terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Segunda de terror no Carnaval 2016 do Recife Antigo

Palco do Marco Zero 2016. Foto de Alexandre L'Omi L'Odò.

Segunda de terror no Carnaval 2016 do Recife Antigo

Saldo de uma noite de segunda feira no Carnaval do Recife 2016 (desculpem a linguagem aqui empregada, mas foi pertinente):

Foi uma Merda! Adianto logo para não tomar muito o tempo de vocês com o relato que vou fazer abaixo. 

Saio eu de minha humilde casinha em Peixinhos, rumo ao Recife Antigo para ver os shows de Nação Zumbi, O Rappa e Jota Quest... E quem disse que eu consegui?! 󾌽

Parecia que o mundo estava se acabando em toda parte. Menos no Recife Antigo... sendo esta a única rota de todos os refugiados do planeta. Nunca vi na minha vida tanta gente socada no mesmo espaço como vi nesta segunda feira. Gente, foi um absurdo. Não havia logística que desse conta do quantitativo de pessoas que foram pro Marco Zero. Há inúmeros anos brinco carnaval no Recife e nunca vi isso. Foi foda! 

Não se conseguia nem chegar perto do Marco Zero. Das ruas mesmo se voltava... nem perto do péssimo telão de led dava pra ficar na rua Marquês de Olinda... um tumulto sem fim... 

A coisa estava tão séria que até as galeras de menores infratores não estavam conseguindo dar conta de promover seus saques e arrastões... Não tinha como. Muita confusão e empurra-empurra... Mas nada de arrastão. Não tinha nem pra  onde fugir hahahahhaha

Observando esta situação da besta fubana, me dirigi ao Rec Beat. Lá estava mais tranquilo... vi shows ótimos, sobre tudo de um senegalês que arrasou na noite. Foi o melhor show em minha avaliação. Me esqueci o nome dele, alguma coisa Koyatê... Eu acho. 

Mas... de repente o povo sem ter pra onde ir, começaram a migrar para o Rec Beat... Daí decidi fugir e vir embora pra casa... Afinal, pensei como tanta gente iria voltar. E antes que eu assistisse e fosse incluído na catástrofe da volta para casa, piquei a mula. 

Me perdi da namorada, perdi um paquera, desencontrei dos amigos... Foi um horror. 

Lá me vou andando sacrificadamente até o 13 de Maio (longe pra caralho do Marco Zero) para tentar pegar um busão mais vazio... isso eram 00:30... quando o tal busão chegou, ja eram uma e meia.. 

O tal do amaldiçoado do Águas Compridas Bacurau já veio cheio e ao abrir a porta na parada quase explodiu de gente. Me enfiei logo no meio deste pandemônio. Afinal, de táxi não rola vir pra casa do Centro... Os nojentos dos taxistas tem racismo e preconceito com minha comunidade e não me deixam nunca em casa. Daí pra evitar problema e preservar a minha mao de dsr murro na cara de gente, prefiro enfrentar a caceta do Bacurau... 

o curto trajeto até o Cais de Santa Rita demorou mais de uma hora para chegar. Coisa que em no máximo 5 minutos se faz a partir do ponto que subi no ônibus... Um caos total. A passarela dos desfiles dos blocos, maracatus, escolas de samba etc... na Av. Nossa Senhora do Carmo, estava impedindo o fluxo do trânsito de andar. Inclusive colocando muita gente em perigo... Senhoras de idade e crianças que ali estavam se vestindo após os desfiles (a Prefeitura do Recife não cria vergonha na cara mesmo. Já falei sobre este racismo institucional contra a cultura popular em textos anteriores...). O Cais de Santa Rita estava parecendo uma cena do filme "Os Mortos-Vivos"... uma multidão selvagem solta ao relento e sem ônibus. Pessoas quebrando os coletivos para entrar... todas e todos querendo se salvar daquela situação bestial. Daí, em meio a este quiproquó, estavam policiais violentos batendo em todo mundo... Inclusive em inocentes... tudo isso sem nenhum pudor. Ao vivo e a cores na frente de todo mundo... ficamos passados com as cenas gratuitas de violência. Murros, tapas na cara, cacetetadas em tudo que era canto etc. Foi uma degustação do imaginário do inferno cristão, com a versão policiais bestas-feras,  Estas longas horas dentro do Cais... 

Neste processo todo.... levaram-se mais de três horas para eu conseguir chegar em casa após ter pego o ônibus. 

Isso faz sentido? Minha casa fica a vinte minutos do Centro... Teve gente até passando mal é caindo pelas tabelas... 

Para completar, o motorista estava com ódio de estar trabalhando em pleno carnaval, decidiu queimar inúmeras paradas. Isso gerou uma gritaria triste dentro do ônibus... E ainda o amortecedor traseiro quebrou devido a super lotação. E sem nenhum pudor, ele empurrou o pé e meteu em tudo que era buraco. Fazendo o povo de saco de cocô transportado pelo coletor de lixo. 

