Alexandre L'Omi L'Odò demonstra o documento de aprovação no mestrado em ciências da religião na UNICAP, após sua defesa pública da dissertação Juremologia: uma busca etnográfica para sistematização de princípios da cosmovisão da Jurema Sagrada. Foto de Joannah Flor.
Juremologia para todas e todos
Disponibilizada para baixar a dissertação de mestrado do juremeiro Alexandre L'Omi L'Odò
Disponibilizo com muito amor e afeto o texto
final e definitivo de minha dissertação de mestrado para todas e todos. Se
interessados ou interessadas, é só baixar o arquivo em PDF no link, ao final
deste texto.
Como conclusão derradeira, fechando meu ciclo
de mestre na academia, no curso de Ciências da Religião da UNICAP, entrego à
sociedade, o texto que me custou alguns anos de luta e muita dedicação para ser
finalizado (ou quase finalizado, já que uma pesquisa deste vulto não se
termina). Essa é uma prestação de contas, onde, por ter sido bolsista da CAPES
(no governo de Dilma - PT), pude estudar e transcender meu universo de “menino
da favela”, e virar intelectual nos termos da norma oficial da academia. Para
mim já não é mais suficiente apenas ser um intelectual orgânico, como define
Gramsci, em seus históricos escritos. Quero ser um catimbozeiro doutor, e assim
continuarei essa luta até ser doutor de fato e de direito, pois se tem alguém
que pode falar por nós, esse alguém somos nós, e não abro mão de conquistar
esse direito com total dignidade e luta!
Ser intelectual e juremeiro é uma novidade em
nossa sociedade. Mesmo com mais de 5017 anos de colonização, fui o primeiro
juremeiro a defender um estudo na academia, que em 4 capítulos, sistematizou
tudo de relevante que foi escrito e estudado sobre a Jurema, em um recorte
histórico de 277 anos (1741 a 2017). Para além da profundidade historiográfica
do texto, temos uma etnografia densa (GEERTZ), que trouxe a fala qualificada de
diversos juremeiros e juremeiras de renome em Recife e Região Metropolitana,
revelando para o mundo letrado uma cosmovisão ampla do que seria essa religião
para as pessoas que a vivenciam, defendem e praticam com veemente fé e
resistência.
Longe de ser uma cartinha de quase 300
páginas, de não academicidade, ou de movimento social (risco eminente que não
me atingiu), meu texto foi elogiado pela banca examinadora com excelência, e
pude com orgulho, responder com suficiência todas as argüições feitas no
momento da qualificação e da defesa pública. Portanto, após tantas etapas
complicadas e complexas, hoje posso me dizer satisfeito com o que escrevi,
mesmo sabendo que poderia escrever mais... Aliás, continuo escrevendo mais, e
lançarei em breve dois livros, que são resultado desta pesquisa.
Ter lançado o inédito termo JUREMOLOGIA no
campo da pesquisa acadêmica, foi outra ousadia intelectual minha. Fundamentar
este neologismo, e, defendê-lo, também me custou muito exercício de pesquisa e
escrita. Contudo, aí está, firme e forte, pronto para ser usado por quem
desejar. Também, devem questioná-lo, afinal, no campo acadêmico, tudo pode ser
ampliado ou questionado, coisas que me dão muito entusiasmo e prazer, pois sou
sim um homem que gosta de lutar a partir do campo intelectual (também). Usem,
ampliem a pesquisa, adentrem este universo, pois, tudo que fiz, foi no intuito
de contribuir para que mais e mais pessoas de terreiro possam acreditar que é
possível sim, se formar e ocupar esse lugar privilegiado, que pertence à apenas
5% da população brasileira.
Essa dissertação, nasceu de meu sonho de
mudar meu próprio mundo. O mundo da exclusão e da não sapiência daquilo que eu
praticava. Da mesma forma que estudei autonomamente a língua yorùbá, e hoje dou
aulas e traduzo toadas, me dediquei aos estudos da Jurema para compreendê-la
mais e poder contribuir em seu avanço na sociedade como religião, sempre em uma
perspectiva decolonial. Esses meus estudos tem mais de 15 anos, onde durante
este tempo, pude colecionar textos e documentos importantes que me viabilizaram
dar concretude a esta pesquisa.
