sábado, 21 de julho de 2012

População saqueia e queima terreiros - Registros da intolerância religiosa contra o Povo de Terreiro

Digitalização de cabeçalho da matéria de 13/07/2012 - Folha de Pernambuco, caderno Grande Recife

População saqueia e queima terreiros
Violência foi motivada por assassinato de um menino durante um ritual macabro

O distrito de São Domingos, em Brejo da Madre de Deus, e Santa Cruz do Capibaribe amanheceram em alerta ontem. Logo nas primeiras horas da manhã uma onda de violência tomou conta das duas localidades. Moradores resolveram invadir, saquear e queimar casas usadas como terreiros, promovendo uma verdadeira ‘caça as bruxas’ contra pais-de-santo e espíritas. Foi difícil conter os revoltosos que agiam de forma simultânea em pontos distintos. A população envolvida nos arrastões justificavam as ações de vandalismo como uma “vingança” pela morte do menino Flanio da Silva Macedo, de 9 anos, vítima de um ritual macabro.

Residência de uma pai-de-santo, em São Domingos, ficou parcialmente destruída. Foto de Aguinaldo Lima.
 
Pelo menos sete casas de pessoas ligadas ao candomblé ou espiritismo foram os alvos. Entre elas as residências dos quatro acusados pelos crimes: Genival Rafael da Costa, 63 anos, a mulher dele, Maria Edileuza Silva, 51 anos, Ednaldo Justos dos Santos, 33, e Edilson da Costa Silva, 31. Na rua São Marcos, onde fica a casa de Edilson, aproximadamente 500 pessoas chegaram e destruíram tudo. Entre as cinzas, vários restos de imagens religiosas, velas, perfumes e outros elementos usados em rituais. Os vizinhos da casa estavam assustados com a ação contra a casa. “Isso é vandalismo. O que é ruim eles queimam, mas o que é bom ele roubam. Sabemos que a morte da criança foi triste, mas a violência não justifica mais violência”, denunciou uma dona de casa que preferiu não ter o nome divulgado.

Em outro ponto de São Domingos mais terror. Na rua Chile outra casa foi queimada, desta vez o prédio pertencia a um pai-de-santo conhecido por “Bisolo”, que fugiu ao saber que seria alvo da violência. “Acharam várias fotos deles bebendo sangue de animais, um caderno com nomes de várias mulheres, fotos também”, contou a costureira Vânia Cristovão, 26. O capoeirista José Roberto, 45 anos, também esteve presente nesta casa depois do quebra-quebra e ainda achou várias outras coisas como charuto, cachimbo, caneca com a inscrição “Exu”. “Isso está causando pânico aqui. Que paguem aqueles que devem, mas não pode generalizar”, frisou.

Os arrastões nas ruas só foram contornados com o incremento de homens e a chegada e dois helicópteros da Secretaria de Defesa Social (SDS). O comandante interino da Polícia Militar na região, capitão Josivaldo de Moura, pediu o reforço de policiamento de 60 homens vindos do Recife e Caruaru. Um ônibus do Batalhão de Choque e equipes da Companhia Independente de Operações Especiais (Cioe) também deram reforço na segurança. Assim que chegaram na região, as polícias especializadas já se dirigiram ao centro Ofranon do Amanhecer, um dos locais atacados. No espaço mais destruição e revolta dos seguidores do centro. Para manter a paz na cidade, o capitão Josivaldo de Moura informou que o reforço do policiamento continuará hoje.


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Na matéria impressa há maiores informações sobre esta perseguição absurda contra os Povos de Terreiro. Precisamos reagir urgente! O jornal após nossas pressões, nesta mesma matéria publicou uma janelinha (Saiba Mais) com informações obtidas após nossas discussões com a editoria.

Veja:

Digitalização de parte da matéria acima. Informação concedida ao público após pressões.


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

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