Música
Álbum resgata culto aos orixás
Publicado em 22.09.2009, às 21h07
Ao passo em que a nossa cultura se transforma, a memória das raízes afro-brasileiras periga ficar à margem do que nos move, quase sempre pelos impulsos do que está em alta no mercado. Por meio de iniciativa do Serviço Social do Comércio (Sesc), o professor de música José Amaro Santos da Silva reuniu alguns músicos e promoveu uma volta às bases negras da nossa formação sociocultural. Quer incluir orixás no circuito. “Somente os judaico-cristãos não souberam assimilar essa maravilha cultural religiosa”, afirma na apresentação do primeiro disco do grupo Korin Orishá, que será lançado nesta quarta-feira (23), a partir das 20h, no Teatro Santa Isabel.
Batizada de Suíte afro-recifense, a obra busca resgatar manifestações afro-brasileiras que se desenvolveram em território pernambucano. O título de suíte indica a transposição dos cânticos em peças para um grupo de câmara tal qual é a formação do grupo. “Eu tinha a aspiração de ver a música do candomblé tocada por instrumentos clássicos, embora não seja a primeira vez que isso é feito. O maestro paraibano José Siqueira escreveu um oratório de candomblé com base em cânticos dos orixás pesquisados na Bahia. A nossa diferença é que fazemos com cânticos daqui, que são bastante diferentes”, diz José Amaro, regente do grupo, solista de canto e também diretor artístico do projeto.
OUÇA SUÍTE AFRO-RECIFENSE:
<< Faixa 1 - Cânticos para Eshu
<< Faixa 2 - Cânticos para Ogum
O resultado é um diálogo entre instrumentos de corda (violino, viola e violoncelo) e de sopro (flauta, clarineta e fagote), típicos de uma formação clássica, com sabor afro-brasileiro: tanto a percussão, por meio de atabaques do candomblé, abê e gongê, quanto o canto, preservado na língua iorubá, remetem à experiência musical e religiosa africana.
“Nossa ideia é partir das melodias e estruturá-las em polifonias distribuindo numa harmonia entre todo o conjunto. Isso faz com que a música seja altamente valorizada”, acredita José Amaro. Ao lado dele, a solista de canto Anástica Rodrigues imprime timbre feminino aos cânticos.
A apresentação deve seguir a progressão musical do disco respeitando a formatação dos rituais. “Vamos fazer exatamente como se faz nos terreiros: seguindo a roda”, afirma o regente. A suíte tem início com os Cânticos para eshu, segue-se com os Cânticos de ogum até os Cânticos de orishalá, que encerram a jornada. No total, são dez faixas.
RESGATE - “Herdamos uma tradição cultural dos africanos trazidos para o Brasil na época da escravidão. Temos que nos impor a missão de restaurar, reviver ou, pelo menos, não deixar morrer essa cultura”, diz José Amaro.
Com o resgate em mente, o Kori Orishá rodou 16 Estados brasileiros com patrocínio do Sesc. Passou por Acre, Amazonas, Roraima e Tocantins. No Sul, atravessou Paraná e Rio Grande do Sul. Entre vários shows pelo Nordeste, o grupo viajou por vários municípios pernambucanos e terminou a turnê no Rio de Janeiro somando um total de 42 apresentações. O lançamento da suíte é resultado de projeto aprovado pelo Conselho Municipal de Política Cultural da Prefeitura do Recife.
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