segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Seminário Malunguinho 190 anos vivo na alma de um povo

Seminário Malunguinho 190 anos vivo na alma de um povo

Atividade reunirá a nata da intelectualidade que debate sobre Malunguinho. Será no dia 20 de setembro de 2025 na Casa das Matas do Reis Malunguinho 

Das matas sagradas do  Catucá, ouviu-se um grito de liberdade que ecoa até os dias de hoje nos terreiros de Jurema. Uma legião de quilombolas guerreiros, firmes e bravios traçaram na história de Pernambuco uma das mais fortes e belas lutas negras do país. Malunguinho, imortal, com suas diversas faces místicas e históricas nos inspira até hoje, mantendo-se vivo na alma de seu povo. Há 190 anos, o último guerreiro tombou, deixando acesa a mais profunda chama por liberdade já vista, aquela que os brancos nunca puderam apagar, pois ninguém pode matar os encantados. Divinizou-se e subiu ao altar mais alto da Jurema, tornando-se o Reis Malunguinho, o herói negríndio que “baixa nos terreiros”, admirado por todos, apadrinhador de alguns.

O Seminário Malunguinho 190 anos vivo na alma de um povo nasceu do anseio de debater os avanços científicos e culturais relacionados ao Malunguinho histórico e ao Reis Malunguinho da Jurema, o divino. Buscando sempre o aprofundamento científico para dar suporte aos debates qualificados sobre o tema, e também unindo isso aos saberes orais, respeitando a ancestralidade contracolonial, o Quilombo Cultural Malunguinho e a Casa das Matas do Reis Malunguinho convidam um conjunto de grandes pesquisadores e pesquisadoras, juremeiros e juremeiras, lideranças quilombolas e indígenas para juntos debatermos sobre a nossa herança afro indígena, o tesouro que a luta do Quilombo do Catucá nos deixou como instrumento da liberdade de nossas próprias consciências negras e indígenas, de nossa liberdade como indivíduos e de como devemos celebrar a Jurema como espaço sagrado de continuidade desse quilombo.  

Criado pelo historiador e juremeiro Alexandre L’Omi L’Odò, que percebeu a importância de marcar a data da morte do último Malunguinho João Batista, morto em combate possivelmente em setembro de 1835, esse Seminário, pensado para ser realizado de cinco em cinco anos, já teve duas edições (2015 e 2020), sendo a primeira realizada na FUNDAJ, com apoio da instituição e de grande parcela intelectual dos estudos afro-brasileiros de Pernambuco e outras localidades. A segunda edição, em meio à Pandemia do covid-19, aconteceu de forma virtual com uma palestra histórica do professor Marcus Carvalho, onde você pode assistir integralmente nesse link: https://www.youtube.com/watch?v=YyVK7F3BvCY

Demarcar sua morte com esse seminário é uma forma de celebrar sua resistência e transcendência espiritual entre nós, os viventes. Pensar, avaliar e debater os avanços nas pesquisas sobre Malunguinho se faz necessário, pois assim como os estudos afro- brasileiros em décadas passadas deram conta de um campo incrivelmente potente, produzindo importantes conteúdos sobre o tema, temos que olhar para dentro da Jurema de uma forma juremológica para dar a Malunguinho um lugar central nestas pautas necessárias para contribuir na luta contra o racismo e demais opressões históricas que vivemos de forma arraigada em nossa sociedade. Afinal, Malunguinho, nas suas diversas faces, é sem dúvidas um dos elementos mais relevantes no campo dos fenômenos religiosos de hoje, podendo ser lido de infinitas formas para que venhamos a compreender sua luta, legado e continuidade na desconstrução dessa sociedade  que ainda aniquila a população negra e indígena. Malunguinho é essa lança afiada atirada no coração do racismo estrutural, pois ele ainda fala, ele ainda coordena seu quilombo. Ele está vivo!

O seminário será realizado no dia 20 de setembro na Casa das Matas do Reis Malunguinho, dentro das atividades da Semana Estadual da Vivência e Prática da Cultura Afro Pernambucana, Lei Malunguinho 13.298/07 (alocada na lei 16.241/17), da lei 5591/2007 e na 18.562/2019, respectivamente de Olinda e Recife, que tratam do mesmo contexto da estadual. Será um dia inteiro de debates qualificados com convidados e convidadas que têm longa trajetória no debate sobre Malunguinho e a Jurema Sagrada.

INCRIÇÕES

Acesse o link:

Click e se inscreva no Seminário Malunguinho 190

As inscrições, para 160 participantes presenciais, poderão ser também realizadas através do WhatsApp: 81 99738-2278 (secretária Jaqueline), só para quem tem dificuldades com internet. Deverão enviar: Nome completo, RG, Instituição que representam (se houver), número de telefone e e-mail.

Participantes em sala virtual (100 participantes) também poderão se inscrever pelo número acima.

Critério para participação: os participantes presenciais devem trazer dois quilos de alimento não perecível ou doação livre em pix. Os participantes virtuais devem realizar pix livre de contribuição para o evento.

Será dado certificado oficial de 10h/aula.

Dúvidas, falar com a coordenação.

