terça-feira, 23 de outubro de 2018

Alexandre L'Omi 65613, agradece pleos seus 1513 votos de axé e esperança


Alexandre L'Omi 65613, agradece pleos seus 1513 votos de axé e esperança

Venho aqui, agradecer pelos 1513 (mil quinhentos e treze votos), que recebi como candidato a deputado estadual em Pernambuco neste pleito de 2018. Foram votos honestos, verdadeiros, limpos e harmonizados com o sonho de termos um(a) representante legítimo do povo de terreiro, eleito pelo voto democrático e livre para defender nossa classe. Infelizmente não foi dessa vez, mas será nas próximas com certeza, pois o aprendizado e acúmulo de saberes foi grande!

Minha candidatura, deu continuidade à sólida construção das bases políticas que organizamos desde 2016 junto ao povo de terreiro e aos diversos movimentos da cultura popular. Naquele ano, tive injustificadamente minha candidatura retirada, interferindo em uma construção mais sólida para os povos tradicionais de Olinda (naquela ocasião). Contudo, a experiência que os fatos me trouxeram, enriqueceram de forma grandiosa minha consciência política partidária e me deram elementos mais sólidos para adentrar no campo político com maior sabedoria e perspicácia.

O Povo de Terreiro tem que acreditar em si, e construir esse sentimento de auto-estima para a política, é um dos elementos que motiva minha luta! Quando criei o lema #QuemédeTerreiroVotaemquemédeTerreiro, foi para dar mais força a esse necessário entendimento de classe. Assim como o povo de terreiro, a partir da RENAFRO fez em eleições passadas dizendo #QuemédeAxéVotaemquemédeAxé, e Lula e seu partido criaram o slogan “trabalhador vota em trabalhador”, ambos numa perspectiva de fazer o povo de terreiro e os trabalhadores entenderem sua classe, eu desenvolvi de forma semelhante, esta hashtag para mapear o quanto conseguimos avançar em direção a este entendimento. Pudemos constatar que até candidatas e candidatos de outros estados usaram a hashtag e fizeram campanhas semelhantes a nossa. Isso foi um avanço animador. Também, ao produzirmos camisas com a citada frase, tivemos vendagem recorde. Pudemos ainda, ampliar essa campanha para pessoas de lugares distantes, autorizando o uso de nossa frase para que produzissem por conta própria a camisa, pois essas e esses, se sentiram representados por nossa campanha e não cabia impedir que eles(as) replicassem algo que queríamos que se propagasse por todo Pernambuco.

Ouvi muitos comentários de pessoas de terreiro, que revoltados com a suposta baixa votação que tive, replicavam uma série de máximas antigas: “o povo de terreiro é traíra”, “o povo de terreiro não tem respeito nem por eles”, “o povo de terreiro é burro em não lhe eleger”, “o povo de terreiro se vende por qualquer coisa”, dentre outras sanções que discordo veementemente. Claro que constatamos que nosso povo ainda não tem entendimento de classe nem consciência política, mesmo tendo avançado muito, e, que continua sendo massa de manobra nas mãos de quem não nos representa. Isso é fato. Porém, temos que avaliar que todas as candidaturas existentes até hoje, com a plataforma dos povos tradicionais desde a década de 1970, dão continuidade a um sonho coletivo antigo, o de superarmos o racismo estrutural que nos impede de assumir o lugar de poder nessa sociedade branca, racista, coronelista, classista, machista (dentre todos os outros “istas” e “fóbicos”), e, politicamente dominada pelos ricos e ricas (afinal temos também um tipo de esquerda classe média alta que não vai em Peixinhos, mas que quer representar pobre)... Temos inúmeros exemplos que podem nos servir como elemento de reflexão para que possamos avançar neste ponto fundamental e fazermos melhor e diferente nas próximas eleições.

