domingo, 27 de novembro de 2011

A comida vem dos terreiros - O sagrado que alimenta

 
Capa do Diário de Pernambuco de 27 de novembro de 2011. Na foto em primeiro plano, juremeiras do Terreiro Mensageiros da Fé, Casa de Dona Dora - Jordão Baixo/Recife.

A comida vem dos terreiros
O sagrado que alimenta
Em Pernambuco, terreiros servem de espaço para cultos e também alimentação

27/11/2011 | Vida Urbana C6 e C7 | Recife, domingo - Religião
 Por Marcionila Teixiera
marcionilateixeira.pe@dabr.com.br

 Juremeiro Sandro de Jucá ao lado de Dona Dora e suas afilhadas de Jurema em ritual de "obrigação". Foto de Bernardo Dantas/DP.

Além de espaço de culto religioso, terreiros contribuem para a segurança alimentar de comunidades pobres 
A comida posta à mesa é farta, variada. Tem um cheiro forte e sinais de um preparo cuidadoso. Há peixe frito, raízes e alimentos feitos com mandioca e milho. Um cântico entoado no salão pequeno, coberto com telhas de amianto, dá início ao ritual. O bairro é Jordão Baixo, Recife. Logo todos fecham os olhos em sinal de concentração. Aos poucos, o sacerdote e as filhas de santo circulam a mesa enquanto degustam as iguarias. A comida também é ofertada às entidades da jurema. O sagrado praticado nos terreiros transborda pelas frestas do espaço religioso, toma as casas da vizinhança e chama o povo para se alimentar. Seja dia de festa ou não. A solidariedade não deixa lugar para a fome na rotina difícil das comunidades pobres da Região Metropolitana do Recife.

A prática cotidiana da partilha de alimentos nos terreiros foi recentemente comprovada pela pesquisa Alimento: direito sagrado, documento publicado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), em parceria com a Unesco, que mostra o papel desses espaços de culto das religiões afro-brasileiras na promoção de segurança alimentar e nutricional das comunidades onde estão localizados. Apesar de historicamente serem caracterizados pela solidariedade, parece que somente agora o governo federal despertou para a importância dessa velha prática dos líderes religiosos: a distribuição de alimentos e a valorização de refeições saudáveis e diversificadas. Os pesquisadores coletaram dados de quatro regiões metropolitanas do país: Recife, Belém, Belo Horizonte e Porto Alegre.

 “A jurema com seus frutos, sempre nos alimentou”, canta Sandro de Jucá. Juremeiro da casa Mensageiros da Fé, o mais antigo terreiro de Jordão Baixo, com 44 anos, ele mantém o cachimbo acesso nas mãos como sinal de religiosidade, invocação da espiritualidade. “Procurar o alimento e não ter é considerado algo muito grave por nós. Ao comer, alimentamos o corpo, mas também comungamos com o sagrado. Por isso, não ter a comida atinge não só o físico, mas também o espiritual”, afirma Sandro, que também é babalorixá no candomblé.

 Pratos que compõem a culinária da Jurema. Mesa de Jurema. Foto de Bernardo Dantas/DP.

Cozinhas comunitárias 

Séculos de atraso na aplicação de políticas públicas junto à população de terreiros, podem ficar para trás com o mapeamento desses espaços. Uma das propostas mais interessantes surgidas a partir do estudo é a implantação de cozinhas comunitárias nessas casas. Ao todo, 92% dos terreiros das quatro regiões metropolitanas pesquisadas têm alguma ação de preparo e distribuição de comidas para as famílias do entorno.


“O estudo revelou que a maior parte das cozinhas são razoavelmente equipadas, mas muitos sentem falta de uma estrutura melhor. A ideia da cozinha comunitária é equipar esses espaços e capacitar quem prepara a comida para a educação alimentar, a exemplo das que já foram destinadas à população quilombola”, destaca Marcos Dal Fabbro, diretor da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS. O plano pode ajudar a melhorar a política de combate à fome do governo federal. Os dados revelam que 31% dos terreiros distribuem alimento para a comunidade. Outros 14,3% repassam o mesmo apenas para pessoas em situação de risco social.

