Espaço internacional de discussão e troca de saberes. Local para estreitar nossas negras discussões e lucubrações sobre a Música Percussiva (Yorùbá/afro-descendente e nordestina) e as religiões das matrizes indígenas e africanas, além de todo o seu imaginário histórico, social, cultural e pedagógico. Local de exposição de vivências práticas com a religião negra!!!
Ladrões invadiram, nesta segunda-feira, o terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro. Entre os 20 quartos que foram invadidos e revirados está o espaço sagrado de Oxalá. “Foi um episódio de vandalismo”, reclamou o ogã Ribamar Daniel, presidente do Conselho Civil da Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá.
O crime aconteceu por volta das 4h30. Pouco depois, o segurança do terreiro se deu conta de que os quartos do terreiro haviam sido invadidos. De acordo com o ogã, os bandidos fizeram um buraco que deu acesso à cozinha da casa onde os filhos de santo se hospedam durante os trabalhos e rituais.
“Mas não tinha nada de valor lá. Estava tudo fechado, os trabalhos foram finalizados e a Casa estava isolada”, explicou o ogã. Para Daniel, o crime pode ter sido praticado por pequenos usuários de drogas da localidade. “É uma falta de respeito para com um espaço religioso”, indignou-se.
Esta não é a primeira vez que o templo é invadido. “Todas as vezes registramos queixa na 11ª CP (Delegacia de Tancredo Neves)”, lembrou o ogã.
Providência - Indignado com a ação, Ribamar Daniel disse que entrou em contato com o secretário da Segurança, César Nunes, que se comprometeu a enviar uma viatura ao local.
Nesta segunda à tarde, uma equipe do Departamento de Polícia Técnica (DPT) realizou a perícia. “Esperamos que haja um retorno por parte dos poderes públicos”, declarou o ogã.
Após a perícia, o local por onde os bandidos invadiram o terreiro foi fechado, assim como foram lacradas as portas dos quartos.
O crime vai ser apurado por policiais do Serviço de Investigação (SI) da 11ª CP (Tancredo Neves), comandados pela delegada plantonista Simone Moutinho.
Caetano Veloso: Um sujeito alfabetizado, deselegante e preconceituoso Autor: Antonio Barreto, natural de Santa Bárbara-Ba.
Eu já estava estressado Temendo até por vingança. Meus alunos na escola Leitores da ‘cordelança’ E a galera em geral Sempre a me fazer cobrança.
Todo mundo me acusando De cordelista medroso Omisso, conservador Educador preguiçoso Por não me pronunciar Sobre Caetano Veloso.
Logo eu, trabalhador, Um pouco alfabetizado Baiano de Santa Bárbara Sertanejo antenado Acima de tudo um forte... E por que ficar calado?
Resolvi tomar coragem E entrei logo em ação. Fui dialogar com o povo E colher a opinião Se Caetano está correto Ou merece punição.
Lápis e papel na mão Comecei a anotar Tudo em versos de cordel Da cultura popular A respeito de Caetano Conforme vou relatar.
Artista santo-amarense Amante da burguesia Esse baiano arrogante Cheio de filobostia Discrimina o presidente Esbanjando ironia.
Caro artista prepotente Tenha mais discernimento. Seja um Chico Buarque Seja Milton Nascimento Seja a luz do Raul Seixas Deixe de ser rabugento.
O Caetano deveria Ser modesto e mais gentil Porém o seu narcisismo Que não é nada sutil Faz dele um homem frustrado Por ser bem menor que Gil.
Seu comportamento vil É algo de outra vida Ele insiste em muitos erros Não cura sua ferida Por isso sua falação É de alma involuída.
Caetano é um arrogante Partidário da exclusão O que ele fez com Lula Faz com qualquer cidadão Sobretudo gente humilde Que não tem diplomação.
Por que este cidadão ( o Caetano escleroso ) Não criticou Figueiredo Presidente desastroso ? Além de aproveitador O Caetano é medroso.
Esse Cae que ora vejo Não representa a Bahia. Ser o chefe da Nação Esse invejoso queria Mas a sua paranóia Pouco a pouco lhe atrofia.
Já pensou se o Caetano Fosse então educador ?! “Mataria” os seus alunos Pela falta de pudor Pela discriminação Pelo brio de ditador.
Ele não leu Marcos Bagno Pois é leitor displicente. Seu preconceito lingüístico Contra o nosso presidente Discrimina Santo Amaro Terra de Assis Valente.
Ele ofende até os mortos: Paulo Freire, Gonzagão Patativa do Assaré O Catulo da Paixão Ivone Lara, Cartola Pixinguinha, Jamelão...
Caetano é um imbecil Da ditadura um amante. Um artista egocêntrico Decadente ambulante Se julga intelectual Mas é mesmo arrogante.
A Bahia está de luto Diante da piração Desse artista rabugento Que adora a exclusão, Vaca profana, ególatra Que quer chamar a atenção.
Vai de reto, Caetanaz Pega o Menino do Rio Garoto alfabetizado Que te provoca arrepio. Esse sim, não é grosseiro Nem cafona pro teu cio.
Um burguês reacionário Que odeia a pobreza. Ele não gosta de negro E só vive na moleza. Sempre foi um lambe-botas Do Toninho Malvadeza.
Vou atender meu cachorro Pois é algo salutar Muito mais que prazeroso Que parar pra escutar O Caetano elitista Que começa a definhar.
Certamente o Caetano Esqueceu do Gardenal. Bem na hora da entrevista Lá se foi o bom astral Desandou no Estadão Dando um show de besteiral !
Caetano ‘Cardoso’ segue Sempre a favor do “vento” Por entre fotos e nomes Sem lenço nem argumento Vivendo só do passado, Cada vez mais ciumento.
Eu respeito a sua arte Mas preciso declarar Que quando não tá na mídia Cae começa a atacar Sobre tudo as pessoas De origem popular.