PROGRAMAÇÃO:

 

10H - ABERTURA

MEU LABOR DA MATA”: INTERFACES JUREMOLÓGICAS DE REIS MALUNGUINHO NA SOCIEDADE

Expositor: Alexandre L'Omi L'Odò – Historiador, Mestre em Ciências da Religião pela UNICAP, Fundador do Quilombo Cultural Malunguinho e Sacerdote da Casa das Matas do Reis Malunguinho.


10H45 - MESA 1

DO CATUCÁ À VIRADOURO: MALUNGUINHO NA CENA PÚBLICA

Expositor: Marcus Vinicius Barreto - Dr. em Antropologia pela USP e Prof. Substituto da UFBA.


11H30 - MESA 2

MALUNGUINHO E A JUREMA SAGRADA: EPISTEMOLOGIAS DE UMA CIÊNCIA OUTRA

Expositor:

Prof. Dr. Sandro Guimarães de Salles – Etnomusicólogo, Dr. em Antropologia pela UFPE e Docente da UFPE.


12H15 - MESA 3

"AQUI NADA SE ENSINA, MAS TUDO SE APRENDE": MALUNGUINHO, EDUCAÇÃO E CONTRA-COLONIALIDADE

Expositores: Henrique Falcão - Doutorando em Antropologia pela UFPE; Célia Malunguinho - Historiadora, Socióloga e Profa. aposentada do EREM Mariano Teixeira/ Recife.

Convidado especial: Isaltino Nascimento - Secretário de Educação do Cabo de Santo Agostinho/PE, ex-deputado estadual e autor da Lei Malunguinho (Lei Estadual n. 13.298/2007), redigida em parceria com o Quilombo Cultural Malunguinho.

 

13H15 – INTERVALO (ajeun)

 

14H30 - MESA 4

MALUNGUIDADES EM POVOAÇÃO DE SÃO LOURENÇO, GOIANA - PE: PERCEPÇÕES HISTÓRICAS E RELIGIOSAS DAS CONTINUIDADES DOS MALUNGUINHOS

Expositores: Dadá Quilombola - Profa. aposentada e Líder do Quilombo de Catucá Malunguinho de São Lourenço, Goiana - PE;

José Bartolomeu dos Santos - Historiador e Dr. em Ciências da Religião pela UFPB.

 

15H30 – PALESTRA

MALUGUINHO: HISTÓRIA E CATIMBÓ - 196 ANOS DA MORTE DO PRIMEIRO E MAIS IMPORTANTE DOS LÍDERES DO CATUCÁ

Expositor: Prof. Dr. Marcus Carvalho - PHD em História e Titular da UFPE.

 

16H15 - ENCERRAMENTO

Café & Pocket show com Mestra Têca de Oyá (@mestratecadeoya).


Alexandre L'Omi L'Odò

Quilombo Cultural Malunguinho e Casa das Matas do Reis Malunguinho

alexandrelomilodo@gmail.com 

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Mestra Têca de Oyá lança seu primeiro álbum virtual – “Catimbó”

Mestra Têca de Oyá gravando no Estúdio O Criatório. Foto de Monique Silva.

Mestra Têca de Oyá lança seu primeiro álbum virtual – “Catimbó”

Mestra Têca de Oyá (Terezinha José dos Santos), nascida em 11 de junho de 1945 em Recife/PE, sempre foi uma artista, onde seu maior palco são os terreiros de Jurema e candomblé. Ali, bem no meio do salão, ela liberta uma energia (ciência/axé) que inunda todas as pessoas com seu brilho cristalino, que toma forma de chave espiritual para abrir as veredas que trazem as entidades e divindades à terra.

Seu corpo é uma das chaves mestras de Reis Malunguinho, o seu guia. Toda expressão física, vocal e espiritual é sua maneira inata de revelar sua função, dada pelas forças supremas. Ela reina, dança como o vento, incorpora as forças e triunfa. Vê-la bailar, invocar e se entregar ao som dos tambores é uma aula de ancestralidade negra-indígena. Ali é onde ela se reencontra com sua essência e faz-nos acordar para o quanto é bela nossa religião.

Muito conhecida nos terreiros de Recife e Região Metropolitana, em especial no eixo Recife/Olinda, Dona Têca se especializou na arte de cantar e dançar, já que não se “manifesta”. Assim ela faz há mais de 60 anos, sendo seu maior patrimônio a imensa coleção de pontos, toadas, rezas e saberes tradicionais de terreiro vivenciados com total entrega nesses anos. Portanto, ela em si resguarda uma memória viva e rica da história de inúmeros terreiros onde pôde contribuir em festas, rituais, iniciações e festejos (brinquedos) nos ciclos anuais de cada um. Sabe contar muitas narrativas desses lugares esquecidos das bibliografias. Em sua oralidade traz saberes e sujeitos que muitos não puderam alcançar. Os terreiros já extintos, as casas que trocaram de regência, os novos terreiros, etc.

Mestra Têca, mulher de fé inabalável na Jurema, discípula do Reis Malunguinho (seu trunqueiro). Foto de Monique Silva.