Nunca havia passado por isso em um carnaval. Perdi a noite toda, não vi os shows que queria. Perdi a namorada no meio do inferno... deixei de pegar gente... Me perdi de todo mundo e cheguei em casa agora, arretado com essa putaria! 

Ainda bem que comigo nem com os meus não houve nada de ruim. Apenas as desgastantes esperas e situações de horror. Afinal quem anda comigo, tem um manto de folhas de jurema para proteger de tudo. Mas...

Erraram em ter colocado 3 grandes bandas de peso e aceitação popular gratuitamente em um palco só. O povo sem ter coisa boa pra ver nos bairros, desceram todos pro Centro. Daí fudeu! 

Raciocinem Prefeitura do Recife. Este foi um erro grave. Se eu tivesse pensado um pouquinho mais, teria ficado em casa mesmo e visto esta catombe pela televisão, bebendo minha Coca-Cola e comendo meus salgadinhos nos braços de quem me ama... 

Pra finalizar, ainda vi um "maracatu" com quase 80 pessoas, de evangélicos. Véi, essa foi demais. Mas falarei isso em outra postagem. 

Quando lá em cima falei que foi uma Merda esta noite de segunda feira de Carnaval, eu errei. Simplesmente foi um carái de asa da gota serena bubônica dos infernos de Judas! Tô arretado! Queria ter visto O Rappa, mesmo que Falcão não valha nada... Rsrsrsrsrsrs

Alexandre L'Omi L'Odò L'Odò
Historiador e Mestrando em Ciências da Religião
Quilombo Cultural Malunguinho 
alexandrelomilodo@gmail.com 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Afoxé Omo Nilê Ogunjá – Um exemplo Afrocentrado no Carnaval do Recife

 Afoxé Omo Nilê Ogunjá. Eu no cantinho acompanhando essa linda luta! Foto: Acervo do grupo.

Afoxé Omo Nilê Ogunjá – Um exemplo Afrocentrado no Carnaval do Recife

Ontem, dia 03 de fevereiro de 2016, presenciei uma das atitudes mais interessantes na perspectiva do posicionamento da cultura popular na luta contra a falta de respeito para com as tradições de matrizes africanas e indígenas no Carnaval de Pernambuco.

O Afoxé Omo Nilê Ogunjá tomou uma atitude afirmativa muito importante: Realizou seu cortejo de forma independente abrindo seu carnaval apenas construindo parcerias e apoios. Levou seu grito de luta de forma exemplar. Saiu grande, bonito, vigoroso e empoderado, vale ressaltar.

Em minha avaliação, vejo nesta posição política do grupo, uma esperança no caminho de re-organizar o conceito de liberdade da cultura popular em nosso Estado. Se o Afoxé conseguiu sair tão forte sem apoio da prefeitura do Recife e do Governo do Estado, isso é sinônimo de que a comunidade pode se organizar com qualidade e força para colocar nas ruas seus ideais e sua identidade ancestral.

Contudo, isso não é tudo! Ainda o Omo Nilê, abrilhantou o Carnaval do Recife dando à Cidade a oportunidade de ver algo muito bonito sem pagar nada! Isso mesmo, sem pagar nada (a gestão da cidade do Recife não pagou nada por isso)! A cultura popular traz quantias enormes de dinheiro, que somam bilhões para o Estado em turismo etc. E o Omo Nilê fez os turistas que se encontravam na Praça do Arsenal e em todo percurso até a Rua da Moeda no Recife Antigo vibrarem com a força negra do Ibura (comunidade periférica do Recife).

A coragem do grupo me encantou. Me deixou encorajado e fortalecido. A força de Ogun que emanou dessa luta fez brilhar minhas idéias e me empreteceu mais ainda. Fortaleceu mais ainda meu entendimento sobre a afrocentricidade!¨

Afoxé Omo Nilê Ogunjá na avenida. Foto: Acervo do grupo. 

Sou crente na força da cultura popular e no imensurável poder dos povos e comunidades tradicionais. Contudo, creio ser urgente nós todos ACORDARMOS e tomarmos atitudes como esta de forma coletiva! Não devemos nos submeter ao Estado sem que este nos respeite como devido. Somos ainda tratados como negros e indígenas sem valor e quase sem alma – relembrando o conceito de homem e mulher negra e indígena nos tempos da escravidão-. A estrutura racista do Carnaval do Recife é só um pequeno exemplo do que aqui também esta sendo discutido (ler texto de anos anteriores sobre este tema em meu blog www.alexandrelomilodo.blogspot.com).

Ogunjá AFROCENTRADO! Isso mesmo, a força de um Orixá levando todo um grupo de negros e negras e afro descendentes à consciência, ao seu papel e função social. Temos que tomar nosso lugar neste processo! Sermos negros e negras e entendermos qual nossa função no mundo capitalista e ocidental: temos que ser AFROCENTRADOS!

Com estas breves palavras parabenizo o Afoxé Omo Nilê Ogunjá pelo belo exemplo para os demais afoxés e grupos de cultura popular! Vamos somar nesta proposta e vamos crescer esta energia!