O Caetano gosta mesmo É de gente diplomada: Serra, Aécio, Jereissati, Toda tribo elitizada... Bajulou FHC Que fez muita trapalhada.
O Caetano discrimina Pois está enciumado. Na verdade, o nosso Lula É um homem educado. Um nordestino sensível Muito mais que antenado.
Dona Canô, com 100 anos Não perdeu a lucidez. Mas seu filho Caetano Ficou pirado de vez Transformando- se num “cara” De profunda insensatez.
Ofendeu Marina Silva Através do Silogismo Mistura de Lula e Obama Logo quer dizer racismo: Mulher cafona, grosseira Analfabeta que abismo!
Adoro Mabel Veloso, Betânia, dona Canô... Para toda essa família Meu carinho, meu alô. Mas o mestre Caetanaz Já está borocoxô!
É proibido proibir O cordelista versar Pois conforme disse Cae “Gente é para brilhar”. Então permita ao poeta Liberdade de pensar.
Brasileiros, brasileiras A Bahia está de luto. Racistas em nossa terra Radicalmente eu refuto. Estamos envergonhados, Todos fomos humilhados Oh Caetano ‘involuto’.
FIM Salvador, triste primavera de 2009 ___________
Bom, sem comentários, parabéns ao Antônio Barreto, autor desta pérola nordestina, muito bom mesmo! Caetano Veloso agora tem que chiar!! Eu sou um fanzasso dele, mas infelizmente ele tem declinado incrivelmente, é uma pena mesmo.
Senado aprova projeto que regulamenta profissão de repentista Foi aprovado, por unanimidade, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, nesta quarta (25), o projeto que regulamente a profissão de cantadores e violeiros improvisadores; emboladores e cantadores de coco; poetas repentistas, declamadores e escritores da literatura de cordel que vão passar a integrar o rol de profissionais reconhecidos pela CLT. Através do projeto esses profissionais passam a ter benefícios como o direito à aposentadoria. Com a aprovação da nova lei - que e ntra em vigor na data de sua publicação oficial com a sanção do Presidente da República - depois de séculos de som e suor, os repentistas vão ter o seu trabalho reconhecido e sua arte valorizada.
ANILDOMÁ WILLANS DE SOUZA PONTO DE CULTURA ARTES DO CANGAÇO FUNDAÇÃO CULTURAL CABRAS DE LAMPIÃO SERRA TALHADA - PE.
O Mestre Galo Perto (www.myspace.com/mestregalopreto), está concorrendo no edital Conexão VIVO 2009. Publico aqui a notícia para solicitar a ajuda dos nossos amigos de luta e cultura para votar e fazer com que o coco rode o Brasil trocando e recriando música de qualidade dentro do âmbito nacional.
Toda galera que se interessar em nos ajudar pode estar também copiando o linc da VIVO e encaminhando através de seus emails para toda sua rede de amigos. Isso nos ajudará a divulgar a figura historica e lenda viva do Mestre Galo Preto.
*OOO* Nesta sexta feira dia 27/11/2009, estará no programa Voz do Sertão, com a apresentadora Roberta Clarissa, da Rádio Folha FM 96,7 PE, o Mestre Galo Preto, que levará toda sua história e música para o programa mais nordestino das rádios FM do Brasil.
A entrevista será realizada no horário de 12 às 13h, com muito coco sertanejo, brejeiro, praieiro e de umbigada, além de sua tradicional e sofisticada poesia de repente e embolda, tradição essa preservada com muita honra pelo Mestre.
Será possível escutar durante a entrevista, cocos já gravados do Mestre nos Cd's Coquistas de Olinda Contra a Violência e Coquistas de Olinda na Prevenção das DST/AIDS, trabalhos realizados pelo Galo Preto nos anos de 2007 e 2008.
A conversa pretende ser longa, pois sendo ele o último representante vivo do coco do quilombo de Santa Isabel em Bom Conselho de Papa Caças/PE, traz em si toda trajetória dos negros cantadores daquelas terras.
Não esqueçam, Rádio Folha FM 96,7 no horário de 12 às 13h nesta sexta dia 28/11/2009, contamos com vossa audiência. Visitem no blog do programa: www.vozdosertao.blogspot.com
Foto: Laila Santana/PE
Rádio Folha FM 96,7 Av. Marquês de Olinda 86 2º andar, Bairro do Recife.
*oooo* Sem dúvidas este será um evento impedível para todos que estão interessados em ver novidades na área da música pernambucana. As seis atrações que farão parte deste dia de confraternização e pesquisa são compostas pelos próprios alunos a faculdade, e que prometem dar show no solzão do estacionamento da universidae.
Recomendo para todas e todos que curtem um som bem moderno e cheio de requinte, típico de quem faz o curso de Produção Fonográfica na AESO!!
Lembro que este evento acontece bem no dia Nacional da Consciência Negra, algo deve fazer mensão a esta data importantíssima para o povo brasileiro.
Ogans do Sítio de Pai Adão, tocando os Ilús. Foto: Alexandre L'Omi L'Odò. ****
Pernambuco recebe o maior festival de tocadores de terreiro do Brasil, o Alaiandê Xirê. o Xangô do Sítio de Pai Adão durante cinco dias se alegrará com as tradicionais batidas dos tambores sagrados.
É com prazer que posto aqui a programação que felizmente estou incluido para falar sobre a Jurema Sagrada, tema este que é de nosso pertencimento também, por causa dos trabalhos do Quilombo Cultural Malunguinho, entidade que coordeno.
Teremos a magnífica presença do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, que coordenará a mesa sobre Rítmos Afro Brasileiros. Adorei a idéia e estarei lá para presenciar um de meus mestres discutindo percussão!
Pode entrar que o Xangô é vosso!
Alexandre L'Omi L'Odò.
De quarta (18) a domingo (22), o Centro de Cultura Afro Pai Adão, no bairro de Água Fria, no Recife, recebe o festival itinerante Alaiandê Xirê. Em sua 12ª edição, o evento homenageia os Alabês, Xicarangomas e Runtós, sacerdotes músicos dos terreiros de candomblé. Todas as mesas redondas e festas são abertas ao público.