Com pouco reconhecimento no meio onde dedicou toda sua vida, pôde ter sua voz registrada pela primeira vez no CD “Jurema – ao vivo” (2007), fonograma feito por Alfredo Bello (DJ Tudo) e o prof. Dr. historiador Ivaldo Marciano. Mestra Têca aparece cantando a faixa 12 para Zé Pilintra e na faixa 14 o ponto intitulado “Paupendeu”, no terreiro de Pai Tuca, no bairro da Campo Grande/Recife. Este CD teve um papel importante, pois é um dos primeiros trabalhos realizados numa perspectiva fonográfica com preocupação de registrar a Jurema em três terreiros da cidade: terreiro de Pai Tuca, terreiro de Maria de Oxum e o terreiro de Pai Roberto de Angola. Em seu texto escrito pelo professor Ivaldo, levanta temas fundamentais ligados ao ostracismo histórico que a Jurema sofre; fala de como os pesquisadores “mal informados” apenas dão valor ao nagô em decorrência ao que acreditam ser uma tradição pura; cita ainda do primeiro CD do Maracatu Cambinda Estrela que ousou em gravar uma faixa de 09 minutos com pontos de Jurema e a importância histórica que isso teve; fecha falando sobre a importância de Malunguinho como ser histórico e divino. Em suma, o registro qual Mestra Têca aparece pela primeira vez tem uma importância histórica relevante, e a presença dela já fora um excelente indício de seu futuro brilhante no campo do patrimônio cultural afro-indígena.

Capa do CD "Jurema ao vivo", de 2007, onde Mestra Têca teve sua voz gravada pela priemira vez. Foto: Acervo Casa das Matas do Reis Malunguinho.

Após essa aparição, Têca conheceu a Casa das Matas do Reis Malunguinho em 2017, tendo sido levada pelo ogan Rinaldo Aquino. Ali foi imediatamente reconhecida pelo sacerdote Alexandre L’Omi L'Odò, pois desde muito jovem ele via a grande atuação de Mestra Têca, em especial na casa de Pai Ednaldo de Boiadeiro, no bairro de Campina do Barreto/Recife. Aquela mulher negra, masculina, tocando maracá com uma força incrível e dominando a gira como ninguém é uma imagem muito forte para se esquecer. No terreiro, rapidamente foi muito bem recebida por todos os filhos e filhas da Casa das Matas, a partir daquele momento ela passa a frequentar permanentemente todas festas, rituais e compartilhar de momentos coletivos. Malunguinho, o patrono da casa, logo a presenteou com sua conta Mestra, consagrando-a como membro do terreiro.

Em 2019 foi homenageada no XIV Kipupa Malunguinho, no Prêmio Mourão que Não Bambeia, tendo realizado um dos momentos mais lindos do evento. Cantou com muita alegria e beleza, encantando a quem esteve presente. Naquele dia (29 de setembro de 2019), ela se consagrou Mestra, a Mestra que sempre foi, só que agora nacionalmente vista, publicamente aclamada e recebendo pela primeira vez uma homenagem frente as estimadas nove mil pessoas que estavam no evento.

Este álbum virtual representa uma pequena partícula de seus saberes registrados para eternizar sua voz, seu jeito de cantar, sua imanência espiritual e sua contribuição histórica para os terreiros, pois mesmo colocada no escanteio pelos próprios membros da religião, ela segue compartilhando sua luz para ajudar aos que precisam encontrar o caminho da espiritualidade, sem nenhuma cobrança pessoal. Entrega sua ciência com amor e fé, pois é uma mulher de muita fé, que mesmo negada, criticada, e esquecida pelos que sempre ajudou de alguma forma, continua intacta e com vontade de fazer mais pela religião, mesmo na altura de seus 80 anos de idade.

Cantando pontos de Jurema com suas "Tequetes" ou "paquitas", como ela mesmo as batizou. Da esquerda pra direita: Nety Moura, Malú Falcão e Welica Silva. Foto de Monique Silva.

Este trabalho foi feito com a união integral dos filhos e filhas da Casas das Matas do Reis Malunguinho - @cmdoreismalunguinho, sem editais, políticos ou qualquer outra ajuda externa. Todos os participantes desse trabalho integram o terreiro, sendo assim uma missão dada pelo Reis Malunguinho e cumprida com êxito por esses artistas altamente qualificados e comprometidos com a salvaguarda da memória e tradição da Jurema Sagrada.

O álbum "Catimbó" é fruto do Prêmio Mourão que não Bambeia, do Kipupa Malunguinho, que ao longos dos anos homenageou mais de 53 pessoas relevantes da religião. A parceria da Casa das Matas do Reis Malunguinho, do Estúdio O Criatório e o Quilombo Cultural Malunguinho deram luz a este projeto idealizado por Alexandre L’Omi L’Odò.

O estúdio O Criatório, merece destaque nessa parceria, pois disponibilizou seu belíssimo espaço para realizar esse sonho que torna Mestra Têca imortal e reverbera sua voz no mundo todo. A alta qualidade de seus equipamentos e a maestria técnica de Cássio Sales deram a este trabalho a dignidade necessária e merecida.

Mestra Têca guarda em si um repertório gigantesco de pontos de Jurema. Mulher muito sábia, é um patrimônio vivo do povo de terreiro e está deixando grande contribuião para a memória da Jurema Sagrada pernambucana, com seu álbum Catimbó. Foto de Monique Silva.

