CD Sobô Nirê – meu labor da mata
O CD Sobô Nirê - meu labor da mata é um documento fonográfico criado para propiciar um diálogo da tradição dos cânticos sagrados de Malunguinho com a contemporaneidade e as artes de forma livre, criativa e fundamentada numa pesquisa séria. As toadas do Reis Malunguinho, divindade do panteão da Jurema Sagrada, atravessaram séculos, sendo cantadas cotidianamente nos terreiros através das entidades incorporadas e dos juremeiros e juremeiras. Sucessos tradicionais mais que centenários repetidos de forma ritual em quase todo Nordeste. Sim, toadas são sucessos musicais que atravessam gerações sem precisar da indústria fonográfica, e que podem transcender os espaços sagrados dos terreiros para invadir as plataformas digitais de música sendo reinterpretadas através de artistas ligados ou não à Jurema. Afinal, assim como a fumaça, a arte é livre.
As toadas cantadas na umbanda, candomblé e Jurema, povoam o imaginário da música popular brasileira desde a década de 1940, não sendo qualquer novidade as interpretações livremente artísticas, incluindo efeitos digitais, guitarras, e demais instrumentos, respeitando a liberdade poética de cada artista. Baden Power, Vinicios de Moraes, Clara Nunes, entre outros e outras artistas e sacerdotes, como Pai Edu do Alto da Sé de Olinda, Joãozinho da Gomea, gravaram discos, cd’s, fitas k7, etc, preservando a memória desses cânticos que embalam nossas vidas inteiras, seja dentro dos terreiros ou fora deles.
Há 10 nos guardado na gaveta (2014-2024), esperando ser aprovado em editais públicos de fomento à cultura (pleiteamos mais de cinco vezes, sem sermos aprovados), decidimos encerrar as expectativas com apoios dos governos e vimos à público divulgar este trabalho feito com tanto amor e fé, com tanta dedicação dos artistas envolvidos, que merece ser ouvido deliberadamente e ecoar por todos os meios possíveis, levando a mensagem da Jurema do Reis Malunguinho pro mundo.
O CD Sobô Nirê- Meu labor da mata contém 13 faixas com um mix entre toadas tradicionais e músicas inéditas com criações e arranjos que trazem a identidade sonora de cada artista pernambucano integrante do projeto. O processo de captação, pós-produção e finalização foi realizado no Estúdio Peixe Sonoro (CTCD Nascedouro de Peixinhos/ITEP), a pesquisa histórica e a articulação cultural artística ficaram a cargo do Pesquisador historiador, mestre em ciências da religião e juremeiro Alexandre L’Omi L’Odò, Quilombo Cultural Malunguinho, que concebeu o projeto e participou em todas suas instâncias de realização, sendo o produtor fonográfico da obra. A produção musical esteve a cargo do músico percussionista Rinaldo Aquino, Ogan e L’Omi. A produção geral ficou a cargo do jornalista e juremeiro Ricardo Nunes, que com maestria dedicou todo seu suor para a realização deste projeto. A pesquisa foi extraída do livro ainda no prelo, “Malunguinho e seus cânticos sagrados na Jurema”, que contém mais de cem toadas registradas nos mais de 20 anos de pesquisa realizada por L’Omi.
A proposta inicial era realizar um CD com toadas de Malunguinho, reunindo grande parte de seu arsenal musical na Jurema. Quando o projeto chegou nas mãos de Selma Leite (CTCD Nascedouro de Peixinhos) para gravação Estúdio Peixe Sonoro. Aprovado pelo seu mérito histórico e cultural de preservação de nossas raízes, ela sugeriu a ampliação e o convidasse de outros artistas para criar um universo maior que valorizasse ainda mais o trabalho. Assim foi feito e aceito. Projeto aprovado em um dos editais do Estúdio Peixe Sonoro, conseguiu realizar uma integração valiosa de artista que dedicaram sua criatividade e talento para dar vida a algo inédito e o resultado ficou admirável. Todos os músicos, grupos e pessoas partícipes deste trabalho cederam seus direitos autorais de imagem e som para o projeto.