O festival será no Terreiro Ilê Obá Ogunté, mais conhecido como Sítio de Pai Adão, local fundado em 1875 por Inês Joaquina da Costa, Yfá Tinuké, também conhecida como Tia Inês, africana oriunda da cidade de Oyó (Nigéria) que o dedicou a Yemanjá. O local foi tombado em 1985 e é Patrimônio Histórico e Cultural de Pernambuco.
SERVIÇO:
XII Alaiandê Xirê Quando: de 18 a 22 de novembro Onde: Terreiro Ilê Obá Ogunté - Sítio de Pai Adão – Águia Fria - Recife Aberto ao público.
Programação:
Dia 18/11 18h30 - Abertura Oficial, com saudação aos ancestrais e aos orixás e homenagens 20h30 - Lançamentos de literários e relançamento do CD “Korin Orishá”, de José Amaro dos Santos 21h - Apresentação das delegações de Alabês, Xicarangomas e Runtós
Dia 19/11 9h - Mesa Redonda: Alaiandê Xirê – História e Memória Coordenador: Manoel do Nascimento Costa (Manoel Papai)/PE – Babalorixá do Sítio de Pai Adão e Diretor do Centro de Cultura Afro Pai Adão - Rita Virgínia Rodrigues do Rio/BA – Omorixá do Ilê Axé Opó Afonjá, Secretária Executiva do Alaiandê Xirê e Educadora - Luiz Carlos Austregésilo Barbosa/BA – Iperilodé do Ilê Axé Opó Afonjá, Médico Psiquiatra e Professor do Curso de Medicina da FTC - Roberval José Marinho/BA – Folojutogun do Ilê Axé Opó Afonjá, Artista Plástico e Professor da UNB
10h30 - Mesa Redonda: A História das Religiões Africanas em Pernambuco (Nagô, Xambá, ketu, Angola, Jêje, Umbanda e outras) Coordenador: Roberto Mauro Cortez Motta/PE – Antropólogo - Adeildo Paraíso da Silva (Ivo do Xambá)/PE – Babalorixá da Casa Africana Xambá - Mãe Elza/PE – Iyalorixá do Terreiro Yemanjá Ogunté e Membro do Grupo de Mulheres do Culto Afro - Iyá Beatriz Moreira Costa (Mãe Beata)/RJ – Iyalorixá do Ilê Omi Ojú Arô - Valéria Costa/PE – Pesquisadora 12h - Almoço 14h
- Mesa Redonda: Turismo Afro Pernambucano Coordenador: Samuel de Oliveira/PE –Secretário de Turismo da Cidade do Recife - Eroiltom Pereira dos Santos/PE – Coordenador Estadual do UNEGRO - Ana Cristina Moraes/PE – Autora do Projeto Turismo Afro Pernambucano - Inaldete Pinheiro de Andrade/PE – Mestra em Educação
16h - Mesa Redonda: A Lei 10.639 e a Educação nas Escolas Públicas Coordenador: Ceça Axé/PE – Professora e Presidente do Centro de Cultura Afro Pai Adão -Fátima Oliveira/PE – GTERÊ - Claudilene Silva/PE – Mestra em Educação - Jorge Bezerra de Arruda/PE – Secretário do CEPIR 18h- Apresentação das delegações de Alabês, Xicarangomas e Runtós
Dia 20/11
9h - Mesa Redonda: Umbanda para todos nós e a Jurema Sagrada Coordenador: Edson Axé/PE – Diretor do Centro de Cultura Afro da Prefeitura da Cidade do Recife - Jorge Bezerra de Arruda/PE – Secretário do CEPIR - Alexandre L’Omi L’Odò/PE – Quilombo Cultural Malunguinho (kipupa) - Ângelo Mário do Prado Pessanha/RJ – Babakekerê do Ilê Axé Aiyrá Untinlé e Doutor em Educação com especialização em Antropologia
10h30 - Mesa Redonda: População Negra e a Cidadania Coordenador: Valteir Silva/PE – Professor de Filosofia da UFPE e Presidente do NEAB - Bernadete Azevedo/PE – Promotora de Justiça e Coordenadora do GT Racismo - Henrique Cunha/PE – Doutor em Educação - Vera Regina Barone/PE – Presidente do Grupo Uiala Macajé - Air José Souza de Jesus/BA – Babalorixá do Ilê Odô Ogê 12h - Almoço
14h - Mesa Redonda: A Força das Iyás nas Religiões de Matriz Africana Coordenador: Iyá Maria Helena/PE – Iyalorixá - Iyá Lúcia Crispiniano/PE – Iyalorixá - Iyá Lúcia dos Prazeres/PE – Iyalorixá e Mestra em Educação - Iyá Lúcia Costa/PE – Iyalorixá do Terreiro Obá Ogunté - Iyá Nice Spindola/BA – Iyalarê do Alaiandê Xirê e Omorixá do Ilê Axé Iyá Nassô Oká
16h - Mesa Redonda: Ritmos Afro-Brasileiros Coordenador: Naná Vasconcelos/PE – Percussionista - Jailsom Viana Chacom/PE – Membro do Maracatu Porto Rico e Dirigente do Batuque - José Amaro da Silva/PE – Babalorixá do Terreiro Obá Okosô e Professor de Música da UFPE - Dito de Oxossi/PE – Babalorixá e Presidente do Afoxé Ilê Egbá - Edivaldo de Araújo Santos (Papadinha)/BA – Alabê do Ilê Axé Iyá Nassô Oká e Babalaxé do Ilê Axé Iyá Omin Lonan 18h - Apresentação das delegações de Alabês, Xicarangomas e Runtós
Dia 21/11 - Abertura das Festas de Yemanjá em Recife 22h - Abertura das festas com ritmos e cânticos na língua yorubá para o Orixá Exú seguido de cânticos para os demais Orixás. 1h - Ogãs e Coral de Filhos de Santo do Sítio do Pai Adão entoarão cânticos para Orumilá, seguidos pela saída de caravana com destino a praia de Boa Viagem onde será realizada oferenda a Yemanjá (ritual da panela).