Vale apena lembrar um fato histórico: O deputado estadual em Pernambuco Edimir Regis, falecido em 2013, aprovou a lei 7669/78, que garantiu a liberdade de culto e livre atividade para o uso dos espaços públicos para serem realizados os ebós e rituais externos da religião, isentando de retirada de licença ou qualquer tipo de permissão ou registro em federações na prática dos atos ritualísticos e religiosos afro indígenas em Pernambuco. O texto da lei é curto, porém histórico na luta pelo respeito à constituição e à liberdade de culto: “Art. 1º As sociedades que praticam o culto afro-brasileiro poderão exercitar as formas exteriores de sua confissão religiosa, independentemente de registro ou obtenção de licença junto às autoridades policiais.”. O deputado, para a construção da lei, realizou diversas reuniões com sacerdotes como Pai Edu, Nilze Beltron, Manoel Mariano, etc., realizou encontros lotados no Geraldão (antigo centro de eventos de Recife) com os terreiros, celebrou junto às casas de jurema, umbanda e nagô a aprovação da lei... Após esse importante ato legislativo, em sua eleição seguinte, onde se esperava uma votação expressiva dos “candomblés”, ele perdeu com uma votação inexpressiva, referente à sua vitória anterior nas urnas. O próprio, chegou a afirmar que se cada “pai de santo” votasse nele (somente os sacerdotes e sacerdotisas, sem os filhos e filhas), teria sua vitória garantida, devido ao grande números de terreiros existentes em Pernambuco. Este acontecimento, nos mostra que os membros das religiões de matrizes africanas e indígenas, não compreenderam ainda a importância de eleger pessoas que realmente lutam pelo nosso segmento. Mesmo Edmir Regis, sendo um homem branco e de condição social elevada, legislou pela democracia e defendeu a laicidade do Estado, contudo, perdeu, quando acreditou que os terreiros iriam lhe apoiar.

Outro fato que devemos considerar sobre o que está exposto acima, é que mesmo essa lei tendo sido amplamente divulgada, cópias dela foram espalhadas nos terreiros (onde ainda podemos encontrá-las nas paredes), o povo continuou sem entender sua importância, continuando pagando as federações “de cultos afro brasileiros e umbanda” que nunca fizeram absolutamente nada pelos nossos templos religiosos. Portanto, é muito grave o que acontece com nosso Povo. Além de uma ausência completa de entendimento de classe, não há compreensão mínima sobre as leis e suas formas de execução à nosso favor. É assustador perceber o quanto temos que fazer para mudar a realidade de exclusão social, intelectual dos terreiros, mesmo reconhecendo os evidentes avanços que tivemos com a gestão de Lula e a luta dos movimentos de povos tradicionais, movimentos negros e de direitos humanos. Levando em consideração o contexto do triste fato ocorrido com Edmir Regis, e os avanços e retrocessos que tivemos em Pernambuco nestes últimos 40 anos (1978-2018) em torno desse tema, eu ter tido 1513 votos, foi uma vitória animadora, levando em consideração a ausência de dinheiro e estrutura de minha campanha. Campanha de liso, mas que teve votação proporcional maior do que as de muitos já antigos na política, e que mesmo com grana, não conseguiram vencer ou ter ao menos uma votação maior que as suas anteriores.
Isso nos aponta para a necessidade de construir estratégias mais eficazes para garantir vitória nas próximas eleições, já que o Povo disse sim à minha candidatura de forma crítica e consciente. Temos muito o que fazer, o que construir juntos e juntas, o que repensar e trabalhar nas bases, sempre numa perspectiva sankofa, de olhos bem abertos para o passado e construindo nosso futuro com qualificada análise e estratégia.

Nossa candidatura, mesmo sem grana, foi grandiosa e teve apoios de peso. Pessoas de diversos segmentos da sociedade apresentaram solidariedade e seguraram nas mãos de nossa luta, mostrando que a campanha esteve muito para além dos povos de terreiro, mas sim em consonância com a sociedade como um todo. Essa mensagem foi entendida por quem me acompanha por esses mais de 20 anos de luta pelo bem viver coletivo, fazendo de nossa construção na política, um espaço de re-encantamento da política, que está tão desacreditada neste país.