Domínio feminino 

Doralice Pereira de Lima é dona Dora, a yalorixá do terreiro Mensageiros da Fé. Ela faz parte de uma legião de mulheres que lidera os terreiros do país. Segundo os dados do MDS, em 55,1% dos casos, são elas quem comandam esses espaços. Quando se fala em cor/raça, 72% dessas pessoas se consideram negras ou pardas, com destaque para a Região Metropolitana do Recife, que tem o maior percentual entre as regiões pesquisadas daqueles que se identificam como pretos ou pardos (82,3%). Em meio ao domínio de mulheres negras ou pardas, um ponto negativo: a RMR tem o maior percentual de lideranças sem escolaridade, com 8,2% desse contigente.

O perfil traçado aponta outros dados importantes. Se nas outras regiões do país é a umbanda que mais ocupa espaço nos terreiros, na RMR a jurema, religião de matriz indígena, lidera o ranking. Das 1.261 casas levantadas pelo estudo, 896 são de juremeiros. A RMR somente perde para a RM de Porto Alegre em número de terreiros. Lá, são 1.342 casas.

Em Pernambuco, outro ponto preocupante se refere ao acesso a políticas públicas de esgotamento sanitário e água potável desses espaços religiosos. Na RMR, o percentual de terreiros com atendimento irregular da rede de água é de 67,7%. Também é a capital pernambucana e seus municípios vizinhos que apresentam os maiores percentuais de fossas rudimentares e sépticas não ligadas à rede coletora, 17,5% e 23,4%, respectivamente. Outros 7,5% despejam o esgoto em valas.

Nada pode ser desperdiçado 

Os terreiros de umbanda, candomblé e jurema são espaços conhecidos pela fartura na oferta de alimentação e pela qualidade da comida oferecida. “Uma das características dos terreiros é que os cardápios são direcionados aos orixás e às outras pessoas que frequentam o espaço ou apenas visitam em dias de festa de santo. A ideia é: vou fazer o melhor com o melhor ingrediente. Nada pode ser desperdiçado, tudo deve ser partilhado”, explica o antropólogo e especialista em antropologia da alimentação, Raul Lody.

 

Juremeiro, Alexandre L’Omi L’Odò conta que as festas mais tradicionais do povo de terreiro em Pernambuco acontecem em dezembro (Iemanjá), em julho (Oxum), em junho (Xangô), em março (mestres) e em agosto (trunqueiros). “Nessas horas, costuma-se servir a população em geral. São dez quilos de feijão, trinta quilos de carne e nove quilos de arroz, por exemplo. O que sobra, é reaproveitado. Nesse caso, essa não é a comida do sagrado”, explica. Em geral, as festas abertas acontecem três dias depois dos rituais internos, quando são feitas as obrigações aos orixás.

Culinária para a melhoria de vida

No terreiro Ilé Axé Ogbom, em Água Fria, no Recife, o preparo de alimentos está ligado à melhoria de vida. Mulheres em situação de risco social aprendem no espaço boas práticas de alimentação em um curso gratuito ministrado pela yabassé Carmem Virgínia e apoiado por uma rede de supermercados.

“Ensinamos o preparo de comidas que são de grande aceitação comercial com foque na culinária afro”, explica Carmem, que aos 7 anos já sabia que assumiria a função de yabassé, a mulher responsável pelo preparo da comida no candomblé. Hoje ela também é consultora em restaurantes de cozinha afro internacional.

Levar a frente ações sociais como essa, no entanto, não é fácil. O estudo revelou que 52,5% das lideranças dos terreiros usam sua própria renda na compra dos alimentos. O problema é que quase metade dessas lideranças (46,9%) recebe apenas até um salário mínimo por mês. “Sem alimento não há desenvolvimento. O homem não pensa, não vive. Em qualquer lugar, o alimento tem que ser sagrado”, alerta o pai de santo do mesmo terreiro, Everaldo de Xangô. É exatamente na RMR que está o menor rendimento das lideranças, com 85,3% delas recebendo até dois salários mínimos.