Dia 22/11
14h - Apresentação das delegações de Alabês, Xicarangomas e Runtós 20h - Anúncio da Cidade sede do XIII Alaiandê Xirê – Festival de Alabês, Xicarangomas e Runtós / Coral, acompanhado pelos Tambores Sagrados, entoará louvores a Oxalá dando por encerrada as festividades
Não havia data melhor. Em plena semana da Consciência Negra, a teledramaturgia global reafirma, mais uma vez, a pura reprodução de imagens, palavras e ideais racistas em horário nobre.
Ao elencar a atriz negra Thaís Araújo para protagonista de sua novela das nove, a TV Globo, através de seu funcionário Manoel Carlos, parecia querer responder ao Estatuto da Igualdade Racial idealizado pelo movimento negro que não seria necessário estabelecer cotas para atrizes e atores negros; bem, parece não ter sido à toa que justamente no momento de uma decisão histórica quanto ao conteúdo do referido Estatuto, a Globo tenha lançado ao ar duas novelas com protagonistas negras, atrizes que inclusive têm uma postura racial condizente às suas trajetórias, como são Thaís Araújo e Camila Pitanga. Nas entrelinhas, previa-se uma forjada justificativa à sociedade das "desnecessárias" cotas raciais para os meios de comunicação, já que este espaço vem sendo ocupado pelo núcleo negro da Globo. Convenhamos, uma jogada de mestre; assim, evita-se o "mal maior" para a Consciência Branca do comando global, que é obedecer a lei e fazer cumprir os direitos da pessoa, da população e dos povos negros.
Pois então que nesta semana, no capítulo que foi ao ar na noite do 17 de novembro, com precisão cirúrgica o autor desenhou a cena mais representativa possível da ópera racista contra o verdadeiro protagonismo negro. A suposta protagonista da novela, a personagem de Helena, após ser retirada de seu núcleo familiar negro para transitar exclusivamente num núcleo branco e assim ser sujeita a traições e humilhações, é posta de joelhos diante de uma de suas antagonistas brancas - já que, para uma negra, não basta uma só antagonista, devendo vir elas em número de três: a amante do marido, a filha mimada e infantilizada do marido e a ex-mulher do marido. Não apenas de joelhos, deve pedir perdão de cabeça baixa; não apenas de cabeça baixa, sob o olhar duro e inflexível de sua então dominadora; não apenas isso, como se já não fosse o bastante, deve pedir perdão e ter por resposta uma bofetada no rosto. Para finalizar a cena, a personagem desabafa com uma das melhores amigas que "devia ser assim".
A idéia de protagonista negra, na Globo, enfim foi definida claramente. Uma heroína que, se inicialmente surgia diante de um drama familiar, afirmando um núcleo negro protagonista, como âncora, marco e raiz, veio sendo reduzida dramaturgicamente a pobre vítima de suas três antagonistas brancas, tendo estas enfim recebido mais espaço de visibilidade que a suposta protagonista. O papel, de central, tornou-se periférico, apoio para a virada de jogo das outras atrizes, que passam a receber os aplausos da população e das "críticas" noveleiras de plantão, prontas para limar a atriz negra por seu papel "sem graça".
Ou talvez, pensa o autor que pode salvar o papel de Helena pondo-a no lugar em que acha pertencer à mulher negra. Agora sim, a Globo assinou embaixo de suas verdadeiras posturas ideológicas - mais diretamente, de seu racismo.
Rebeca Oliveira Duarte
Advogada e Cientista Política do Observatório Negro
"Não me digas que não podes; querendo Deus e dando-te coragem, poderás." (Sócrates, em Platão, "Teeteto")
Rebeca Oliveira Duarte Observatório Negro Rua do Sossego, 253 - sala 02 - Boa Vista Recife-PE - CEP 50.050-080 F: 00 55 81 34231627/94211435 observatorionegro@gmail.com _________________________
Publico aqui o texto da companheira Rebeca Oliveira do Observatório Negro de PE. De fato se faz necessário uma avaliação crítica dos conteúdos que as emissoras de televisão fazem em suas programações. Um fato detes deve ser levado ao conhecimento público, pois o racismo sempre aparece nestas novelas acredito eu por patrocínio de racistas que utilizam o meio para efetivarem seus crimes.
Vamos discutiondo e ficar antenado é o melhor a se fazer nestes dias de "Consciência Negra"!!!
O documentário Festa da Lavadeira - Sou do Povo, Sou a Festa - lançado na Casa da Rabeca do Brasil em Olinda (PE) -, mostra como uma manifestação que começou como uma brincadeira entre familiares e amigos se tornou patrimônio cultural de Pernambuco. A festa reúne cerca de 60 mil pessoas todos os anos e já faz parte do calendário turístico do estado. Acontece desde 1987, no dia 1° de maio .
O vídeo traz depoimentos de moradores da comunidade pesqueira da Região do Paiva e, ainda, personalidades, como o ator e presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Sérgio Mamberti, o deputado federal Fernando Ferro, e a pesquisadora Rúbia Lossio, entre outros. Além de englobar todos os aspectos tradicionais e religiosos dessa manifestação cultural, o documentário também ressalta e justifica a importância de se preservar e valorizar as culturas populares.
Realizado com o patrocínio da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SID/MinC), por meio do Fundo Nacional de Cultura (FNC), tem roteiro de Amin Stepple, direção de Teta Barbosa e direção executiva de Mário Rios.
Considerada uma das festas mais populares de Pernambuco, a Festa da Lavadeira foi um dos selecionados do Prêmio Culturas Populares 2007 - Edição Mestre Duda - 100 Anos de Frevo desenvolvido pela SID/MinC. Também foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/MinC) como o melhor projeto da Região Nordeste para a divulgação e difusão da Cultura Popular.