Este é um trabalho de preservação do patrimônio cultural e sentimental da Jurema. É o presente de aniversário mais lindo que pudemos dar à Mestra Têca e à todos nós, que agora temos uma referência séria da Jurema cantada no Brasil. Com preocupação técnica e construção totalmente afetiva. As mais de 50 faixas de pontos que perpassam pelos Trunqueiros (Exus e pombojiras), Malunguinho, Caboclos, Mestres, Mestras e a própria Jurema, possibilitam um breve vislumbre pelas linhas que ela mais gosta e os tradicionais cânticos sagrados da Jurema de Recife e RM. Cantou o que o coração dela pediu e o que ordenaram as entidades, em especial Mestre Bevenuto, que é seu Mestre, Reis Malunguinho, que é seu guia principal e as entidades de sua juremeira e iyalorixá, seus padrinhos e madrinhas.

Junto a este trabalho, está sendo produzido seu filme, que contará parte de sua história e revelar muito mais da Jurema que muitos não conhecem.

O álbum será lançado dia 11 de junho de 2025, data de seu aniversário, quando completa 80 anos de vida. Será realizada uma sessão Premier no terreiro Casa das Matas do Reis Malunguinho para 200 convidados com seu show ao vivo. O material será lançado em todas as plataformas digitais de música e no YouTube.

Parabéns, Mestra Têca, pelos seus 80 anos de vida e luta pela Jurema Sagrada e pelo candomblé Nagô/Xambá de Pernambuco.

Mestra Têca de Oyá e parte da equipe de gravação. Foto de Giovana Simões.


FICHA TÉCNICA: "CATIMBÓ" - MESTRA TÊCA DE OYÁ

Voz principal: Mestra Têca de Oyá

Vocais: Welica Silva, Nety Moura, Malu Falcão e Alexandre L'Omi L'Odò

Ilú melé nkó: Henrique Falcão

Ilú Yan: Felipe Roberto ("Hambúrguer")

Maracás: Henrique Falcão

Gan e agogô: Henrique Falcão e Alexandre L'Omi L'Odò

Palmas de mão e efeitos: Henrique Falcão e Alexandre L’Omi L’Odò

Idealização: Alexandre L'Omi L'Odò

Produção musical: Alexandre L'Omi L'Odò e Henrique Falcão

Coprodução musical: Cássio Sales

Assistente de Produção: Diviol Lyra

Gravação e Mixagem: Cássio Sales

Lançamento: Canal no YouTube de Alexandre L'Omi L'Odò

Fotografia de capa: Monique Silva

Design de capa: Sofia L'amour

Registros fotográficos: Giovanna Simões, Monique Silva, Feane Monteiro

Motorista: Tiago Augusto da Silva e Bozó Bacamarte

Cozinheira: Valesca da Silva

Realização: Casa das Matas do Reis Malunguinhos e O Criatório - Residência Criativa.

Agradecimentos: Flávio Tavares e toda a comunidade religiosa da CMRM.

Gravado n'O Criatório - Residência Criativa em sessão ao vivo durante os dias 30, 31 de janeiro, 01 de fevereiro; 12, 13 de abril e 28 de abril de 2025.

Instagram da Mestra Têca de Oyá: @mestratecadeoya


Seviço:

Lançamento do álbum virtual - "Catimbó"

Dia 11 de junho de 2025 (dia de seu aniversário de 80 anos)

Local: Casa das Matas do Reis Malunguinho

19h

Apenas para os 200 convidados e convidadas.

Será exibido por live no instagram: @alexandrelomilodo


Alexandre L'Omi L'Odò

Quilombo Cultural Malunguinho

alexandrelomilodo@gmail.com

domingo, 2 de março de 2025

Hoje Malunguinho é tema de um desfile da Escola de Samba Viradouro – carnaval do RJ 2025

 

Imagem de Malunguinho trunqueiro, conhecido como Malunuginho Exu. Foto de Marisa Vianna.

Hoje Malunguinho é tema de um desfile da Escola de Samba Viradouro – carnaval do RJ 2025

Hoje é um dia interessante na história de luta pelo reconhecimento do Reis Malunguinho como herói nacional e divindade da Jurema Sagrada. A Escola de Samba Unidos da Viradouro escolheu esse guerreiro da luta por liberdade da população negríndia e reforma agrária em Pernambuco, como sua personagem principal.

Há mais de 20 anos ininterruptos, nós que construimos essa história, que perpassou por inúmeros encontros, debates, teses e dissertações, shows, Kipupas, seminários, filmes, documentários, projetos, etc., vemos a nossa frente um dos sonhos realizados: Malunguinho ser tema de uma escola de samba do RJ.

Imagem de Malunguinho Caboclo. Foto de Marisa Vianna.

Claro que o processo que envolveu a construção das coisas, não perpassou por nós, assim como por muitos que realmente fizeram essa história ter tamanho valor e reconhecimento para que pesquisadores da Escola quisessem o tema pra si. Esse desfile é fruto de muito trabalho de minha vida inteira (quase), dedicadas a construção desse processo que ainda está muito longe de se concluir.

São seis leis Malunguinho implementadas, uma no Estado e outras cinco nos municípios. Foram várias escolas a executar a lei, vide Professora Célia Cabral, mal lembrada... A tese do professor PhD em história e titular da UFPE Marcus Carvalho que foi fundamental pra tudo isso... O KIPUPA que revolucionou o povo da Jurema... Vozes pouco ouvidas... Contudo está aí, hoje é o dia... Dia de ver a interpretação que a viradouro dará ao Reis Malunguinho.

Imagem de Malunguinho Mestre. Foto de Marisa Vianna.

