Intolerância
Religiosa de evangélicos contra juremeiro dentro do Terminal Integrado de
Ônibus Xambá
Esta
postagem que fiz no facebook no dia 12 de junho de 2016 ganhou enorme
repercussão nacional. Viralizando na internet, este registro que fiz da
intolerância e racismo religioso que sofri, deve servir para a reflexão do quão
grave é a situação que o povo de terreiro cotidianamente vive nos transportes
públicos (ônibus e metrôs). Vamos combater e educar. Assim contribuímos contra
algo tão absurdo. Sigamos na luta pelo extermínio do racismo e dessa doentia
intolerância religiosa praticada por parte dos "evangélicos". Denunciei
no Ministério Público de Pernambuco - MPPE e aguardo resposta da promotoria de
transporte desta instituição.
Segue
relato:
No dia 11
de junho de 2016, por volta das 20h, eu e meu afilhado de Jurema Henrique
Falcão
estávamos dentro da Estação Xambá (TI) para pegar o ônibus TI Xambá
Encruzilhada, pois íamos visitar a nossa casa de axé o Ilé Iyemojá Ògúnté, que
fica em Água Fria/Recife.
Ao
entrarmos no ônibus, um vendedor ambulante iniciou um discurso aparentemente
extrovertido para vender açaí... Contudo, ele, o tempo inteiro ficou
reafirmando ser pertencente a Igreja Assembléia de Deus (pelo que entendi).
Após identificar que eu era um "macumbeiro", começou a fazer o
tétrico discurso evangélico de baixa estirpe se direcionando à mim. Falando com
arrogância que conhecia a verdade e havia encontrado a luz, pois havia
desistido de ser um "umbandista" e que conhecia tudo "dessas
religiões", tentando provar isso, afirmou que sabia que tinha "um
grande terreiro de Macumba" por detrás daquela estação de ônibus (o Terreiro
Xambá) comandado por "um negão pai de chiqueiro" se referia
obviamente ao querido e importante babalorixá Ivo de Xambá.
Quando
ouvi tamanho absurdo racista e intolerante me rebelei imediatamente falando:
pai de chiqueiro nada, ele é um babalorixá, um sacerdote de respeito! Respeite
a religião dos outros, por que eu sou um juremeiro, catimbozeiro, macumbeiro e
candomblecista com muito orgulho e exijo respeito comigo e com minha religião
(em voz estridente).
Continuei:
você é um ignorante racista e que desrespeita até os princípios de sua religião
que diz que não deves julgar, portanto estais em pecado e vai pro inferno
devido a sua falta de respeito para com os seus "irmãos"! E que
devido a esta sua atitude ignorante e racista você se demonstra uma pessoa sem
condições de refletir sobre absolutamente nada, e que este é o reflexo da má
educação pública que embranquece as mentes e torna as pessoas vulneráveis a
ideologias criminosas que não se justificam como esta sua (...).
Ele
rebateu: "a verdade dói" e ironicamente ele pediu desculpas e
continuou a reafirmar este pensamento, ignorando o que eu falei, abriu assuntos
paralelos com "evangélicos" presentes no ônibus que obviamente o
apoiaram e iniciaram gritos contra a minha fé "pregações de salvação"...
Rebati:
afirmei que existem mais de dez mil religiões no mundo e questionei o por que
só as dos evangélicos seria a certa, a única verdade ou que seria a religião
que salvaria... E falei que este pensamento é falta de senso crítico que isso
tem ligação direta com a situação política do país hoje, com Temer na
presidência da República liderando um golpe antidemocrático sem
precedente.
Daí, uma
"evangelica" indignada falou que a crise econômica do país não a
afetava por ela "ser de Jesus". Sugeri um breve reflexão e disse, a
crise não lhe pega e você andando de TI Xambá, o que a deixou raivosa.
A esta
altura do campeonato, os passageiros já estavam estressados com a briga de
discursos em voz extremamente alta que estava acontecendo, e o ônibus não saiu
do lugar até vir seguranças e fiscais da estação para mandar que nos
retirássemos do ônibus. Óbvio que também os rebati dizendo que paguei a
passagem e que eu ali era a pessoa que estava sendo violentada. Logo eles
perceberam a situação e não insistiram, liberando a saída do ônibus para seu
roteiro.
Imaginei
que as coisas iriam se acalmar, porém outras mulheres "evangélicas"
não só levantaram a voz de forma arrogante, como também levantaram de seus
lugares e direcionando a palavra a mim afirmaram que: "a salvação era
única, e que eu e meu afilhado iríamos "queimar no fogo". A partir
disso, uma série de xingamentos vieram a tona por parte deles contra mim como:
"víbora do inferno, iluminatti do satanás, espírito sem luz,
amaldiçoados" dentre outros, como se pode perceber neste vídeo que não
representa nem 10% de toda essa odisseia repugnante do racismo e da
intolerância religiosa.
Não
satisfeito, o vendedor me desafiou a entrar em conflito físico com ele.
Afirmando que não seria possível tocá-lo por ele ser "filho de
Jesus". Ficou exaltadíssimo querendo briga e eu falei que não era
necessário aquilo, por que eu discuto argumentos e não precisaria de atos rudes
para a resolução de meus problemas. Ele se manteve provocando até a hora de sua
descida.
A viagem
só teve paz praticamente quando desci. Onde fui surpreendido por uma evangélica
que em um momento de lucidez veio até mim falar que o vendedor estava realmente
errado e que não se pode julgar nem desrespeitar a religião dos outros. Os
demais passageiros que não eram evangélicos ficaram todos do meu lado,
concordando e expressando com falas, gritos, e olhares de apoio a situação que
eu estava passando.
Por
ironia do destino, quando voltamos para casa, pegamos o mesmo ônibus (TI Xambá
- Encruzilhada), e a primeira coisa que ouvi ao subir no veículo foi "vai
fazer show novamente?", daí percebi que havia pego o mesmo transporte com
o mesmo motorista e a mesma cobradora... Daí respondi com segurança: Se eu me
sentir ofendido novamente irei sim!
O que
passei ontem, serve para refletirmos que devemos reagir contra a opressão dos
racistas e intolerantes religiosos sempre. Nós não podemos nos calar perante os
opressores, nosso silêncio e omissão não condiz com nosso histórico de
resistência, e também esta mesma omissão outorga aos opressores o pensamento de
que eles podem fazer o que quiserem contra nós sem que reajamos.
#NãoaoRacismo!
#NaoaIntoleranciaReligiosa!
#Nãoaodiscursodeódionotransportepúblico!
Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com
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