*Esta festa é um patrimônio de Pernambuco, nunca poderá acabar por causa do racismo e do preconceito com as nossas tradições. Peço aqui que o poder público brasileiro se coloque frente na defesa de nosso patrimônio cultural, pois se faz injustificável qualquer interferência ou impedição na realização desta Festa, que é a maior festa da cultura popular do mundo.
Amigos, é com enorme prazer que anexamos o convite da PASSEATA DA VITÓRIA, concernente ao TOMBAMENTO DO SÍTIO DO ACAÍS, Alhandra/PB, que será realizada no próximo dia 15 de novembro, com a saída do onibus prevista para 08 hs, da Praça do Coqueiral.
Só nos resta agradecer o Governador da Paraíba, Dr. José Tarjino Maranhão e o Diretor do IPHAEP, Prof. Damião Ramos Cavalcanti, que tornaram um grande sonho denominado ACAIS em realidade.
Esse sonho não pertence à Sociedade Yorubana Teológica de Cultura Afro-Brasileira, mas de todos aqueles que se manifestaram e lutaram em prol do tombamento.
Atenciosamente, Eduardo Fonseca Jr. & Joseane Garcia Abrahao
Candomblé à Francesa segunda-feira, 9 de novembro de 2009por Jefferson Loyola
O candomblé tem raízes milenares e chegou ao Brasil pelas mãos dos escravos vindos da África, trazidos pelos portugueses.
Naquela época, o candomblé foi proibido e até 1946 foi considerado crime.
Para continuarem cultuando sua religião no Brasil, os escravos tiveram que usar o sincretismo dos orixás (guardião de cada existência humana) com os santos católicos, colocando no mesmo altar Ogum e São Jorge, Oxum e Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora Aparecida, Oxossi e São Sebastião, entre outros.
Durante todo esse tempo, só sabiam dos ritos que ocorriam dentro do Candomblé as pessoas que o freqüentavam, o que acabava gerando inúmeros mitos sobre o que acontecia dentro dele.
Os rituais religiosos eram passados de Babalorixás (Pais de Santo) ou Iyalorixás (Mães de Santo) para os filhos que frequentavam o Ilê (casa de santo ou terreiro).
Porém, as coisas foram evoluindo e a maneira de se passar tradições religiosas mudaram, coisas que eram passadas apenas oralmente de pai para filho, agora também são passados a partir da escrita e do audiovisual.
Um grande exemplo disso é a escritora e Iyalorixá Giséle Omindarewá Crossard, 87 anos, que publicou vários livros divulgando a religião afro-brasileira, como “Awô: O Mistério dos Orixás”.
Publicado em 2007 pela editora Pallas, suas 216 páginas relatam os mitos e lendas dos orixás, os rituais sagrados dentro do ronkó (quarto de santo onde se recolhem as pessoas para obrigações de tempo de santo ou iniciação) e outros detalhes desta religião que para muitos ainda é um mistério e que por isso é alvo de muitos preconceitos.
Primeira estrangeira a se tornar mãe de Santo no Brasil, sua trajetória se iniciou no final dos anos 60.
Na época esposa de um embaixador francês, ela foi a uma festa de candomblé a convite de sua empregada, em Duque de Caxias.
Era dia 5 de dezembro de 1959 e na noite anterior o terreiro fizera uma festa em homenagem a Oyá (orixá feminino, dominadora dos raios, ventos e tempestades).
Giséle era católica e não tinha nenhuma ligação com a cultura africana, mas desde o momento que entrou naquele lugar soube que dali para frente sua vida seria diferente.
“Quando os ogãs tocaram para Yemanjá, eu me senti estranha e fui parar no chão, sem consciência”, conta ela em entrevista por e-mail.
Bolada
Giséle havia “bolado no santo” (quando um determinado orixá escolhe e mostra para todos os presentes que você está sendo indicada para ser iniciada). “No início resisti, mas, após constantes dores de cabeça, acabei cedendo”, lembra. Assim, ela foi iniciada no santo pelo famoso Babalorixá Joãozinho da Gomeia.
Após 21 dias de recolhimento dentro do ronkó, nasceu para outra vida e dentro da casa de santo deixou de ser conhecida como Giséle para ser chamada por sua digina (nome dado à pessoa quando se inicia para o santo): Omindarewá, que significa “água límpida”.
Giséle se separou, passou uma temporada na França e em 1972 voltou para trabalhar como conselheira pedagógica do Serviço Cultural Francês.
Quando voltou, Joãozinho já havia falecido há um ano e a ex-embaixadora estava decidida a manter-se afastada do santo.
Entretanto, sofreu um grave acidente de carro e foi levada pelo antropólogo Pierre Fatumbi Verger, igualmente francês e ligado ao santo, à casa do babalorixá Balbino Daniel de Paula, que se propôs a ajudá-la.
Onze dias depois do acidente, era aniversário de seu santo e ele fez questão de preparar oferendas a Yemanjá – seu santo de cabeça.
Mesmo sem poder se mexer, o orixá veio e dançou em seu corpo, deixando Balbino encantado por seu santo. Ela acabou dando continuidade de sua vida de santo com Balbino de Xangô e hoje tem uma casa de santo chamada “Ilé Àsé Ìyá Atara Magba”, na Rua Almirante Tamandaré, nº 8, Parque Eqüitativa, localizado em Santa Cruz da Serra.
Michel Dion lançou um livro falando sobre ela, também da editora Pallas, que se chama “Omindarewá: Uma francesa no candomblé”. E este ano estreou o filme "Giséle Omindarewá", na Maison de France (RJ), um evento inserido nos festejos do ano da França no Brasil.
___________________ *Publico aqui esta matéria enviada para meu email por minha amiga iyá Iane, sacerdotisa de Oyá de Macaé-RJ. Recomendo à todas e todos acistirem o filme. Ele tem uma qualidade grandiosa e coloca uma discussão em pauta: O candomblé é uma religião livre literalmente!