Não concordamos que ele seja mensageiro de três mundos. Muito menos que ele veio da África e se encontrou com os índios, onde aprendeu os segredos da Jurema... A história é outra, contudo, a romantização do tema perpassa pelo caráter umbandista de lidar com o sagrado do outro. Mas isso é um tema muito longo... Abordaremos na devida hora.

Lamento por muitas coisas, e também celebro por outras. Que seja um lindo desfile, e que Reis Malunguinho, trovão/raio que traz a resposta, seja justo com a história e com tudo que envolve ela.

É super engraçado ver pessoas que não construíram nada efetivamente nessa história, participando do desfile... Mas essa é sempre a lógica do capitão do mato. E isso não é sobre a Escola.

Malunguinho Reis. Rara imagem encontrada nos terreiros mais aintigos de jurema. Foto de Marisa Vianna.

Hoje terá telão no terreiro Casa das Matas do Reis Malunguinho, para os discípulos assistirem com seus próprios olhos mais um grande fato no processo de legitimação desse Reis na historia do pais. 

As quatro imagens aqui apresentadas,mostram a múltipla face dessa divindade, que é quatro em um. Ascendeu ao panteão da Jurema com uma função única: ser o mesmo herói que foi em vida, defensor do terreiro e das |Sete Cidades da Jurema, cujo ele é guardião e chaveiro, detentor da chave que não abriu senzalas, mas sim abre e fecha os caminos sagrados que levam aos reinos dos encantos mestres. Ainda há muito o que estudar sobre Malunguinho. poucos conhecem seu complexo culto. São muitas vozes dos terreiros que o salvaguardaram, cada uma com uma ciência mais linda que a outra. Esse estudo, continuo com muito entusiasmo, pois além de ser tema de mina futura tese de doutorado, é meu destino, àquelo que amo, pois afinal, Malunguinho é meu guardião, patrono, protetor e amigo de todas as horas. Sou seu discípulo devotado absolutamente. 

Detalhe da conta de Jurema do sacerdote Alexandre L'Omi L'Odò. Foto de Marisa Vianna.

As imagens contidas nessa postagem, foram registros feito pela fotógrafa baiana Marisa Vianna, que me enviou com muito carinho.

Mais informações científicas, encontram-se no livro pré lançado "Malunguinho - pressupostos juremológicos para sua compreensão na Jurema Sagrada, 2023, Casa das Matas doo Reis Malunguinho e Quilombo Cultural Malunguinho, de autoria de Alexandre L'Omi.


Sobô Nirê Mafá!

Trunfa Riá!

Saramunanga Cipopá!


Alexandre L'Omi L'Odò

Quilombo Cultural Maluguinho

alexandrelomilod@gmail.com

sábado, 28 de dezembro de 2024

Malunguinho vira tema de TCC que resultou em revista virtual

Capa da revista Praxe. 

Malunguinho vira tema de TCC que resultou em revista virtual

A Revista Praxe, fruto de um trabalho coletivo de TCC de alunas do curso de jornalismo da Faculdade UNIFG (Faculdade dos Guararapes), retratou de forma leve e criativa o tema Malunguinho, hoje, um dos personagens mais pesquisados no campo das redes sociais e da religião afro indígena no Brasil.

Fui convidado para conceder entrevista pela jornalista Isadora Caetano - @isadora.cctn, e pude recebê-las na Casa das Matas do Reis Malunguinho para uma tarde de conversas sobre o tema.

O resultado está aí, uma revista rica, com inúmeras matérias lindas, cheias de conteúdos qualificados em uma linguagem acessível e disponível virtualmente para todas e todos no link: https://heyzine.com/flip-book/a989b532d4.html#page/1

Parabéns à todas envolvidas. A aprovação de vocês nesse curso foi digna e o dez veio com total merecimento.

Há mais de 20 anos luto pela afirmação de Malunguinho como herói nacional. A cada matéria, vídeo, revista, cd, foto, etc. Fico feliz pela perpetuação da força desse meu querido pai, patrono de minha vida e Reis.

Sobô Nirê Mafá!!

Abaixo seguem as páginas desse rico material.






Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

As leis Malunuginho e suas micro-histórias

As leis Malunguinho e suas micro-histórias

As leis Malunguinho, que são em número 06 até o presente momento no Estado de Pernambuco, nasceram a partir da luta política do Quilombo Cultural Malunguinho (@qcmalunguinho) em prol do povo de terreiro e da educação negíndia.

Para fortalecer a lei federal 10.639/03, que prevê o ensino da história da África e dos afro descendentes nas instituições escolares e demais locais de formação, foi pensada a Lei Estadual da Vivência e Prática da Cultura Afro Pernambucana 13.298/07, revogada e relocada na lei estadual 16.241/17, a Lei Malunguinho, que prevê uma semana de atividades dedicadas à memória do líder negro Malunguinho e tudo que esteja ligado a temática afro indígena.

 

Lei Malunguinho 13.298/07. Acervo Quuilombo Cultural Malunuginho e Casa das Matas do Reis Malunguinho.

Esta lei mãe, que serviu de modelo para as demais leis, acrescentou no calendário de comemorações de Pernambuco o quilombola Malunguinho e consequentemente a Jurema Sagrada como uma possibilidade oficial para debate, atividades escolares, eventos, caminhadas, etc.  A lei nasceu com a força afro indígena com apoio do deputado Isaltino Nascimento.

