segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Diálogo das religiões - Direito de resposta (video completo) - Uma ação de afirmação do Povo de Terreiro do Brasil



Diálogo das religiões
Direito de resposta (video completo) 
Uma ação de afirmação do Povo de Terreiro do Brasil 
Vídeo gravado para ser exibido na TV Record, como direito de resposta das religiões afro contra ataque sofrido.

Nós que fazemos parte das religiões de matrizes africanas, cientes de nosso papel na sociedade e em nosso meio religioso, devemos ficar atentos à ações como essa, que nos legitimam como cidadãos e cidadães plenos de direito. Porque leis existem para serem cumpridas e não para ocuparem lugar em arquivos obsoletos. Vivemos em um Estado "LAICO", onde eu posso exercer minha fé da forma a qual eu me sinta bem, onde minha essência seja completada através da exaltação do divino por meio de cânticos e danças, que também retomam a minha ancestralidade. O Brasil tem que entender que o respeito aos cultos afro indígenas é a mesma coisa que o respeito aos nossos ancestrais em comum. Temos que contribuir de forma ativa e consciente na eliminação completa dessa cultura racista institucionalizada no país.
Foi dado, pela Justiça Federal o direito de resposta ao Povo de Terreiro, através da ação movida pelo CEERT, INTECAB e Min. Público Federal contra a emissora de TV Record que, ao deter TEMPORARIAMENTE a concessão pública de TV, por tantas e tantas vezes discriminaram, ofenderam e deturparam (e ainda o fazem) as religiões de Matrizes Africanas e Indígenas em sua grade de programação.
Em decisão inédita do Ministério Público Federal, entidades afro-brasileiras foram autorizadas a produzir um vídeo de direito de resposta coletivo a uma reportagem da TV Record. O programa foi gravado e tornou-se público no final de 2011, mas não pode ser exibido, pois a emissora recorreu da ação e conseguiu impedimento momentâneo.
O programa DIÁLOGOS DAS RELIGIÕES de 60 minutos foi gravado para ser apresentado DENTRO da grade da referida emissora, e assim o foi. Pena que esta ação não teve tanta repercussão como gostaríamos, mas aproveito o espaço livre da internet para fazer mais popular este programa que deve ser visto e sofrer reflexões por parte de todos e todas das diversas religiões que compõem o quadro do imaginário da crença nacional. 
Este vídeo aqui postado, traz o programa na íntegra e sem cortes. Vale apena ver e ouvir as falas de pessoas de renome no meio das religiões de terreiro, como é o caso do comunicólogo e professor Muniz Sodré que nos ajuda a compreender mais amplamente a cosmovisão e teologia afro e indígena quando nos presenteia com uma percepção aprofundada sobre nossa entidade e imaginário. 
Segundo ele nos mostra, a concepção sobre as religiões de matrizes africanas pode ser muito instigante filosoficamente. Ele diz que essas religiões tem o “princípio de respeito ao poder de realização, é isso que se chama axé”. Portanto, o próprio programa foi uma manifestação da crença e fé do Povo de Terrreiro, a própria manifestação do axé...
Destaco a fala mais bem embasada teologicamente do vídeo todo, ao qual proveio da iyalorixá Sandra Epega, que nos abrilhantou e nos fez perceber a dimensão linda que é nossa religião, contribuindo para o entendimento de muitos que não enxergam por esta ótica. Segue fala transcrita na íntegra: 
“A tradição de Orixá e a Umbanda, e todos os segmentos do candomblé que cultua Orixá, Nkisi e Vodun, eles tem normas de moral, eles tem normas de comportamento e principalmente na tradição de Orixá, nós temos um imenso pilar, onde se baseia tudo que é Iwá (o caráter). Desejamos aos nossos Omotitun (crianças recém nascidas), Iwá funrè (caráter para você). E temos três importantes virtudes que vem do orun (céu). Prometemos aos nossos ancestrais que seremos alegres - Ayó (a alegria)-, por isso as nossas orações são o canto e a dança. O tempo todo nós rezamos cantando, nós rezamos dançando e nos mantemos alegres durante todo período que moramos em Ilú Àiyé (o planeta terra). A segunda virtude é Imoran Atimoiyé (o conhecimento que leva à sabedoria). Nós nos tornamos sábios aprendendo com os nossos mais velhos, dentro do respeito e da hierarquia africana. E o terceiro é Surú (a paciência), tão importante que nós chamamos – mãe paciência -, e essa mãe paciência que nos envolve e que nos faz passar pacientemente por todos os nossos problemas, porque sabemos que com o apoio dos Orixás, da nossa tradição oral, com apoio daquilo que trazemos na cabeça dos nossos mais velhos, porque não somos de tradição oral tão somente porque éramos ágrafos, somos de tradição oral porque ainda hoje somos os guardiões da palavra de Orixá e de ancestral, somos nós que guardamos Ofó (a palavra mágica de Orixá e ancestral). E com a paciência que nós temos para guardar tudo isso, nós sabemos que podemos passar por tudo, mas seremos vencedores. E nós sabemos também que com a nossa paciência podemos dizer claramente: Aláfia Asegún Isoro Àiyé (que a paz prevaleça sobre a terra). Axé, axé, axé!

Espero que aos amigos e amigas que passarem por aqui fique a consciência de que devemos nos prestar mais à divulgação de nossa religião, sempre nos afirmando pela positividade e expandindo conhecimentos para os que por falta deles ou por maldade mesmo nos discriminam e nos submetem a reação. Contudo, paz e paciência, uma de nossas virtudes para todas e todos. Axé e salve a fumaça. vamos discutir...


Alexandre L'Omi L'Odò
Iyawò e Juremeiro
alexandrelomilodo@gmail.com

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