Elizabeth de França Ferreira, a inesquecível Mãe Betinha para todo o seu povo, nasceu em 29.11.1909. Há cem anos, a cultura afrodescendente brasileira ganhou um nome de força comparável apenas à das águas de Iemanjá Sabá que lhe guiavam os passos. O Pólo de Saúde e Saberes Afro Brasil lança o projeto Memorial Mãe Betinha, para que este grande exemplo continue vencendo o tempo e perpetuando os seus ensinamentos. O Memorial Mãe Betinha, Elizabeth de França Ferreira, é um projeto do Pólo Nacional de Saúde e Saberes Afro Brasil, que tem como metas, estimular e apoiar as comunidades terreiro no desenvolvimento de atividades ligadas à saúde e cidadania em seu entorno social.
O Memorial Mãe Betinha se integra às demais atividades desenvolvidas pelo Pólo na valorização de um personagem de grande importância em diversas esferas. Para o Candomblé, Mãe Betinha representou a resistência da religião à intolerância no período do Estado Novo e a preservação de um formato de culto de origem iorubana, o xangô recifense ou nagô em sessenta e cinco anos de sacerdócio. Em sua atuação à frente da comunidade do Ilê Axé Yemanjá Sabá Bassamí, Mãe Betinha representou liderança, consciência e força na defesa dos direitos e da posição da mulher na sociedade. Seu exemplo ainda vai além da esfera religiosa, quando trouxe para um dos bairros mais populosos e carentes da Região Metropolitana do Recife, olhares nacionais e internacionais que transformaram o seu terreiro em uma reconhecida fonte do saber popular.
O Memorial contará com exposição permanente de fotografias, vídeos e objetos que ilustrem a figura da yalorixá Betinha de Yemanjá Sabá e sua tradição. O acervo será construído a partir da disponibilização de material por familiares, amigos, descendentes na religião e pesquisadores que a tomaram como referência. A estrutura física cedida para o Memorial será o antigo local reservado por Mãe Betinha para atender e aconselhar os que lhe procuravam. O espaço foi preservado em suas características básicas, mesmo após o fechamento do terreiro, decorrente do falecimento da sua zeladora.
A inauguração do Memorial será realizada no dia 29.11.2009, em comemoração pelo centenário de Mãe Betinha. O local ficará aberto para visitas individuais ou em grupo de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, mediante agendamento, nos dias de funcionamento do Pólo Afro Brasil e das atividades religiosas públicas do terreiro.
A inauguração do Memorial contará com a presença de autoridades, pesquisadores, lideranças sociais e religiosas, familiares e descendentes do axé de Elizabeth de França Ferreira, além da comunidade que cresceu ao redor do terreiro que conta aproximadamente 70 anos de história. Neste dia serão promovidas palestras sobre a história de Mãe Betinha e sua atuação na valorização e preservação da identidade afro-descendente em 70 anos de sacerdócio, debates sobre a luta histórica contra a intolerância racial e religiosa, exibição do premiado vídeo As Yalorixás do Recife, que reúne mulheres ícones da cultura negra recifense desde o século XIX, apresentações do Afoxé Omim Sabá, do Projeto Capoeira São Salomão, feira de arte, literária e coquetel aos convidados. Após os debates e coroando o evento, acontecerá a Festa de Iemanjá do Ilê Iyá Axé Ogê L´Awô, dentro da tradição Ketu, que sucedeu o Ilê Axé Yemanjá Abassami, do qual Mãe Betinha foi sacerdotisa.
O CD Korin Orixá foi dedicado á Mãe Betinha, sacerdotisa do Maestro professor da UFPE José Amaro. Valhe a pena adiquirir o produto, pois enle estão os cãnticos mais tradicionais do terreiro da Iyá Betinha de Iyemojá sesú.
Texto original do blog: http://povodoaxe.blogspot.com/2009/11/mae-betinha-elizabeth-de-franca.html
Nós do Quilombo Cultural Malunguinho convidamos todos e todas Juremeiros e Juremeiras para estarem em nossa concentração na Rua da Guia, Recife Antigo às 14h. Para podermos organizar nosso grupo na III Caminhada dos Terreiros de Pernambuco que acontecerá no próximo dia 03/11/2009.
pedimos que todos e todas possam levar seus chapéus, seus lenços de Jurema, seus cachimbos (Gaitas), seus Maracás, fumo e tudo mais que identifique nossa religião.
Vamos mostrar a força da Jurema nessa caminhada e exigir respeito entre as religiões e indivíduos.
Lembramos que a roda de Jurema será no término da caminhada, com gira completa cantada pelos sacerdotes Juremeiros mais antigos de Pernambuco. Esta ação se realizará no monumento Zumbí dos Palmares na Praça do Carmo no Recife às 18h.
Salve todos os Mestre e todas as Mestras da Jurema sagrada. Salve Maluguinho o Rei da Jurema!
Alexandre L'Omi L'Odò. Coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho. quilombo.cultural.malunguinho@gmail.com Fones: 81 8887-1496 / 9428-4898
Coloco aqui a matéria da jornalista Silvia Leitão, que está promovendo uma série de reportagens sobre a diversidade religiosa do Estado. Nesta matéria poderemos ver um pouco do nosso universo religioso, com forte ênfase na discussão do preconceito que sofremos como fiéis dos candomblés e Juremas.
Publico texto integral da matéria com apenas algumas alterações ortográficas pertinentes.
Boa leitura e vamos discutir o conteúdo deste texto, pois se faz importante (aviso dêsde já) um olhar mais crítico sobre o que escrevem sobre nós.
Nós do Quilombo Cultural Malunguinho também contribuímos com o trabalho da jornalista. levamos ela à uma cerimônia de Ossé para Oxalá na casa tradicional de Dona Dora de Oyá, no Jordão, lá também podemos discutir questões sobre a cosmovisão da Jurema e parte de sua teologia que ainda não foi desmistificada, e que com esforços estamos tentando fazê-la.