A celebração da aprovação e homologação desta lei, aconteceu no plenário central da ALEPE em 2007, sendo historicamente a primeira gira do povo de terreiro neste local, o mesmo que em 1835 mandou exterminar Malunguinho. O ilú bateu forte e a fumaçada do Reis Malunguinho reinou neste dia, registrando na história oficial de Pernambuco esse ato inédito até então.

Seguindo nosso exemplo, nasceu quase que simultaneamente a lei municipal de Olinda - 5591/2007, que perpassou também pelo Quilombo Cultural Malunguinho e foi parida para fortalecer a estadual.

Lei Malunuginho de Olinda 5591/2007. Acervo Quilombo Cultural Malunuginho e Casa das Matas do Reis Malunguinho.

Unindo-se a este movimento em defesa da educação negríndia, nasceu a do município de São Lourenço da Mata - 2.285/2009, aprovada com total apoio e articulação da instituição Afro Educação, do professor Alexandre Dias e Carlos Alberto. Também houve celebração na Cidade, seguida de anualmente vários eventos provindos dela.

Leu Malunguinho de São Lourenço da Mata, nº 2.285/2009. Acervo Quilombo Cultural Malunguinho e Casa das Matas do Reis Malunguinho.

No município de Goiana, único a ter o Quilombo do Catucá oficialmente reconhecido na esfera federal, no distrito de São Lourenço de Tejucupapo, aprovou de forma silenciosa, afinal não sabemos como foi a articulação, a lei - 2.294/2015, que instituiu no calendário escolar da Cidade, o dia 18 de setembro para atividades em torno da memória de Malunguinho e toda sua luta. Um detalhe importante, é que só em 2024 que tomamos, nós e as lideranças do Quilombo do Catucá, ciência da existência dessa lei.

Lei Malunguinho da Cidade de Goiana (Mata Norte de Pernambuco), Nº 2.294/2015. Acervo Quilombo Cultural Malunguinho e Casa das Matas do Reis Malunguinho.

Em março de 2019, seguindo a corrente de luta, nasceu a de Recife - 18.562/2019, que foi proposta pelo vereador Ivan Moraes Filho, que me convocou para ampliar as perspectivas da lei e dando um nome mais completo, incluindo os povos indígenas nela entre outros parágrafos mais adequados ao tempo atual. Foi a Lei municipal da Vivência e Prática da Cultura Afro-indígena Pernambucana.

Lei Malunguinho do Recife, Nº 18.562/2019. Acervo Quilombo Cultural Malunguinho e Casa das Matas do Reis Malunguinho.

Em dezembro de 2019, foi aprovada a Lei Municipal de Vivência, Prática da Religião, Cultura e Tradições Afro-indígenas de Igarassu - 3.164/2019, articulação também do Quilombo Cultural Malunguinho com lideranças locais da Cidade, como Gilmar Kaya Ngongo e Diviol Lira.

Lei Malunuginho da Cidade de Igarassu, Nº 3.164/2019. Acervo Quilombo Cultural Malunguinho e Casa das Matas do Reis Malunguinho.

Em meio a isso tudo, conseguimos articular a instituição do nome de Estrada de Malunguinho em uma via rural de longa extensão que se inicia no final da avenida Santa Catarina, no cruzamento de acesso à barragem da COMPESA, no Rio Utinga, exatamente nas coordenadas 7º52’20.7”S – 34º5525’9”W, seguindo o curso do Rio Utinga até a divisa com a Cidade de Abreu e Lima. Esta via não fora nominada até então, cabendo-nos argumentar e incluir na Lei Orgânica da Cidade mais esse avanço em homenagem à memória do Reis Malunguinho, garantindo a perpetuação do nome desse líder em órgãos oficiais. Todo o entorno do Rio Utinga, fora Catucá na primeira metade do século XIX, e via de fuga desses quilombolas.

Já houveram muitas atividades ao longo dos anos nas escolas públicas. As que mais se destacaram foi o EREM Mariano Teixeira que durante 12 anos realizou a lei Malunguinho com a força da Professora Célia Cabral e no EREM Cândido Duarte, que até hoje tem o Núcleo Malunguinho de pesquisa que realiza anualmente diversas atividades utilizando essas leis. O professor Rodrigo Correia, leva com muito afinco este trabalho. Toda essa movimentação foi profundamente estudada na dissertação de mestrado “Malunguinho na aula é Reis – perspectivas para uma educação contra colonial, do mestre e doutorando em antropologia Henrique Falcão.

Alguns já chegaram a dizer que essas leis são inúteis, pois não se realizam no Estado de forma ampla. Discordamos veementemente, pois as leis estão aí pra serem realizadas por quem desejar, assim como são por diversas pessoas que inclusive as incluem em seus projetos. Pena não terem orçamento previsto, grande deficiência delas, mas o argumento que elas oferecem é histórico e oficial, podendo servir para realizarmos qualquer projeto, na escola ou fora dela, nos terreiros, nos espaços públicos, etc.

Um erro corriqueiro de percepção sobre o dia 18 de setembro, como data comemorativa, deu-se a partir da lei estadual 13.298/07, pois nela se afirma que esta data teria sido o dia que Malunguinho teria sido morto em combate, e isso não é verdade. A data de 18 de setembro, configura do dia da comunicação do assassinato em combate cruel do Malunguinho João Batista, podendo o mesmo ter sido morto dias, semanas ou até meses antes, levando em consideração que os comunicados escritos demoravam muito a serem oficializados devido a logística geográfica e de condições diversas da época. Na lei ficou esse erro, devido à falta de compreensão de quem a redigiu em 2007. Após aprovada, ficou ali este equívoco de interpretação que não condiz com os fatos históricos de fato.