Pai Everaldo de Xangô e a Iyabassé Carmem Virgínia do Ilé Axé Ogbom. Foto de Bernardo Dantas/DP.


Maria Luiza Santos da Silva, 53 anos, diz que reconhece o valor que o terreiro tem. Vizinha do Ilé Axé Ogbom, ela conta que muitas vezes, precisou pedir ajuda no espaço e nunca foi mal recebida. “Cresci em terreiro e conheço bem a realidade. Nunca bati na porta de pai Everaldo pedindo ajuda para receber um não. Muitas vezes ele me deu feijão, arroz. Ele não dá mais porque não pode”, conta a dona de casa, casada com um biscateiro e mãe de 10 filhos.

No terreiro Mensageiros da Fé, houve tempo em que até médicos eram trazidos para atender a população carente. “Não temos mais suporte financeiro para isso”, comenta Sandro de Jucá, juremeiro e babalorixá. Apesar das dificuldades, ao menos uma vez por mês o grupo distribui sopa aos moradores do bairro. “Quando dá, também oferecemos enxovais a quem nos procura. A fartura vem da espiritualidade”, explica.

Apenas 12% dos terreiros recebem cestas de alimentos do governo federal, segundo a pesquisa, o que ainda representa muito pouco. Na RMR está o maior percentual de terreiros que recebem estas cestas, 31%.

Entrevista com Sônia Lucena


O alimento que sai dos terreiros não tem apenas cheiro de solidariedade. Possui ingredientes nutritivos, como avalia a nutricionista Sônia Lucena, do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco e membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar.

Como a senhora analisa a prática de distribuição de alimentos pelos terreiros?

Historicamente, o terreiro não é só espaço religioso. Assim como as igrejas, também fazem m trabalho social.  A música produzida por eles, por exemplo, é de ótima qualidade, assim como a comida, que tem um cardápio próprio, de origem afro. Quando vieram seqüestrados e escravizados do continente africano, muitos negros trouxeram sementes escondidas nos seus próprios cabelos e assim conseguiram manter a tradição alimentar ao longo dos séculos.

Podemos afirmar que as comidas de terreiro são saudáveis?

Depende. Se agente fala em consumo de vatapá todo dia, por exemplo, não é indicado porque o óleo de dendê usado no seu preparo  depois de levado ao fogo é rico em colesterol. O mesmo vale para o coco, que consumido em excesso traz sobrepeso. É como se alimentar com uma ceia de Natal todos os dias. Se a população fizesse isso, 90% das pessoas estariam obesas.

Segundo a pesquisa, a maioria dos alimentos consumidos nos terreiros da RMR são os caprinos, o frango e o fubá. Além disso, eles também costumam oferecer à comunidade a conhecida mistura de feijão, arroz e carne. O que a senhora acha desses produtos?

A mistura de feijão, arroz e carne é excelente, perfeita. O Conselho Nacional de Nutrição chegou a fazer campanha para estimular esse consumo. O feijão é rico em proteína vegetal e o arroz em aminoácidos. Juntos, dão uma mistura protética muito rica. No entanto, estamos falando de feijão com água e sal e não de feijoada. No caso da galinha criada em casa, qualquer um pode comer, desde que tire o couro, pois é onde está armazenado o colesterol. A carne branca tem menos colesterol que a carne vermelha. No caso do fubá, é o milho beneficiado. É um alimento rico em calorias. A mistura de carne de bode, por exemplo, com produto oriundo do milho também é muito boa, pois o que falta na proteína do milho é complementado pela proteína animal.