Lembro ainda que quando nesta matéria se fala de Umbanda, fica-se muito inteligível a compreensão da diferença entre a Jurema e a Umbanda, portanto sugiro que todos e todas possam avaliar e rediscutir este conceito importantíssimo para afirmarmos a Jurema como um culto independente da Umbanda, já que ela é a Religião Primaz do Brasil.
L'Omi.
Nguzo Malunguinho.
Boa Leitura!
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Domingo 01 de Novembro de 2009.
Cultura e Magia das Religiões Afro Brasileiras
Sílvia Leitão.
É só falar em religiões afro-brasileiras que se escutam conceitos pejorativos sobre seus cultos, tão enraizados na história do Brasil, desde a escravidão colonial. Sincréticos, os credos são capazes de reunir magia, espiritualidade e um politeísmo com resquício monoteísta, por acatar um Deus supremo. Demonizados pelo desconhecimento, chega a ser um paradoxo o ainda persistente preconceito em tempos de tolerância religiosa. No próximo domingo, a série da Folha de Pernambuco continua com Judaísmo.
Na chegada à rua do Terreiro Santa Bárbara Xambá, em Olinda, vê-se toda a comunidade se preparando para aquele dia festivo. De longe, sob a condução dos ogans (tocadores), a batida forte e contagiante dos ilús (tambores) é um chamado para o corpo e para o espírito. O vaivém nas portas das casas é intenso, incluindo troca de roupas e badulaques, travessia de bandejas com iguarias, além de recolhimento para preces de concentração e proteção. A tarde do domingo seria sagrada para aqueles homens, mulheres e crianças, que, com orgulho, preparavam-se para homenagear seus orixás (santos).
Impressionantemente, a tarefa se faz cumprir dos mais velhos aos mais novos, com o mesmo afinco e respeito. No meio dos mais experientes, o pequeno Gabriel Rocha, de 5 anos, mostra seu conhecimento precoce. Como quase todos os presentes, o sobrinho do Pai de Santo Ivo já nasceu ali dentro. “Minha avó e tia-avó me trazem”, adiantou. O som do ilu, que entre os xambás é chamado de ingome, o menino aprendeu a tirar com os ogans do lugar. “Também sei tocar o abê (cabaça) e agogô”, orgulha-se.
A roda do salão para onde Gabriel leva a música se enche de azul, amarelo, vermelho, branco e rosa, cores que representam, nesta ordem, Iemanjá, Oxum, Ogum, Orixalá, Oyá e Xangô. Nas paredes, as fotos de antigos integrantes do terreiro dão o tom de tradição ao ritual que carrega a história dos negros ancestrais, embora ali não seja um espaço de restrição racial, onde brancos não ficam de fora das cerimônias nem da crença espiritualista.
Se o coro em yorubá (língua africana) era para chamar os orixás, que viessem. E eles chegavam. Àqueles corpos em meio a um transe ritmado. Os incorporados pelos espíritos que personificam uma força da natureza dançavam e cumprimentavam a roda. Naquela tarde, a dona de casa Adriana de França, de 30 anos, recebeu Obaluayê, da doença e da cura, herdado, aliás, da avó Mãe Biu. “É como se fosse um casamento, uma festa de gala. Tem que deixar a emoção da batida do ilu entrar em você. Em mim, começa com dormências nos pés e nas mãos. Sinto falta de ar, o coração acelera, a respiração fica ofegante, mas, é um sentimento tão bom que a gente se emociona”, definiu.
O antropólogo da UFPE Roberto Motta diz que o “bom” nome para o Candomblé pernambucano é Xangô. “É a religião da festa, da dança, do entusiasmo popular e da obrigação, compreendendo o sacrifício de bichos”, classificou. Historiador e frequentador dali, Hildo Leal explica o cenário do domingo. “Os dias de toque são em homenagem a um ou todos os orixás. Hoje (domingo passado) é o toque do inhame, para todos os 14 da casa. Neste mês (outubro), não há oferenda animal”.
Pernambuco tem Centros Tradicionais.
Difícil mensurar a penetração das religiões afro-brasileiras em números no solo pernambucano. Roberto Motta ratifica a prevalência de centros em Salvador, na Bahia, sem desconsiderar nossa força. “Lá a influência africana é maior que no Recife, daí, existem mais. Contudo, não devemos subestimar o Estado, nem Alagoas”. Teólogo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Gilbraz Aragão diz que temos pelo menos dois mais antigos, de matrizes transplantadas da África para cá: o de Pai Adão, no Recife, cuja primeira festa pública foi em 1875, e o de Xambá, em Olinda, fundado em 1930. “Uma religião que veio do povo Nagô Yorubá, que na África cultuava espíritos da natureza”, completou.
Entre os de origem nagô, no Recife, a Folha conheceu um pouco dos rituais do terreiro de Mãe Dora, no bairro de Jordão, com mais de 40 anos de história. Para comungar com os orixás o final da semana e reforçar os laços da casa, numa sexta-feira à noite, faz-se o Ossé. Sobre o alá (lençol branco), uma vela, garrafa de barro com água e as oferendas: arroz cozido sem sal com mel e milho branco, de igual preparo. Às mãos do babalorixá e da yalorixá, Pai e Mãe de Santos, espécies de sinos para chamar os orixás. “Paz, saúde, fé e segurança no caminho de todos, além de felicidade, proteção e união”, pedia o babalorixá Sandro de Jucá.
Dedicado a Iemanjá, o Sítio de Pai Adão foi fundado pela nigeriana Ifá Tinuké, recebendo, no Brasil, o nome de Ignês Joaquina da Costa. “Mais uma mulher, pois, os primeiros terreiros de Candomblé brasileiros foram criados por elas - na Bahia, no Maranhão e aqui. Dos seus três filhos, foi Felipe Sabino da Costa, o Pai Adão, quem deu grande impulso à história do Xangô no Recife. Juntamente com o Pátio do Terço, a Casa de Badia, manteve a força do império nagô em Pernambuco”, frisou Manoel Papai, neto carnal do Pai Adão, Pai de Santo à frente do lugar.
Misticismo é Marca Presente
Por trás do Convento de Santa Tereza, no bairro olindense de mesmo nome, só quem é morador pode imaginar ser aquele o endereço de uma casa de Umbanda. Pai Ivon apresenta os elementos quase místicos sem rodeios: assentamento com ferro e bandeira da paz e as oferendas logo ao portão, onde por pouco não se pisa. Para dirimir qualquer visão preconceituosa, trata de esclarecer um mito. “Não trabalhamos com sacrifícios de animais; oferecemos flores, frutas, perfumes e velas”, adiantou.
Nada de calçado para entrar no quarto sagrado, também chamado de peji, como no Candomblé. De terra batida, nele encontram-se pequenos altares para preto-velhos (sábios escravizados vindos da África), caboclos (curadores, donos da mata), ciganos (andarilhos), Malunguinho (revolucionário quilombola), Zé Pilintra (um grande mestre curador) e o canto quase sombrio, em que não se pode entrar, onde estão Exu e a Pombogira. “Não é o diabo. Seus tridentes servem para cavar as coisas boas para perto ou levar as negativas, defendendo as pessoas”, garantiu Pai Ivon.
A cabeleireira Patrícia*, de 36 anos, está ali pela primeira vez. Com os negócios sem lucros e o casamento rompido repentinamente, apesar de católica, espera a mudança de seus anseios no pátio onde as incorporações espirituais logo começam, ao som de cantos e batidas no atabaque, tudo regado a fortes cachimbadas e muita bebida. Após diálogo com uma mestra da casa que apareceu no transe de olhos revirados do Pai de Santo, Patrícia* compartilha. “Disse que eu estava carregada, deu uma baforada do cachimbo para desatar os nós. E eu realmente já estava ficando fraca”.
O antropólogo Roberto Motta explica que na Umbanda existe ênfase na “doutrinação” entre as pessoas e os espíritos, bem como sobre a reencarnação e o progresso espiritual. “Essas religiões começaram a chegar ao Brasil com os escravos africanos, mas, têm também grande influência européia, seja a que vem da devoção popular portuguesa, seja a que deriva do kardecismo francês. Elas ganham espaço à proporção que o Catolicismo se torna uma religião mais intelectualizada, abandonando a devoção mais festiva, como procissões, festas de padroeiro e novenas”, considera.
*Nome fictício para preservar a identidade da personagem, que preferiu não se identificar.
Preconceito Sempre Gerou Várias Intrigas
A Jurema é considerada como parte dos rituais da Umbanda. Crença de matriz africana, onde elementos das tradições indígenas são misturados, o que mudam são algumas práticas. “Aqui existem sacrifícios de animais nas oferendas, como pássaros, preás; há quem oferte galinha, cabra, mas também frutas”, explica o Pai Quinho, de 49 anos, 36 deles na religião, hoje babalorixá de terreiro no Córrego do Jenipapo, no Recife.
“Não há fronteiras nítidas entre Umbanda, Candomblé (Xangô) e Jurema”, reflete o antropólogo Roberto Motta. Talvez não haja mesmo. Segundo o Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 397.431 pessoas no Brasil disseram seguir a Umbanda e 127.582 o Candomblé, mas, não há números precisos de juremeiros. Em Pernambuco, o levantamento apontou que 12.988 pertenciam a esses cultos mais presentes, sem, novamente, citar em separado a Jurema. O nome, inclusive, está ligado à planta de mesmo nome, de onde se extrai a bebida sagrada ingerida ao início do ritual, também pontuado por incorporações de entidades.
Seriam os números precisos? Talvez não e, por isso, seja difícil quantificar essas religiões. Porque a sua história está fortemente ligada ao preconceito, tendo se expressado mais fortemente durante a ditadura militar. “Em 1938, o terreiro de Xambá, em Olinda, foi fechado por Getúlio Vargas, só sendo reaberto em 1950”, contou o historiador Hildo Leal. O Pai de Santo Manoel Papai lembra que isso também aconteceu no Terreiro de Pai Adão. “Foram dez anos fechado”.
A yalorixá Juberleide da Silva soube por seu pai como foram difíceis aqueles tempos. “Ele falava de reuniões de portas fechadas, falando baixo, temendo a polícia. Os toques, inclusive, só aconteciam se houvesse quem acobertar”. Mas se a democratização ajudou a dar fim a esses atos extremos, hoje, pode ser a intolerância religiosa que inibe a livre declaração dos seguidores dessa fé. “Só falo se me perguntar. Uma amiga evangélica quando soube que eu era do Candomblé se afastou de mim e de meus filhos e disse que eu era do demônio”, desabafou Adriana de França.
Sacerdote juremeiro e do culto aos Orixás (Egbomi), é mestrando em Ciências da Religião pela UNICAP, graduado em licenciatura plena em História, pela Universidade Católica de Pernambuco - 2014.
É membro do Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa da Presidência da República, e do Conselheiro de Políticas Culturais do Recife. Milita nos campos das políticas públicas.
Tem experiência na área de educação, com ênfase em educação social, artística, musical e afro indígena teológica. Desenvolve trabalhos nas áreas de pesquisa, reconhecimento e preservação de patrimônio imaterial.
Tem publicado artigos científicos sobre temas relacionados a religiosidade da jurema sagrada, nos âmbitos de sua teologia e história. Ensina língua, história e cultura yorùbá, do coco e da Jurema sagrada. Desenvolve carreira de artistas e produz filmes/documentários.
É coordenador geral do Quilombo Cultural Malunguinho e desenvolve projetos de pesquisas com povo de terreiro.
Realizador há 10 anos do Kipupa Malunguinho (encontro nacional dos juremeiros), tem estimulado uma movimentação política de fortalecimento do Povo da Jurema entorno de sua história e religiosidade.