Outro equívoco muito comum é achar que o Malunguinho João Batista, o último a ser derrotado no Catucá em 1835, teria sido o mais relevante. Mesmo sendo famigerado e muito citado nas documentações, o Malunguinho mais importante e que teve sua cabeça colocada a prêmio pelo maior valor pedido pela cabeça de um negro escravizado na época (100 mil-réis) foi o possível primeiro e mais poderoso de todos os Malunguinhos, morto em 1829.  

Sobre a história desse grande líder negro temos muito o que debater. As leis Malunguinho foram construídas para fortalecer a luta, e assim conseguimos. Em 2025 até uma Escola de Samba do RJ do grupo especial, a Unidos da Viradouro irá dar sua interpretação da história de Malunguinho. Vejam até onde conseguimos chegar com um trabalho realizado há pelo menos 20 anos atrás. São inúmeros os documentários, textos, fotos do Kipupa Malunguinho, teses, dissertações, TCC’s, projetos, desfiles, homenagens, CD, etc. A partir do Quilombo Cultural Malunguinho muito se conseguiu registrar para ajudar na preservação da memória da luta por liberdade do Quilombo do Catucá.

Malunguinho sempre esteve vivo! Continua mais forte que nunca. Vivo nos terreiros, na história e nas leis. Nenhuma entidade ou divindade da Jurema chegou a ter esse privilégio. Queremos que mais histórias saiam do ostracismo branco e venham para nosso mundo nos educar e empretecer e indigenecer nossas vidas, mentes, corações e ações.

Sobô Nirê Mafá Reis Malunguinho!

Triunfa Riá!

Saramunanga Cipopá!

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Alexandre L'Omi L'Odò

Quilombo Cultural Malunguinho

alexandrelomilodo@gmail.com

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

CD Sobô Nirê - meu labor da mata será lançado dia 16/10 em todas plataformas digitais

Capa do CD Sobô Nirê - meu labor da mata. Arte de Wellington Tatoo.

CD Sobô Nirê – meu labor da mata

O CD Sobô Nirê - meu labor da mata é um documento fonográfico criado para propiciar um diálogo da tradição dos cânticos sagrados de Malunguinho com a contemporaneidade e as artes de forma livre, criativa e fundamentada numa pesquisa séria. As toadas do Reis Malunguinho, divindade do panteão da Jurema Sagrada, atravessaram séculos, sendo cantadas cotidianamente nos terreiros através das entidades incorporadas e dos juremeiros e juremeiras. Sucessos tradicionais mais que centenários repetidos de forma ritual em quase todo Nordeste. Sim, toadas são sucessos musicais que atravessam gerações sem precisar da indústria fonográfica, e que podem transcender os espaços sagrados dos terreiros para invadir as plataformas digitais de música sendo reinterpretadas através de artistas ligados ou não à Jurema. Afinal, assim como a fumaça, a arte é livre.

As toadas cantadas na umbanda, candomblé e Jurema, povoam o imaginário da música popular brasileira desde a década de 1940, não sendo qualquer novidade as interpretações livremente artísticas, incluindo efeitos digitais, guitarras, e demais instrumentos, respeitando a liberdade poética de cada artista. Baden Power, Vinicios de Moraes, Clara Nunes, entre outros e outras artistas e sacerdotes, como Pai Edu do Alto da Sé de Olinda, Joãozinho da Gomea, gravaram discos, cd’s, fitas k7, etc, preservando a memória desses cânticos que embalam nossas vidas inteiras, seja dentro dos terreiros ou fora deles.

Há 10 nos guardado na gaveta (2014-2024), esperando ser aprovado em editais públicos de fomento à cultura (pleiteamos mais de cinco vezes, sem sermos aprovados), decidimos encerrar as expectativas com apoios dos governos e vimos à público divulgar este trabalho feito com tanto amor e fé, com tanta dedicação dos artistas envolvidos, que merece ser ouvido deliberadamente e ecoar por todos os meios possíveis, levando a mensagem da Jurema do Reis Malunguinho pro mundo.

O CD Sobô Nirê- Meu labor da mata contém 13 faixas com um mix entre toadas tradicionais e músicas inéditas com criações e arranjos que trazem a identidade sonora de cada artista pernambucano integrante do projeto.  O processo de captação, pós-produção e finalização foi realizado no Estúdio Peixe Sonoro (CTCD Nascedouro de Peixinhos/ITEP), a pesquisa histórica e a articulação cultural artística ficaram a cargo do Pesquisador historiador, mestre em ciências da religião e juremeiro Alexandre L’Omi L’Odò, Quilombo Cultural Malunguinho, que concebeu o projeto e participou em todas suas instâncias de realização, sendo o produtor fonográfico da obra. A produção musical esteve a cargo do músico percussionista Rinaldo Aquino, Ogan e L’Omi. A produção geral ficou a cargo do jornalista e juremeiro Ricardo Nunes, que com maestria dedicou todo seu suor para a realização deste projeto. A pesquisa foi extraída do livro ainda no prelo, “Malunguinho e seus cânticos sagrados na Jurema”, que contém mais de cem toadas registradas nos mais de 20 anos de pesquisa realizada por L’Omi.  