Estou feliz com o resultado de tudo. Foi como esperado. Lutamos e fomos até onde pudemos. Esses últimos meses, foram os melhores meses de minha vida, com toda certeza. Tivemos vitória sim! A vitória da boa luta, da boa construção de rumos futuros e do fortalecimento da fé em nossos ancestrais, pois eles e elas estiveram o tempo todo orientando nossa trajetória.

Fomos vitoriosos também, em ter conseguido eleger todas e todos que queríamos na nossa chapa do PCdoB, como a primeira mulher vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, nosso deputado federal Renildo Calheiros e nosso deputado estadual João Paulo. Isso foi uma construção também nossa, e que nos alegra por sabermos que vamos trilhar juntos e juntas por um Pernambuco melhor nos próximos 4 anos!

Agradeço:

Ao Reis Malunguinho, minha Mãe Oxum, meu pai Ògún, meu Pai Exú, à Paulina, à Boiadeiro, à Major do Dia, à todos exus e pombojiras, ao egun de meu pai Paulo Braz Ifétòògùn, à Jurema Sagrada e a todos espíritos que lutaram juntos comigo nessa campanha! Salve a fumaça e muito axé!

À nossa Vice governadora eleita e presidenta nacional do partido Luciana Santos, por ter me abraçado dentro do PCdoB com tanto entusiasmo, me dando apoio e espaço para desenvolver minha candidatura com total liberdade. 

À Isadora Garcia, a coordenadora de campanha mais linda de todo Pernambuco. Sua dedicação e luta por nossa construção foi admirável. Foi bom demais poder contar com você, que é uma liderança forte em Olinda, chegando a ter mais de 2.500 votos nessa cidade. 2020 vem aí pra gente conseguir concretizar essa vitória nas urnas, como futuro vereador!

À Leo, companheiro da UNEGRO, que acompanhou de perto essa luta com total empenho. Foram dias lindos junto com você. Pudemos trocar muitas informações e lutar com tanto prazer, até o corpo não mais agüentar. Foi bonita demais nossa campanha.

À Jaqueline, minha querida secretária, companheira de todas as horas. Mulher guerreira que aprendi a admirar. Você é incrível e merece todo nosso respeito. Sem você aqui, essa campanha seria inviável pra mim. Obrigado por tudo que fizemos juntos e pelo que ainda vamos fazer, pois luta é o que não falta na nossa agenda de vida. Você foi enviada de Malunguinho, pra somar!

À Alice, que compôs nossa equipe principal de campanha. Com toda sua boa energia, pudemos correr, brigar, virar Olinda e Recife de cabeça pra baixo, pra garantir votos nesse lindo pleito. Você foi a motogirl mais top que eu poderia ter. Valeu Gil, por ter emprestado ela por mais de um mês, vocês duas me ajudaram muito.

À Fequinho, meu afilhado de Jurema e também membro de nossa equipe de luta. Você foi essencial pra fazer essa campanha ter força. Rodamos muito em seu carro, com grana do próprio bolso, pra garantir que nossa plataforma chegasse ao máximo de lugares possíveis. Você foi um braço forte nessa campanha. Sigamos juntos para ampliarmos mais ainda essa luta. Salve Pilão!

À Ceça Silva, mulher negra de Oxum que chegou para somar com muita força na nossa equipe de campanha. Foi de muita luz todos os momentos que vivemos juntos debatendo e guerreando.

À Todxs meus afilhadxs, filhos de santo e amigxs que de uma forma ou de outra contribuíram nessa campanha. Foi de muito axé! Cada panfletagem, cada caminhada, carreata, porta a porta, abordagem nos sinais de trânsito, reuniões, palestras, seminários etc. me fortaleceram muito em todos os momentos.