Ser um sacerdote e intelectual é possível
sim. Uma coisa não modifica a outra, e juntas, se fortalecem. Sou amante da
tradição e profundo defensor da oralidade. Porém, sem ocuparmos a política e os
espaços da intelectualidade, não estaremos fazendo grande coisa para o avanço
de nosso povo. Temos que acordar o quanto antes! Ocidentalizar-se para desocidentalizar,
é uma perspectiva de luta epistemologicamente pensada por mim e por tantos
outros e outras para nos libertar das algemas do assombroso passado da
escravidão e do holocausto indígena e suas heranças racistas. A Jurema que
acredito, é a Jurema que quer se libertar das amarras do colonizador branco e
cristão. Mesmo respeitando as tradições e tendo afeto por elas, como cientista
e como sacerdote, me proponho, a estar na linha de frente da batalha, para
podermos dar largos passos na conquista dos espaços desta sociedade, que também
são nossos.
Não adianta apenas usar as redes sociais para
promover informação sobre a Jurema, que é essencialmente uma religião de
tradição oral. Temos que fazer coisas efetivas e amplas. É possível sim, firmar
realizações efetivas como este texto/pesquisa e unir as ações virtuais
(imateriais) com as ações práticas e concretas em outros campos. Este pode ser
um caminho fértil para nos ajudar a avançar mais e mais, com força e inteireza.
Assim, poderemos olhar para trás e nos
orgulharmos de tudo que nos dedicamos, pois palavras voam no ar, o que se
registra, nem o vento branco do colonizador leva (parafraseando Mãe Stella de
Oxóssi, uma das entrevistadas na dissertação).
Bom, espero que quem ler, possa me devolver
uma crítica, uma fala, um comentário, uma ou várias discordâncias, etc. Preciso
dialogar mais e mais com meus irmãos e irmãs por que essa pesquisa continua e
se amplia...
Chega mais e COMPARTILHA, para que mais pessoas
possam ter acesso. Muita gente me solicitou, agora ta aí, prontinha e toda
disponível para ser degustada. J
Agradeço a todas e todos que me ajudaram a
vencer cada etapa desta luta. Não foi fácil, mas ao final, o gosto e o
empoderamento, da realização e da vitória, pagaram tudo.
A benção aos meus mentores: Reis Malunguinho,
Major do Dia, Sr. Manso, Mestra Paulina, Caboclo Arranca Toco, Zé Pilintra,
etc. Vocês são minha família indissolúvel. A benção Dona Leide de Sibamba,
minha madrinha de Jurema. Adupé Oxum, iyá mi! Adupé Bàbá mi Ifátòògùn Paulo
Braz Felipe da Costa, meu santo babalorixá e obrigado à minha digníssima
iyalorixá Mãe Lu Omitogun, rainha oceânica de minha vida na religião nagô/jeje.
Tenho muito a quem agradecer, e com certeza
nas páginas da dissertação estão os nomes de todas e todos que de um forma ou
de outra contribuíram para que este texto existisse, disponível e livre para
quem desejar se aprofundar na ciência mestra da jurema e sua história. “Tudo
isso, é apenas uma gota no oceano”!
Sobô Nirê Mafá!
Trunfa Riá!
Saramunanga Cipopá!
A Jurema Merece Respeito!
Esta dissertação foi feita para “desfazer as
coisas dos brancos” (Davi Kopenawa)!
Baixe a dissertação de mestrado Juremologia:
uma busca etnográfica para sistematização de princípios da cosmovisão da Jurema
Sagrada, no link abaixo:
Alexandre
L’Omi L’Odò
Juremeiro,
Historiador e Cientista das Religiões
Quilombo
Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com
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