A proposta inicial era realizar um CD com toadas de Malunguinho, reunindo grande parte de seu arsenal musical na Jurema. Quando o projeto chegou nas mãos de Selma Leite (CTCD Nascedouro de Peixinhos) para gravação Estúdio Peixe Sonoro. Aprovado pelo seu mérito histórico e cultural de preservação de nossas raízes, ela sugeriu a ampliação e o convidasse de outros artistas para criar um universo maior que valorizasse ainda mais o trabalho. Assim foi feito e aceito. Projeto aprovado em um dos editais do Estúdio Peixe Sonoro, conseguiu realizar uma integração valiosa de artista que dedicaram sua criatividade e talento para dar vida a algo inédito e o resultado ficou admirável. Todos os músicos, grupos e pessoas partícipes deste trabalho cederam seus direitos autorais de imagem e som para o projeto.

Este projeto foi assinado como produção do Selo Fonográfico Peixe Sonoro, contando com uma produção colaborativa entre o CTCD Nascedouro de Peixinhos e os artistas convidados: Karynna Spinelli, Bojo da Macaíba, Coco dos Pretos, Bongar, Lucas dos Prazeres e Chinelo de Iaiá, e juremeiros e juremeiras convidados para gravar as faixas com toadas. Pai Vado de Pau Ferro, Pai Marivaldo Cabuêta, Cristina do Arraiá, Mãe Rosa do Palácio de Yemanjá, Thúlio do Bongar, entre outras pessoas contribuíram contando em faixas diversas, umas que estão no CD e outras que no futuro virão à público.  

A capa

Desenhada e pintada a punho pelo artista plástico, tatuador e ogan Wellington Nascimento da Silva, o renomado Wellington Tatoo (@manguedemim), a capa traz elementos que retratam o imaginário do Reis Malunguinho na Jurema Sagrada. Utilizando-se de suas cores rituais, verde, vermelho e preto, para dar o tom correto ao trabalho, traduzindo sua cromociência, os desenhos imprimem seus símbolos mais fortes, a estrela de sete pontas, ou estrela de Malunguinho que é destaque principal da arte. Adornada por sete chaves que representam as chaves que abrem ou fecham os portões sagrados das sete principais Cidades da Jurema, aludem ao poder espiritual que essa divindade tem no contexto juremológico da religião, dono das chaves mestras dos encantos. Ao centro, tem sua imagem em destaque, a mesma que podemos ver nos terreiros, quando é cultuado como Exu/trunqueiro (o garotinho preto sentado à espreita, observando quem vem e quem vai). Essa imagem, é a mesma desenhada por Flávio Felipe de Carvalho Filho em 2016, para compor as ilustrações da dissertação de mestrado Juremologia (L’Odò, p. 272, 2017). A pintura que faz a moldura dessa capa, traz elementos tribais africanos e quatro flechas, que cercam, dão forma e sentido semiótico ao que quer falar a arte: Malunguinho é negríndio.

A saudação “Sobô Nirê”, enigmática afirmação secreta e única na tradição da Jurema para uma divindade, afinal não há outra entidade ou divindade que tenha uma saudação só sua como Malunguinho, traz sua mais importante reverência, ainda pesquisada e não traduzida publicamente. O sub título “Meu Labor da Mata”, é um trecho de sua toada: “Malunguinho é meu labor, meu labor da mata... Oh meu labor da mata”, cantada por vezes pelos mais velhos como “oh meu amor da mata”, sendo uma das toadas de melodia e ritmo mais interessantes desta divindade, e também que afirma sua importância na mata sagrada, onde ele é o labor, a força, o ser pujante, a máquina que faz moer toda Ciência dentro dos segredos mestres.

Ficha técnica

Produção fonográfica: Alexandre L’Omi L’Odò.

Selo e estúdio: Peixe Sonoro.

Produção executiva: Selma Leite.

Produção geral: Ricardo Nunes

Técnicos de som: Peixe Sonoro

Produção musical: Rinaldo de Aquino, Alexandre L’Omi L’Odò e Pedro Santos

Produção Artística, pesquisa, articulação, direção artísitica: Alexandre L’Omi L’Odò.

Pós-produção, mixagem e masterização final: Alexandre L’Omi L’Odò, Marinho, Léo D.

Artistas: Grupo Bongar, Lucas dos Prazeres, Chinelo de Iaiá, Bojo da Macaíba, Coco dos Pretos e Karynna Spineli.

Juremeiros e juremeiras envolvidos: Cristina do Arraiá, Pai Marivaldo Cabuêta, Mãe Rosa do Palácio de Yemanjá, Juliana Barbosa, Ogan Rinaldo Aquino, Ogan Thúlio da Xambá.

Capa: Wellington Nascimento da Silva.

Serviço:

O CD Sobô Nirê - meu labor da mata, estará acessível gratuitamente em todas as plataformas digitais em 16 de outubro de 2024. Após o lançamento, também disponibiliraremos no YouTube.

Alexandre L'Omi L'Odò

Quilombo Cultural Malunuguinho 

alexandrelomilodo@gmail.com 

Quilombo Cultural Malunguinho

Quilombo Cultural Malunguinho
Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!