Dados da Pesquisa
 



 
Saiba Mais sobre estas religiões de terreiro



Veja o vídeo


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Publico aqui matéria do jornal Diário de Pernambuco de domingo - 27 de novembro de 2011, caderno Vida Urbana C6 e C7 (duas páginas). Solicitei ao Diário essa matéria, por ter identificado que o lançamento oficial dos resultados da Pesquisa Socioeconômica e Cultural das Comunidades Tradicionais de Terreiro de Recife e Região Metropolitana, realizada pelo MDS- Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, com parceria com a SEPPIR e a UNESCO e realização da entidade Filmes de Quintal, passou quase desapercebido pela mídia local em todos os seus âmbitos. 

Horas, como resultados tão importantes e impactantes para a realidade social, cultural e religiosa do nosso Estado, como os dessa pesquisa passariam desapercebidos pela mídia? Resposta simples: o racismo e a intolerância religiosa ainda são fortes aliados no desinteresse por assuntos ligados essencialmente a temas dos povos afro descendentes e indígenas, sobre tudo às religiões de matrizes africanas e indígenas.

Contudo, a jornalista Marcionila Teixeira se interessou pela pauta sugerida e caiu em campo. Realizou um belo trabalho de pesquisa, trazendo ao povo pernambucano essas informações de forma inteligente e esclarecedora. Assim, o Diário de Pernambuco, quebra parte da barreira histórica que sempre colocou assuntos ligados ao povo negro e índio nas páginas policiais. 

Digitalizei parte da matéria (fotos, dados e textos). Ainda digitei parte do texto que só saiu na versão impressa do jornal. Portanto, a matéria aqui está totalmente completa e na íngra.

Fico feliz em ter podido contribuir de forma ativa com a visibilização dos resultados dessa pesquisa. Sou de terreiro. Fui pesquisador de campo nesse levantamento de dados e, ao ver esse resultado concreto (impresso) só agradeço à minha mãe Oxum e a Jurema Sagrada e, também ao trabalho que realizo em conjunto com o Quilombo Cultural Malunguinho, que ao longo dos seus 8 anos de existência vem torando possível, de forma coletiva, o fortalecimento crítico e religioso (teológico) do povo de terreiro de pernambucano, sobre tudo o do Povo da Jurema Sagrada e da cultura popular.

Salve a Jurema, salve a fumaça e salve Malunguinho! Sobô Nirê!


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O homem mais elegante do mundo mora em Paulista - Revista Aurora.

 Coquista Soul Man
O homem mais elegante do mundo mora em Paulista
Revista Aurora

Mestre Galo Preto topa misturar seu guarda-roupa aos lançamentos da temporada para deixar o alto-verão 2012 bem elegante

 Concepção, produção e texto: Phelipe Rodriges
Fotos: Bernardo Dantas
  
Mestre Galo Preto é irmão gêmeo, em postura, da eleita a mais elegante do país, a empresária italiana Costanza Pascolato. Enquanto fala da origem muito humilde em Bom Conselho de Papa Caças (hoje reconhecido como quilombo de Rainha Izabel), fico imaginando o casamento dos dois. Ele nasceu em 1935. Ela é de 39. São contidos nos gestos, falam baixinho, olham no olho. Desisto porque seria incesto. Volto à nossa conversa. “Comecei a usar linho e chapéu panamá em 1951, quando virei garoto-propaganda das Casas Paulista (o braço nordestino da rede Casas Pernambucanas)”. O figurino foi idéia de Milton Lundgren, diretor administrativo da empresa. 
 
 
 Na frente das lojas, o garboso Tomaz Aquino Leão, Mestre Galo, bastava sorrir e uma multidão de clientes invadiam a loja. Além de tudo, ainda cantava coco e era um diabo com emboladas. Desde sempre, olhava um cena e transformava em versos.  “Tinha oito anos quando vi minha mãe, Celestina, matando galinha. Perguntei o nome de cada parte da ave”. No final, tinha uma aula de anatomia musicada. Recorda até hoje da letra. Os irmãos mais velhos, Curió e Preto Limão, já eram cantadores de rua. Tomaz foi tentar a mesma sorte no Hotel Tavares Correia, em Garanhuns. Virou sucesso. Depois veio o Recife.