Parabenizo ainda pela importante homenagem ao nosso grande Tata Raminho de Oxóssi, que ao completar 80 anos de idade em janeiro de 2016, teve uma justa homenagem por toda sua contribuição na história do povo de terreiro do Brasil. Bariká oooooo!

 Família negra de afirmação e força!O Afoxé Omo Nilê Ogunjá é afirmação! Foto: Acervo do grupo.

Ògún yé! Ogum é vida!

Alexandre L’Omi L’Odò
Historiador e Mestrando em Ciências da Religião
Quilombo Cultural Malunguinho

 alexandrelomilodo@gmail.com 

Fala ao Povo de Terreiro na Noite para os Tambores Silenciosos de Olinda 2016



Fala ao Povo de Terreiro na Noite para os Tambores Silenciosos de Olinda 2016

Fala de empoderamento dos povos e comunidades tradicionais de terreiro de Olinda na Noite Para Os Tambores Silenciosos da cidade. 

Foi um orgulho enorme falar para o grande público de axé presente neste evento lindo. Me senti abençoado pela força das Kalungas e pela força dos Orixás de cada Maracatu. Obrigado pelo respeito à minha pessoa e confiança na minha fala que segundo seus organizadores era uma "fala de qualidade para o povo de terreiro". 

Parabéns à Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Olinda. Instituição que no passado ajudou muito nossos ancestrais a se organizar. Temos que reconhecer este fato histórico! 

Que Olinda acerte seu caminho político! 

VAMOS FAZER UM! 

QUEM É DE TERREIRO VOTA EM QUEM É DE TERREIRO!!! 

Obrigado Tiago Nago. 

Vídeo de Noshua Amoras. 
Obrigado Alfredobello Kaiowá Djtudo pela edição.

Alexandre L'Omi L'Odò
Historiador e Mestrando em Ciências das Religiões
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Amor ao nosso Mestre Maior - Pai Paulo Braz Ifátòógún

Parte das pessoas presentes no aniversário de 75 anos de Pai Paulo Braz Ifátòógún. Foto: Acervo do terreiro.

Amor ao nosso Mestre Maior - Pai Paulo Braz Ifátòógún

A família Iyemojá Ògúnté em comemoração aos 75 anos de vida do nosso Alapini Pai Paulo Braz Ifátòógún.

A festa foi linda, cheia de axé e com pessoas de diversos lugares. A casa parece que tem uma força de convergência espiritual muito forte... Juntando tantos intelectuais, religiosos, artistas e pessoas de bom coração, todos convivendo em harmonia e contribuindo em atividades revolucionárias em diversos âmbitos. Isso nos alegra bastante!!!

A força de Iyemojá, nossa mãe suprema, se fez presente nas invocações feitas por Pai Paulo Braz no memento de seu parabéns. Ele nunca deixa barato quando se trata em cantar e rezar para as divindades africanas. Cantou tão forte em louvor à Iyemojá que emocionou a todos e todas presentes, nos abençoando mais uma vez com a grandiosidade de seu espírito de fé e amor.

Nossa família agradece sua existência e roga à Olorun que sua presença entre nós se mantenha por muitos e muitos anos ainda. Precisamos aprender com o senhor!! Seu saber é oceânico!

Alexandre L'Omi L'Odò
Filho Deste Grande Mestre Nagô!
alexandrelomilodo@gmail.com  

Comemoração dos 75 anos de vida do nosso Alapini Pai Paulo Braz Ifátòógún

Pai Paulo Braz Ifátòógún. Foto de Alcione Ferreira.

Comemoração dos 75 anos de vida do nosso Alapini Pai Paulo Braz Ifátòógún

Hoje, nós, membros do Ilé Iyemojá Ògúnté, comemoramos o aniversário de 75 anos do nosso patriarca, do nosso Alapini, do nosso Babá Ifamuydè, o nosso pai Paulo Braz​ Ifátòógún. 

Ele é minha inspiração de vida. Uma meta a ser alcançada dentro da religião de matriz africana e indígena. Um sacerdote como nunca vi e senti...  Sou um buscador e andarilho da fé... já fui em muitos lugares no mundo... mas nunca encontrei alguém com uma alma tão pura para o culto aos Orixas, e uma sabedoria tão grandiosa. 

Para mim é um orgulho ter sua mão sob minha cabeça, integrando-me à sua família ancestral. Este foi um dos maiores presentes que Oxum me deu nesta vida. O senhor é a concretização do que é ser AFROCENTRADO. É a soma das filosofias sankofa e ubunto. És a África verdadeira no Brasil. 

Que babá Olorun lhe dê muitos mais anos de vida. Precisamos aprender mais e mais com o senhor. És um tesouro de valor inestimável em todos os sentidos. Principalmente no sentido do coração... e do amor à ancestralidade negra! Axé e kolofé meu pai. Te amo. 

Alexandre L'Omi L'Odò
Filho deste grande Meste Nagô!
Quilombo Cultural Malunguinho 
alexandrelomilodo@gmail.com 

Quilombo Cultural Malunguinho

Quilombo Cultural Malunguinho
Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!