nasceu de uma missão dada pela
divindade Malunguinho, ao discípulo/juremeiro Alexandre L’Omi L’Odò, mestre de
baque e sacerdote da agremiação. Após L’Omi, ter tido uma forte “irradiação”
espiritual, ao acompanhar o Maracatu Leão Coroado, sob a regência de Mestre
Afonso Aguiar, em cortejo pelas ruas do Sítio Histórico de Olinda, recorreu à
Jurema Sagrada para obter respostas sobre o que havia sido àquela reação
espiritual tão forte, que quase o derrubou no chão. Para ele, “tal fenômeno era
sem explicação cabível na espiritualidade”. Após consulta ao sagrado, pedindo
respostas aos senhores mestres, o Reis Malunguinho manifestou seu desejo, mostrando-o
como queria tudo, e o motivo pelo qual desejaria que ele e os filhxs do
terreiro agissem dentro deste “brinquedo”. Neste ano, ele realizou os rituais
de fundação do Maracatu dentro da Jurema, com rituais de consagração do bombo
mestre, primeiro instrumento doado para a instituição, por Rodrigo Fernandes,
mestre do Maracatômico.
Após aguardar respostas da espiritualidade,
foram reveladas dentro das matas sagradas do Catucá o nome das quatro Calungas
determinadas para serem as guardiãs do maracatu. Malunguinho convocou:
1 – Dona Maria do Acaes II – Maria Eugênia
Gonçalves Guimarães (falecida em 1937) deixou um legado imenso reconhecido até
hoje dentro dos terreiros de Jurema. Seu nome está ligado ao local onde nasceu
e se criou, o Sítio do Acaes, terras no município de Alhandra/PB herdadas do
seu tio avô, o último cacique da tribo Arataguí. Hoje ela é uma mestra que
“baixa” nos terreiros, sendo muito reverenciada como alicerce moral e de grande
força espiritual, considerada pelos juremeirxs como a maior mestra na história
da religião.
2 – Mãe Biliu de Manoel do Ororubá (Antônia
Montes da Silva - filha de Iyemojá. Nascida em 30/08/1905, falecida em 08 de
Agosto de 2012) Juremeira e sacerdotisa do candomblé, falecida com 107 anos no
bairro da Mustardinha/Recife. Foi uma das mais importantes lideranças
religiosas daquela região, sendo respeitada por todo povo de terreiro. Chegou a
ser a mais velha juremeira viva de nosso tempo, levando com força e grande
sabedoria seu terreiro, que está aberto e em funcionamento até hoje.
3 – Mãe Biu de Alhandra (Severina Chaves dos
Santos) (nascida em 1935, falecida em 16/09/2015) Juremeira nascida no Acaes, viveu
sua vida sacerdotal entre Pitimbú e Alhandra na Paraíba, sendo uma das mais
sábias e célebres da Jurema. Foi uma das ultimas grandes rezadeiras e
catimbozeiras das antigas raízes de Alhandra, sendo reconhecida em vida como
mestra dos saberes ancestrais.
4 – Reis Malunguinho - Patrono do Maracatu e
da Casa das Matas do Reis Malunguinho. Divindade que na primeira metade do
século XIX fora o mais importante líder quilombola na luta pela liberdade dos
povos escravizados de Pernambuco. Foi o único herói negro deificado nas
religiões de matrizes afroindígenas, considerado o patrono da Jurema Sagrada,
pois só ele, se manifesta em quatro formas diferentes: reis, caboclo, mestre e
trunqueiro/exu. Nas Cidades da Jurema e nos terreiros, Malunguinho cumpre sua
mesma missão ancestral - defender seu povo, dando continuidade à luta do
Quilombo do Catucá.
Em 2018, foi realizada a Consagração pública
do baque do maracatu no XIII Kipupa Malunguinho, ocorrido no dia 23 de
setembro. Essa foi sua primeira apresentação como instituição oficial. O baque
foi recebido pelo Maracatu Nação Malunguinho de Abreu e Lima, fundado em 2017
no XII Kipupa, cujo mestre é Aldene Nascimento, amigo e parceiro de longas
datas nas lutas pela cultura popular. Neste momento, foram apresentadas pela
primeira vez as quatro Calungas ao público.
No dia 4 de Março de 2019, segunda feira de
carnaval, ao meio dia em ponto, será seu primeiro desfile oficial nas ladeiras
de Olinda. Seguirá junto com o Bloco dos Catimbozeiros, que também desfila pela
primeira vez no carnaval acompanhados pelo calunga gigante do Reis Malunguinho.
As orientações espirituais e éticas que alicerçam
este maracatu, serão obedecidas irrestritamente, sendo elas: que o Maracatu
deve ser Nação (religioso); que não crie disputas com grupos da cultura afroindígena
e popular; que seu baque evoque e louve os ancestrais; que a instituição sirva
pra ajudar os povos tradicionais, empobrecidos e demais minorias; que mantenha
as tradições antigas de terreiro do maracatu, respeitando e seguindo os rituais
deixados pelos nossos mais velhos; lutar com uma perspectiva decolonial,
combatendo o racismo, a intolerância religiosa, a LGBTTI+fobia e demais formas
de opressão, se posicionando sempre ao lado dos herdeiros da senzala, e nunca
da Casa Grande.
Com fé, ciência, fumaça, baque forte,
decoloneidade, retorno às origens e respeito aos mais velhos, o Maracatu Nação
do Reis Malunguinho é a continuidade da luta do Quilombo do Catucá!
Sobô Nirê Mafá Reis Malunguinho!!
Trunfa Riá!
Nosso baque é forte e tem ciência!
Alexandre L’Omi L’Odò
Mestre de Baque e coordenador
alexandrelomilodo@gmail.com
Um comentário:
Com as éticas que alicerçam este maracatu...que tenha vida longa e próspera!
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