Aqui, a família achou que era tempo dele arrumar emprego de gente. Foi vender batatas na pracinha do Hipódromo. “Batata inglesa. Quer hoje, freguesa? Não dá pra pobreza. É só da riqueza”. Passou na porta de Ascenso Ferreira. “Chega aqui, neginho. Quem fez o refrão? Você é artista, vai cantar na rádio”, decretou o poeta. PRA8, a Rádio Clube, para estrear. Virou Galo Preto. De garoto-propaganda aos palcos de Chacrinha, Som Brasil, Flávio Cavalcanti. Um figurino mais absurdo que o outro.sempre a elegância suprema.

 
 Para capturar um pouco da essência de Mestre Galo Preto, Bernardo Dantas investiga os retratos de Samuel Beckett e Buster Keaton assinados por Richard Avedon. Todo o foco aos acessórios, ao guarda-roupa e, sobretudo, à expressão. “Gosto de ouro. Já usei até alguns dentes”. Por isso, tantas pulseiras, anéis e colares. O linho surge em versões renovadas com brilho, por exemplo. Muito arrojado, topou trocar a camisa de botão por regatas coloridas. A escolha pelos óculos escuros? Mestre Galo vira um coquista + soul man. E sua coleção impressionante de chapéus é uma pista para encontrar o homem mais elegante do mundo: Maranguape I, Palista.



 Visitem a matéria e a revista nesse link: http://www.diariodepernambuco.com.br/revistas/aurora/20111120/


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Publico aqui, matéria da Revista Aurora, do dia 20 de novembro de 2011, dia nacional da Consciência Negra. Na matéria, você poderá conhecer um pouco da história do Mestre Galo Preto e também conferir sua elegância nata. Achei a idéia do jornalista Phelipe Rodrigues muito interessante, em focar no artista da cultura de raiz, o valorizando e percebendo seu aspécto de moda. A cultura "popular" tem que ocupar sim esses espaços. A mídia tem que ter mais a cara do Brasil, assim, poderemos ver as cores lindas que compõem nossa verdadeira cultura.

Salve Zumbi e salve Malunguinho! Salve o dia da Consciência Negra na presença preta cor da noite do Mestre Galo Preto. Obrigado Mestre!


Alexandre L'Omi L'Odò
Prodção do Mestre Galo
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

V Colóquio de História da UNICAP abre com peça teatral sobre o líder negro e divindade Malunguinho



V Colóquio de História da UNICAP abre com peça teatral sobre o líder negro e divindade Malunguinho

Na abertura do V Colóquio de História da UNICAP (16/11/2011), evento realizado pela coordenação do curso de história da Universidade, trouce o Grupo Cultural e Teatral Poetas Vivos, formado por alunos e alunas do curso de História, que apresentou uma peça muito interessante, com um tema bastante histórico e pernambucano, para nos banhar com arte: a peça "Malunguinho, o Guerreiro pernambucano".

Foi muito bonito ter podido ouvir toadas de Jurema cantadas em âmbito acadêmico e ver como o Kipupa Malunguinho e o trabalho do QCM - Quilombo Cultural Malunguinho está sendo importante para o reconhecimento desse personágem marginalizado na historia de nosso Estado.

Com muita música e percussão que embalaram os cânticos de Jurema entoados pelos atores e atrizes, a platéia pode adentrar um pouco do contexto histórico do líder quilombola negro/índio Malunguinho, que na primeira metade do século XIX fez ferver a Mata Norte pernambucana com o extenso Quilombo do Catucá, lutando pela liberdade de seu povo oprimido e escravisado.

Fiz esse registro audiovisual para poder resguardar um pouco da memória desse V Colóquio de História que foi muito bom, em conteúdo e organização. O professor Dr. Luiz Marques Luz, coordenador geral do evento e do curso de História, deu aula de articulação em ter realizado mesas tão interessantes e bem focadas nos temas do nosso curso, com palestrantes de renome no cenário acadêmico nacional.