Este projeto foi assinado como produção do Selo Fonográfico Peixe Sonoro, contando com uma produção colaborativa entre o CTCD Nascedouro de Peixinhos e os artistas convidados: Karynna Spinelli, Bojo da Macaíba, Coco dos Pretos, Bongar, Lucas dos Prazeres e Chinelo de Iaiá, e juremeiros e juremeiras convidados para gravar as faixas com toadas. Pai Vado de Pau Ferro, Pai Marivaldo Cabuêta, Cristina do Arraiá, Mãe Rosa do Palácio de Yemanjá, Thúlio do Bongar, entre outras pessoas contribuíram contando em faixas diversas, umas que estão no CD e outras que no futuro virão à público.
A capa
Desenhada e pintada a punho pelo artista plástico, tatuador e ogan Wellington Nascimento da Silva, o renomado Wellington Tatoo (@manguedemim), a capa traz elementos que retratam o imaginário do Reis Malunguinho na Jurema Sagrada. Utilizando-se de suas cores rituais, verde, vermelho e preto, para dar o tom correto ao trabalho, traduzindo sua cromociência, os desenhos imprimem seus símbolos mais fortes, a estrela de sete pontas, ou estrela de Malunguinho que é destaque principal da arte. Adornada por sete chaves que representam as chaves que abrem ou fecham os portões sagrados das sete principais Cidades da Jurema, aludem ao poder espiritual que essa divindade tem no contexto juremológico da religião, dono das chaves mestras dos encantos. Ao centro, tem sua imagem em destaque, a mesma que podemos ver nos terreiros, quando é cultuado como Exu/trunqueiro (o garotinho preto sentado à espreita, observando quem vem e quem vai). Essa imagem, é a mesma desenhada por Flávio Felipe de Carvalho Filho em 2016, para compor as ilustrações da dissertação de mestrado Juremologia (L’Odò, p. 272, 2017). A pintura que faz a moldura dessa capa, traz elementos tribais africanos e quatro flechas, que cercam, dão forma e sentido semiótico ao que quer falar a arte: Malunguinho é negríndio.
A saudação “Sobô Nirê”, enigmática afirmação secreta e única na tradição da Jurema para uma divindade, afinal não há outra entidade ou divindade que tenha uma saudação só sua como Malunguinho, traz sua mais importante reverência, ainda pesquisada e não traduzida publicamente. O sub título “Meu Labor da Mata”, é um trecho de sua toada: “Malunguinho é meu labor, meu labor da mata... Oh meu labor da mata”, cantada por vezes pelos mais velhos como “oh meu amor da mata”, sendo uma das toadas de melodia e ritmo mais interessantes desta divindade, e também que afirma sua importância na mata sagrada, onde ele é o labor, a força, o ser pujante, a máquina que faz moer toda Ciência dentro dos segredos mestres.
Ficha técnica
Produção
fonográfica: Alexandre L’Omi L’Odò.
Selo e
estúdio: Peixe Sonoro.
Produção
executiva: Selma Leite.
Produção geral: Ricardo Nunes
Técnicos de som: Peixe Sonoro
Produção musical: Rinaldo de Aquino, Alexandre L’Omi L’Odò e Pedro Santos
Produção
Artística, pesquisa, articulação, direção artísitica: Alexandre L’Omi L’Odò.
Pós-produção, mixagem e masterização final: Alexandre L’Omi L’Odò, Marinho, Léo D.
Artistas:
Grupo Bongar, Lucas dos Prazeres, Chinelo de Iaiá, Bojo da Macaíba, Coco dos
Pretos e Karynna Spineli.
Juremeiros
e juremeiras envolvidos: Cristina do Arraiá, Pai Marivaldo Cabuêta, Mãe Rosa do
Palácio de Yemanjá, Juliana Barbosa, Ogan Rinaldo Aquino, Ogan Thúlio da Xambá.
Capa: Wellington Nascimento da Silva.
Serviço:
O CD Sobô Nirê - meu labor da mata, estará acessível gratuitamente em todas as plataformas digitais em 16 de outubro de 2024. Após o lançamento, também disponibiliraremos no YouTube.
Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunuguinho
alexandrelomilodo@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário