Delegadas e delegados eleitos da IV Conepir-PE. Foto: Acervo de Alexandre L'Omi L'Odò.
A IV CONEPIR-PE - Conferência de Promoção
de Igualdade Racial de Pernambuco e a revelação do Racismo institucional do Estado
Infelizmente tenho que escrever esse texto.
Gostaria de ter apenas o que comemorar em relação à discussão de Promoção de
Igualdade Racial em Pernambuco, mas, não tenho como omitir minha crítica neste
momento, que precisamos refletir e nos fortalecer cada vez mais, para combater
o racismo e a intolerância.
Este não será um textão... Mas nele, constará
algumas visões minhas, sobre a Conferência e a despriorização da pauta racial
do Governo do Estado. Quero que fique enegrecido, que esse texto é uma crítica
ao Estado e ao seu racismo institucional, não às pessoas que realizaram a
conferência, pois compreendo, que mesmo com todas as dificuldades, esses
funcionários, tiveram muito boa vontade e lutaram para fazer o melhor, mesmo
não conseguindo.
No último dia 27 de Março, uma quarta-feira,
de 2018, fui como delegado eleito ao Centro de Formação e Lazer do SINDSPREV,
que embora seja um local muito adequado para atividades como uma conferência, localiza-se
em uma área de acesso difícil, devido sua distancia. Este fato do acesso ruim,
já pode ser aqui, um dos primeiros elementos para desenvolvermos uma discussão
sobre como dificultar a chegada dos povos tradicionais e dos movimentos ao
local, tendo em vista, que não foram disponibilizados transportes para (por
exemplo), pegar pessoas no Centro do Recife, levar ao local do evento, e depois
levar de volta ao Centro... como forma de facilitar o acesso. Todas as pessoas
que foram, gastaram de seu próprio bolso o recurso para pagar o taxi, uber, ou
até mesmo ônibus. A questão do acesso, aos delegados e delegadas, é o mínimo
que se deve orçar, quando se trata de uma conferência estadual.
Sabemos que uma conferência, é uma instância
da democracia, para a sociedade civil e o governo, debaterem e pautarem
questões prioritárias para o desenvolvimento do tema central dos debates. “Conferência,
é para conferirmos”, e ampliarmos os avanços das políticas públicas. Um
documento geral de uma conferência, tem a função de servir como norteador
central para a efetivação de políticas públicas, portanto, sendo assim, não
valorizar e garantir o debate coletivo em uma instância dessas, é matar na raiz
seu objetivo geral e central. Assim, o Estado, matou na raiz o sentido da
Conferência, pois, ela foi realizada em apenas um dia.
Um dia! Um dia não dá pra nada! A dinâmica do
encontro foi muito ruim e prejudicou profundamente o desenvolvimento dos
debates. Muitos e muitas, falaram por uma boca só: “o que estamos fazendo aqui,
senão sendo-nos feitos de palhaços?!”. Essa foi a impressão geral... O que
estávamos fazendo ali? Essa foi a face mais racista da Conferência de Promoção
de Igualdade Racial do Estado de Pernambuco. A não priorização dos debates,
como se não tivessem importância nenhuma, ou como se nós, delegados e delegadas
não tivéssemos massa crítica para entender tudo o que estava acontecendo ali,
foi a questão mais evidente para criticarmos e nos rebelarmos contra esse
processo que, a meu ver, não nos deu condições de considerarmos representativo
ou digno de respeito, afinal, nós que fomos desrespeitados.
Uma conferência, que tinha mais de 4 eixos
temáticos para serem debatidos separadamente, propostas para serem aprovadas e
ampliadas, selecionadas e criticadas... Debates complexos coletivos a serem
feitos, além de no final haver a plenária geral para todas e todos aprovarem as
propostas de cada eixo temático... Além da eleição dos delegados e delegadas
para a Conferência Nacional... Isso tudo, foi impossível ser feito em um único dia.
Aliás, foi feito! Feito da pior forma possível, sem nenhuma sensibilização, sem
nenhuma respeito às discussões e as pessoas. Foi feito na tora...
Humanamente é impossível! Além dos debates,
tiveram mesas de abertura, falas longas... Leitura e aprovação do regimento da
conferência e ainda ao final leitura das moções... Muita coisa! Muita coisa
jogada de qualquer forma, para ser feita em apenas um único dia... Isso é
racismo institucional – O estado de Pernambuco não respeita a discussão racial
de forma nenhuma. Nem conseguem fingir direito... Pelo menos fazendo uma coisa
com mais respeito... Fizeram e jogaram em nossa cara seu racismo em forma de
ausência de recurso e atenção.
Nas circunstâncias apresentadas acima, seria
muito melhor não termos feito conferência. Conferência é uma coisa séria e
importante, e não um lixo, do qual fomos todos jogados dentro para sermos
passados por um rolo compressor que tem como objetivo principal, calar o debate
racial em Pernambuco! Compactuar e calar perante a este absurdo, seria ser
covarde com nossos ancestrais, pois eles, jamais permitiriam que tudo isso
acontecesse, sem haver reação imediata contra os herdeiros da Casa Grande.
Fiquei até o final para ver tudo... Saí de lá
mais de oito horas da noite, cansado e pessimista. Meus amigos e amigas de
movimento, também expressaram o mesmo sentimento. Infelizmente tivemos que
estar ali até o final para vermos com nossos próprios olhos, o quanto o Estado
foi racista! Essa conferência, jamais poderá constar no currículo do governador
em sua campanha eleitoral, pois sabemos que ela foi feita nas coxas, exatamente
para servir como elemento para que esse governo que apoiou o Golpe, diga que apóia
a discussão racial! Temos que dizer coletivamente que É MENTIRA! QUE O GOVERNO
DE PERNAMBUCO É RACISTA E NÃO NOS REPRESENTA!
Não saí delegado e nem concorri a vaga.
Compactuo com o pensamento de meus irmãos e irmãs de Salvador, que não
realizaram conferencia por terem a posição política de não dialogar a nível
federal com o governo golpista. GOLPE É GOLPE! E estamos em um Estado de exceção.
Nunca devemos perder a consciência disso.
Poderia ainda falar que o almoço foi
insuficiente, que não teve jantar, que houve erro na condução da conferência
etc. Mas não escreverei mais, acredito que não há muito o que falar, após
constatar, que a discussão, que é o essencial de uma conferência, foi
vilipendiada, prejudicada e tornada inviável, como forma de nos impedir de
progredir.
Lamento. Estou triste. Rogo que possamos nos
fortalecer mais para não aceitarmos mais esse destrato com nossas pautas
políticas. Não podemos brigar entre nós. Não podemos fazer o jogo dos senhores
e senhoras da Casa Grande. Temos que eleger nossos próprios representantes para
que essa discussão seja feita desde dentro do Estado, com pessoas (não qualquer
pessoa) nossas, que possam nos representar e nos fortalecer na luta contra o
racismo institucional.
Alexandre L’Omi L’Odò
Delegado na Conferência Estadual – IV CONEPIR-PE
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomiloso@gmail.com