Matéria do Jornal Diário de Pernambuco, caderno Vida Urbana C4. Recife, 02 de outubro de 2012.
Novo nome em oferenda a Oxum
Estudante
conseguiu na justiça o direito de acrescentar L’Omi L’Odò à identidade que
recebeu ao nascer
Marcionila
Teixeira
marcionilateixeira.pe@dabr.com.br
Ele
nasceu Alexandre Alberto Santos de Oliveira, mas agora, aos 32 anos, comemora o
que considera um renascimento. Em uma decisão inédita na justiça, passou a se
chamar oficialmente Alexandre L’Omi L’Odò Alberto Santos de Oliveira. O L’Omi
L’Odò é uma homenagem a Oxum, Orixá do candomblé, e significa, em língua
yorùbá, das águas do rio. Desde
criança, Alexandre se identifica com a Jurema, religião de matriz indígena do
Nordeste do Brasil, que se relaciona com o Candomblé e a Umbanda nos espaços de
terreiro. Para ele, acrescentar o nome é o maior ebó, ou seja, oferenda, que já
fez a Oxum, de quem se considera filho na religião.
A
decisão é do juiz Cláudio Cavalcanti, da 1° Vara da Família e Registro Civil de
Olinda. O magistrado considerou que o pedido se justifica porque a Lei dos
Registros Públicos permite que a pessoa pode somar ao pré nome o apelido ao
qual tenha atrelada a sua imagem pública, como é o caso de Luiz Inácio Lula da
Silva e Xuxa. “No entanto, fiz uma resalva. No pedido ele queria retirar o
sobre nome Oliveira que é do pai, pois alegou que já tinha Alberto, também da
família paterna. Mas entendo que os sobrenomes da família devem ser
preservados, pois Alberto é prenome”. Explicou o juiz.
Essa
seria a primeira vez que uma decisão judicial muda um nome a partir de uma
justificativa religiosa do solicitante. O magistrado, no entanto, disse que a
religião não pesou tanto em sua sentença e sim o que diz a lei. “Ele conseguiu
provar na justiça que é conhecido publicamente assim a mais de dez anos quando
foi batizado no candomblé. Também apresentou inúmeras notícias com seu nome e
trouxe testemunhas comprovando o fato. O próprio direito abre exceção ao
princípio da imutabilidade do nome”, explicou o juiz.
Entre
outras condições para ter o nome alterado na justiça, a pessoa precisa provar
que é exposta ao ridículo. Uma outra situação que prevê mudança é o casamento e
a adoção. Alexandre, que € estudante de história da Universidade Católica de
Pernambuco e coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho, disse que toda
comunidade tradicional de terreiro está comemorando a decisão. “Trata-se de uma
vitória de todo povo de terreiro, que agora um precedente na justiça”, afirmou.
Para
a professora do departamento de história da UNICAP Zuleica Dantas, com
pós-doutorado em ciências da religião, a mudança soa positiva para a religião.
“O nome é identidade, reúne a construção da pessoa enquanto identidade e como
representante de um determinado lugar. No caso de Alexandre, tem uma
perspectiva mítica, ligada à ancestralidade dele”, analisou a professora. Como
cultuador da Jurema, Alexandre é chamado de juremeiro, e, dentro do culto, é
considerado egbomi, ou seja, um irmão mais velho.
Chamada de matéria na contra capa do Diário de Pernambuco de 02 de outubro de 2012.
Entrevista >> Alexandre L’Omi L’Odò
“É
uma homenagem aos meus ancestrais”.
O
que muda daqui para frente com a alteração de seu nome?
Agora
estou mais satisfeito com minha existência, pois meu nome passou a estar
vinculado às minhas origens ancestrais. Tenho oficialmente um nome yorùbá, que
é da cultura africana. É uma homenagem aos meus ancestrais negros, que morreram
escravizados para hoje eu estar aqui. É o maior ebó, que significa sacrifício,
oferenda ao Orixá, que já ofereci a Oxum, agora ela está integrada ao meu nome.
Você
já se prejudicou alguma vez por não ter o nome L’Omi L’Odò oficialmente?
Sim.
No começo do ano aconteceu uma oficina de povos de terreiro, no Maranhão, e
como eles exigiram o meu nome oficial, não me reconheceram pelos documentos e
eu terminei ficando de fora.
O
juiz resolveu não tirar o sobrenome do seu pai, como você queria. Por que
queria tirar o Oliveira?
Meu
nome agora está gigante, além disso, Alberto, que quis manter, é o nome do meu
tataravô, bisavô, avô, pai e do meu. Portanto, acho que ele representa também a
família paterna.
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Publico aqui texto na íntegra da matéria
do jornal
Diário de Pernambuco, caderno Vida Urbana C4, de - Recife, 02 de outubro
de 2012. Com total alegria agradeço a Marcionila Teixiera pela bela
matéria e a todas e todos que acompanharam este meu processo judicial me
dando apoio e suporte nas horas que precisei. Axé e salve a fumaça!
Adupé Oxum!
Alexandre L'Omi L'Odò
Juremeiro e Egbomi
alexandrelomilodo@gmail.com
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