Quilombo Cultural Malunguinho e Ilé Iyemojá Ògúnté reunidos para discutir acusações contra povo de terreiro no programa de Cardinot. Na foto: Sandro de Jucá, Mãe Lu Omitòógún, Alexandre L'Omi L'Odò e Bárbara Costa. Foto: Captura de Tela.
Povo de terreiro de Pernambuco protesta na mídia contra as acusações de prática de sacrifícios humanos
O
Quilombo Cultural Malunguinho convocou o programa de Cardinot da TV
Clube/Record (programa exibido em 16/07/2012) para prestar
esclarecimento público e realizar defesa contra as acusações da mídia e
da polícia referentes ao
cruel sacrifício humano do menino Flânio de 9 anos do Brejo da Madre de
Deus praticados supostamente por "pais e mães de santo". Gravamos o programa no Ilé Iyemojá Ògúnté, casa de tradição nagô dos netos biológicos de Pai Adão, em Água Fria/PE. Nós do QCM
agimos imediatamente ao vermos neste programa a imagem das religiões de
matrizes africanas e indígenas vilipendiadas vastamente pelas falas
discriminatórias e infundadas dos atores do caso e dos apresentadores
deste e também de outros programas sensacionalistas de algumas
emissoras. O caso se tornou muito mais polêmico com o quebra de 7
terreiros e um templo do Vale do Amanhecer realizado por mais de 3 mil
vândalos do local do crime.
Alexandre L'Omi L'Odò fala sobre o termo "pai e mãe de santo" e diz que no candomblé nem na jurema se pratica sacrifícios humanos. Foto: Captura de tela.
A população, influenciada pela mídia e pelo
racismo histórico brasileiro, se rebelou de forma criminosa expulsando
os sacerdotes e sacerdotisas da Jurema e do culto aos Orixás da cidade
violentamente. Este fato envergonhou e escandalizou a todos nós membros
de terreiros de todo Brasil. A gravação deste programa, foi apenas uma
tentativa de amortizar os efeitos absurdos provocados na mentalidade dos
homens e mulheres do interior do Estado de Pernambuco, e também da
Capital. Tendo a maior audiência de seu horário, e assistido pelas
classes menos privilegiadas da pirâmide social, utilizamos o espaço para
tentar contribuir com informação de qualidade para que as pessoas
entendessem o que acontecia... Sabemos que este não é o melhor dos
caminhos a tomar, mas também foi um caminho válido e de amplo alcance
para as pessoas que precisavam escutar algo à contribuir em seu
entendimento individual sobre as religiões de matrizes africanas e
indígenas, consequentemente na quebra de preconceitos. Entendemos que
este e outros programas podem ser sim, instrumentos de informação ao
povo, mesmo que seus editores manipulem da forma que desejam as
informações e nossas falas de acordo com seus interesses. Demos uma
entrevista de quase uma hora, com falas importantes e de acordo com o
consenso nacional do povo de terreiro, infelizmente no programa só nos
deram poucos segundos... Mas foi válido e importante sem dúvidas.
Sacerdotiza Mãe Lu Omitòógún defendendo a religião de matrizes africanas. Foto: Captura de tela.
Juremeiro Sandro de Jucá fala da importância da criança para o candomblé e para a Jurema. Foto: Captura de tela.
Com
tanta violência e ódio retro-alimentado por estes programas, por
membros de outras religiões que satanizam nossas práticas teológicas e,
da despreparada polícia, tivemos que reafirmar em nossas falas que não
praticamos sacrifícios humanos e que não somos adeptos de "rituais
macabros nem de magia negra". A repercussão das falas foi completamente
positiva, muita gente entrou em contato para elogiar, agradecer e pegar
mais informações sobre os fatos.
Estudante Bábara Costa faz explanação sobre o que é a religião de matrizes africanas e indígenas. Foto: Captura de tela.
Infelizmente
não consegui os códigos (embed) para postar os vídeos diretamente aqui
no blog, mas os links estão em ordem para podermos ver como se deram as
falas e a forma que o programa dirigiu o contexto de nossas
reinvindicações coletivas. O link que mostra diretamente nossas falas é
este: (http://www.cardinot.com.br/parte-4-o-caso-do-menino-de-9-anos-assassinado-em-brejo-da-madre-de-deus/),
os demais links tratam da questão como um todo. É importante ver todos
eles para podermos ter melhor conhecimento sobre todo fato e também
observarmos a forma como nossa religião foi tratada pela mídia
irrresponsável de Pernambuco que sequer questionou se os criminosos
cruéis haveriam de ser de fato sacerdotes ou sacerdotisas de nossa
religião afro indígena.
Assista ao programa:
2- http://www.cardinot.com.br/parte-2-o-caso-do-menino-de-9-anos-assassinado-em-brejo-da-madre-de-deus/
3- http://www.cardinot.com.br/parte-3-o-caso-do-menino-de-9-anos-assassinado-em-brejo-da-madre-de-deus/
4- http://www.cardinot.com.br/parte-4-o-caso-do-menino-de-9-anos-assassinado-em-brejo-da-madre-de-deus/
Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com
Um comentário:
Parabéns pelas articulações políticas e pelos protestos!!!!!!!! É por aí! Resta encontrar um mínimo de unidade política no povo de terreiro. Não precisa haver unidade religiosa para haver unidade política. O adversário é forte e está unido. Unam-se também!! O QCM é um bom caminho. Abç, Carlos André.
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