Mestre Liobino Joaquim, grande juremeiro de Igassí/AL.
A Jurema chamou o grande Mestre Liobino, patrimônio religioso e cultural de Igassí/AL
NOTA
DE FALECIMENTO
A
Jurema toda estremeceu, hoje, nos despedimos do grande e querido Mestre Liobino
de (Igassí) Arapiraca/AL, juremeiro de grande valor e um dos últimos de sua
geração - da geração dos antigos.
Há
mais de um ano sofria com sequelas de uma série de derrames cerebrais que o
deixaram totalmente sem movimentos no corpo e sem falar. Na altura dos seus
mais de 80, cumpriu sua missão na terra com leveza e faleceu sem sofrimento.
Conheci
o Mestre Liobino há alguns anos no terreiro de Jurema Fazendinha do Mestre Mané
da Pinga, em Arapiraca/AL, casa de um de seus afilhados, o Pai Alex Gomes,
querido amigo a quem estimo. Assim que o vi, percebi logo que estava frente à
um patrimônio vivo, à um ser de transcendência enorme e de saber profundo...
Seus olhos comunicavam isso e seu silêncio muito mais. Era de poucas palavras,
mas pude conversar com ele por algumas horas afins e vê-lo fumar seu cachimbo
miudinho, mas cheio de ciência. Pude aprender muito com a pouca vivência que
tive com ele. Foi mágico presenciar a força de seu encanto.
Lió,
como era mais conhecido, era bem idoso, com certeza mais de 80 anos. Homem
negro do agreste alagoano, era mestre de pife e de zabumba, tocava divinamente
seu lindo instrumento. O assisti tocar com sua banda formada por homens também
idosos. Fez muita alegria das festas nas noites das celebrações dos interiores.
Novenas, procissões, forrós, tudo mais, era com ele e grupo. Fora também agricultor
familiar. Plantava tudo que comia e adorava a roça. Desde menino era assim sua
vida e até o fim seguiu o aprendizado de seus pais. Feijão, legumes e frutas,
tinham que ser de sua rocinha, senão ele não gostava, como me revelou.
Grande
sabedor das ciências da Jurema, pouco gostava de falar da religião, contudo, na
arte do catimbó sabia muito. Ele era como uma casa de abelha que trabalha sem
ninguém ver, mas pude assisti-lo trabalhar em mesa de Jurema... O vi “receber”
o mestre Bernardo Velho, de quem era discípulo. Uma visão incrível e poética,
pois as melodias e cânticos sagrados da Jurema que conhecia (e não eram
poucos), tinham uma beleza ampla de inundar o coração de luz. Era bonito demais
ouvir certos cânticos... Até hoje reverberam em meu juízo: “vem pra trabalhar
meu mestre, vem pro juremá meu mestre”. As toadas me transportavam para lugares
lindos...
Tenho
certeza que os senhores mestres o aguardavam com alegria. De lá, da Cidade
Mestra Maior, ele poderá nos ajudar mais do que ajudou em vida. Quando ouvirmos
seu pife de prata tocar, saberemos que é ele se aproximando pra nos curar. Ele
nasceu mestre, morreu mestre e continuará sua missão, pois precisamos muito
dele. Conhecia muito de ervas e curas... Com sua presença forte que
transbordava saber, nos deixou com saudades, mas sabemos que ele de lá está
feliz por ter reencontrado seus ancestrais mais queridos.
Vá
na paz Mestre Liobino, voe leve nas asas da gaita mestra e no canto dos
pitiguarís. O maracá hoje se cala, para amanhã triunfar te chamando novamente.
Os
filhos e filhas da Casa das Matas do Reis Malunguinho lamentam sua perda e
emanam orações para que sejas revestido de mais luz na cidade da Jurema. Obrigado.
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Alexandre L'Omi L'Odò
Casa das Matas do Reis Malunguinho
Quilombo Cultural do Reis Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com
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