À todos babalorixás e iyalorixás, juremeiros e juremeiras que votaram em mim e ainda fizeram campanha sem receber grana nenhuma. Muitos sacerdotes e sacerdotisas fizeram uma linda divulgação nas redes sociais e nos terreiros onde eu não pude chegar. Dentre eles e elas, destaco o pai Dedo de Goiana, que foi um Cabo político muito forte em sua cidade. Pai França de Ogun, que abriu sua casa com seus filhxs para me receber e dar apoio total à nossa luta. Pai Freitas, que mesmo do RN, conseguiu muitos votos pra mim em Pernambuco. Pai Cícero de Abreu e Lima, que colocou sua casa a disposição para nossa luta. Mãe Graça de Xangô, Mãe Nenzinha do Acorda Povo, Mãe Terezinha Bulhões, Mãe Denise Botelho, mulher feminista que assumiu voto em mim, mesmo sendo homem. À João Monteiro, Hildo leal da Rosa, ao Afoxé Oxum Pandá, que assumiu nas redes sociais apoio à minha candidatura e ainda me emprestou seu sagrado abebé para abrir e abençoar meus trabalhos no nosso primeiro seminário de política e povo de terreiro dessa eleição. Enfim, foi muita gente... Agradeço a todas e todos!

À Augusto da Gráfica Express, que me salvou todas as vezes que precisei que uma arte fosse feita em tempo recorde. Como sempre um bom parceiro!

À toda minha família.

À Rosilene Rodrigues, ao Mestre Galo Preto, à Dona Zuleide de Paula, à Mestra Ana Lucia do Coco e toda sua família, à Zeca do Rolete e toda sua família, à José Mário Austregésilo, à Sujaan, à Siba, ao Bojo da Macaíba, à Lucas dos Prazeres, à Guitinho, à Joanildo Burity, ao Monge Beneditino e grande liderança religiosa Marcelo Barros, à Zuleica Dantas da UNICAP, à Marcus Carvalho da UFPE, à Andrea Mota, à Rinaldo Aquino, à Josélio do CEBI, à Paulinha Negrali, à Ciani, ao Ilê Oxalá Talabi, à Lucas de Oxalá, ao Povo de Peixinhos, aos maracatus, à Mãe Beth de Oxum, à Paulinho Filizola, à Paulo Rubem Santiago, à Jaci Lima, à Olavo Souza e Noshua, à Professor Rodrigo Corrêa, à Gonzaga Leal, à Edir Carlos, ao Maestro Ademir Araújo, à Wellington Negão, à Juarez Pé no Chão e família, à Sílvio Botelho, Ricardo Herculano, à Ricardo do Menino Rosado, à Tata Emanuel e todo povo de terreiro do bairro da Mustardinha, ao QCM – Quilombo Cultural Malunguinho, à Walter Eudes, ao povo de terreiro de Limoeiro e Carpina, à Pai Ivanildo de Oxóssi, ``a Vado de Pau Ferro e todo povo da Vila das Lavadeiras em Areias, à Ricardo Herculano, à dona Ana e Mary Tozer, à Dona Luzinete de Amparo Bar, à Dona Linda minha querida vizinha, à todos os terreiros que se uniram e votaram em mim, em especial aos terreiros de Olinda, aos meus amigos e amigas que apostaram na minha luta, à todos os meus vizinhos e vizinhas de Peixinhos, que juntaram forças para fazer de minha campanha a mais forte do bairro, enfim, são muitos os agradecimentos... por tudo que me ajudaram e multiplicaram. Temos um qualificadíssimo grupo de pessoas para lutar pelo bem coletivo de nossa sociedade e combater o racismo com todo axé!

Essa luta continua em 2020 pra gente fazer de Olinda um grande campo de batalha dos povos tradicionais e de toda sociedade que acredita que a opolítica pode muder!!

#AlexandreLomi2020!!!!!!!

Modupé! Salve os Povos Tradicionais! Salve os encantos de luz!

Nossa luta é pela igualdade!

Sobô Nirê Mafá!

#QuemédeTerreiroVotaemquemédeTerreiro!
#Haddad #Manu #LulaLivre

Alexandre L’Omi L’Odò

alexandrelomilodo@gmail.com

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Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!