Afoxé Omo Nilê Ogunjá. Eu no cantinho acompanhando essa linda luta! Foto: Acervo do grupo.
Afoxé Omo Nilê Ogunjá – Um
exemplo Afrocentrado no Carnaval do Recife
Ontem,
dia 03 de fevereiro de 2016, presenciei uma das atitudes mais interessantes na
perspectiva do posicionamento da cultura popular na luta contra a falta de
respeito para com as tradições de matrizes africanas e indígenas no Carnaval de
Pernambuco.
O
Afoxé Omo Nilê Ogunjá tomou uma atitude afirmativa muito importante: Realizou
seu cortejo de forma independente abrindo seu carnaval apenas construindo
parcerias e apoios. Levou seu grito de luta de forma exemplar. Saiu grande,
bonito, vigoroso e empoderado, vale ressaltar.
Em
minha avaliação, vejo nesta posição política do grupo, uma esperança no caminho
de re-organizar o conceito de liberdade da cultura popular em nosso Estado. Se
o Afoxé conseguiu sair tão forte sem apoio da prefeitura do Recife e do Governo
do Estado, isso é sinônimo de que a comunidade pode se organizar com qualidade
e força para colocar nas ruas seus ideais e sua identidade ancestral.
Contudo,
isso não é tudo! Ainda o Omo Nilê, abrilhantou o Carnaval do Recife dando à
Cidade a oportunidade de ver algo muito bonito sem pagar nada! Isso mesmo, sem
pagar nada (a gestão da cidade do Recife não pagou nada por isso)! A cultura
popular traz quantias enormes de dinheiro, que somam bilhões para o Estado em
turismo etc. E o Omo Nilê fez os turistas que se encontravam na Praça do
Arsenal e em todo percurso até a Rua da Moeda no Recife Antigo vibrarem com a
força negra do Ibura (comunidade periférica do Recife).
A
coragem do grupo me encantou. Me deixou encorajado e fortalecido. A força de
Ogun que emanou dessa luta fez brilhar minhas idéias e me empreteceu mais
ainda. Fortaleceu mais ainda meu entendimento sobre a afrocentricidade!¨
Afoxé Omo Nilê Ogunjá na avenida. Foto: Acervo do grupo.
Sou
crente na força da cultura popular e no imensurável poder dos povos e
comunidades tradicionais. Contudo, creio ser urgente nós todos ACORDARMOS e
tomarmos atitudes como esta de forma coletiva! Não devemos nos submeter ao
Estado sem que este nos respeite como devido. Somos ainda tratados como negros
e indígenas sem valor e quase sem alma – relembrando o conceito de homem e
mulher negra e indígena nos tempos da escravidão-. A estrutura racista do
Carnaval do Recife é só um pequeno exemplo do que aqui também esta sendo
discutido (ler texto de anos anteriores sobre este tema em meu blog www.alexandrelomilodo.blogspot.com).
Ogunjá
AFROCENTRADO! Isso mesmo, a força de um Orixá levando todo um grupo de negros e
negras e afro descendentes à consciência, ao seu papel e função social. Temos
que tomar nosso lugar neste processo! Sermos negros e negras e entendermos qual
nossa função no mundo capitalista e ocidental: temos que ser AFROCENTRADOS!
Com
estas breves palavras parabenizo o Afoxé Omo Nilê Ogunjá pelo belo exemplo para
os demais afoxés e grupos de cultura popular! Vamos somar nesta proposta e
vamos crescer esta energia!
Parabenizo
ainda pela importante homenagem ao nosso grande Tata Raminho de Oxóssi, que ao
completar 80 anos de idade em janeiro de 2016, teve uma justa homenagem por
toda sua contribuição na história do povo de terreiro do Brasil. Bariká oooooo!
Família negra de afirmação e força!O Afoxé Omo Nilê Ogunjá é afirmação! Foto: Acervo do grupo.
Ògún
yé! Ogum é vida!
Alexandre
L’Omi L’Odò
Historiador
e Mestrando em Ciências da Religião
Quilombo
Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com
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