segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Malunguinho, guerreiro da paz, Santo da guerra!

MITOS II
Guerreiro da paz, santo da guerra

Ser mito já é algo fora do comum. Ser mito religioso é ainda superior. É atingir a santificação, o endeusamento. Nada tem caráter mais poderoso, mais inquestionável, que um santo, que uma entidade espiritual. Seus seguidores não admitem qualquer dúvida, por menor que seja, sobre a moldagem divina do ídolo. Padre Cícero, Jesus Cristo, Buda, Malunguinho e outros tantos. Eles escaparam da prisão físico-corpórea. Moldaram-se no plano espiritual. Capturados pelo misticismo inerente à alma humana.

Não é fácil chegar lá. Tornar-se sagrado exige muito de alguém. Mais que boas ações, requer milagres. Depois que padre Cícero fez a dita transmutação da hóstia em sangue na boca de uma beata, sua adoração espalhou-se pelo Sertão Nordestino e por onde mais houvesse gente para acreditar.

O povo quer milagres assim. Buscou-os nas pregações de frei Damião e de Antônio Conselheiro. Dois homens que traduzem a fé cega e esmagadora do sertanejo. A busca eterna de quem lhe alivie o sofrimento. O povo é assim mesmo. Quando tudo o mais falha, procura algo superior para se apegar. "Quando se perde a credibilidade na ciência e na política, apela-se para o sobrenatural. Entre as camadas mais populares, devido à ignorância das pessoas, o endeusamento ocorre com mais facilidade. O Sertão Nordestino é o melhor exemplo", comenta o analista político Michel Zaidan.

Passa-se o tempo, a morte chega aos pregadores. Com ela, novos milagres. O endeusamento frutifica. Caso de Padre Cícero e frei Damião. Eles produziram pelo sertão uma fé comparada ao maior de todos os messiânicos: Jesus Cristo. Talvez nem tanto. Tarefa árdua é achar um exemplo melhor que Jesus. Quem sabe Maomé, para os mulçumanos? Ou mesmo Maria, mãe do próprio Cristo, para os católicos?

Não. Nada foi ou é como Jesus. Ele agregou em si a fórmula mais completa para obter-se um mito: morte sofrida e no auge da vida " vítima de traição " preocupação com o próximo " filiação divina " amparo aos mais fracos " promessa de uma vida além desta = o mais perfeito dos mitos. E ainda mais: milagres. A combinação moldou um jovem judeu pregador em um deus feito homem. Um mero judeu que angariou um rebanho de milhões de pessoas em dois milênios de história. Que passou a dividir o trono com o próprio Deus. Que incorpora este mesmo deus, tido antes como único e indivisível. Incontestável como salvador do mundo, símbolo máximo da bondade e do amor.

SANTOS GUERREIROS - Até se entende a santificação de São Jorge, São Miguel Arcanjo, Santo Expedito e Santa Joana D'Arc. Guerreiros devotados ao Senhor. Agora explicar por que Mao Tse-Tung, Che Guevara e Malunguinho assumiram áureas religiosas, é complicado. Eles guiaram suas vidas pela pregação ou pelos louvores a Deus? Difícil crer. Mas o povo quis assim, moldá-los como santos.

Mao transformou a China de imperial em comunista. Político, sem nunca ter exercido qualquer função próxima à religiosidade. Mas ao povo não importa. Nas atuais enchentes que abateram o território chinês, aos invés de Buda, é para Mao que o povo está enviando suas preces.

Guevara foi outro que sempre guiou sua vida pelo comunismo ateu e materialista. Mas ao povo não importa. Quando seus restos mortais foram encontrados, centenas de pessoas acenderam velas no local, rezaram e fizeram promessas para um dos maiores ícones de revolução armada.

Malunguinho foi, assim como Zumbi dos Palmares, um líder de quilombo. O de Catucá - mais ou menos onde ficam hoje os municípios de Igarassu e Goiana. Guerrilheiro. Mas ao povo não importa. As áreas onde reina agora são os terreiros de umbanda. Visto como uma entidade desencarnada, digna de oferendas e cânticos.

Às vezes, para a massa não basta um guerreiro. Não basta a força física e intelectual. Não se quer um herói. Tamanha é a situação de desespero, necessita-se de alguém com forças acima da compreensão humana. Quer-se um santo. Um salvador de almas. Já que neste mundo a sina vai ser sempre o mesmo penar.

Fonte: http://www2.uol.com.br/JC/_1999/80anos/80d_15.htm

Texto extraído da internet e modificado por mim.

Foto: Alexandre L'Omi L'Odò.

Alexandre L'Omi L'Odò.

QCM- Quilombo Cultural Malunguinho

174 anos Resistindo!

Fazendo a diferença em Pernambuco.

Nguzo Malunguinho!!!

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