Também dei uma consultoria rápida ao grupo de teatro sobre o tema, que o materializou muito bem em palco, com muito humor. Esse nosso contato sobre o conteúdo da peça foi bastante interessante e engraçado, mas essa história eles mesmo contarão... 

Salve a fumaça e salve o Rei Malunguinho!

Alexandre L'Omi L'Odò
Graduando do curso de História da UNICAP
alexandrelomilodo@gmail.com

sábado, 19 de novembro de 2011

Consciência Negra com palestra no Observa e Toca Malakoff

Consciência Negra com palestra no Observa e Toca Malakoff
No dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra em todo país, estarei junto com outros amigos de trabalho dando uma palestra sobre produção cultural no meio da cultura popular. Vai ser um prazer poder dividir com o grande público minhas experiências nesse campo que trabalho a mais de 10 anos. Claro que darei um recorte negro e de consciência negra ao tema abordado... Aguardo todas e todos lá, para que juntos possamos trocar saberes. 
Salve a Jurema e a nossa cultura!
Serviço:
DIA 20 DE NOVEMBRO 
16h - Palestra: Produção do Artista Popular: Cuidados e Particularidades
Palestrantes: Alexandre L'Omi L'Odò (Músico e Produtor - PE), Guitinho (Músico - PE) e Carlos Carvalho (SECULT - PE)
17:30h - Banda Principal: Quinteto Violado
18:30h - Intervenção Poética: Raísa Feitosa (poetisa) + Lula do Pandeiro
19h - Bandas Inscritas: Mesa de Samba Autoral
Ferrugem
Alexandre L'Omi L'Odò - alexandrelomilodo@gmail.com

Filme Jardim das Folhas Sagradas em Pernambuco - Vale a pena ver!!

Acabei de ganhar 15 ingressos para o filme Jardim das Folhas Sagradas que está sendo exibido até amanhã no São Luiz Recife. Quem me ofertou esse brinde maravilhos foi o amigo Roger Renor, que me ligou hoje logo cedo e disse que estes estarão à minha disposição na bilheteria do Cinema. Isso sim é uma preocupação com o consumo de obras audiovisuais nacionais de tema negro e de terreiro. Valeu Roger, tú é foda!! 
Bom, quem estiver afim de ir ver gratis, me liga: 8887-1496. A exibição é até amanhã (20/11). E ai, bora??
Conheçam o site, tá muito bom, com informações valiosas: 
www.jardimdasfolhassagradas.com.br
Alexandre L'Omi L'Odò.

Fanáticos religiosos perturbam passageiros no metrô - seria o Espírito Santo?



Fanáticos religiosos perturbam passageiros no metrô - seria isso o Espírito Santo?

Ao assistir o vídeo acima, qualquer pessoa que não esteja envolvida no mundo neopentecostal contemporâneo irá achar um absurdo a atitude desses ditos "evangélicos" que ao estarem em profunda relação com suas convicções religiosas, promovem a mais descarada falta de respeito aos outros - outros esses, de diversas outras religiões que merecem respeito, especialmente no espaço público democrático.

Achar que a divindade suprema cristã Deus se manifestaria dessa forma em pessoas em metrôs, em surtos psicóticos de alto grau não caberia a compreensão bíblica. portanto: seia isso o Espírito Santo? 

Observo esse fenômeno como o desespero das pessoas com seus universos individuais, onde eles e elas ao se sentirem vazios interiormente, buscam justificativa nessas formas de expugnar suas energias, opressões sociais, frustrações e egos. Essa é forma perfeita encontrada por eles para dizer que estão em relação com o sagrado supremo, chegando mesmo a serem utilizados por este (em loco e em corpo), para promover atos de desrespeito aos homens e mulheres. Portanto, assim legitimam-se em suas comunidades religiosas, em que esses atos são contados posteriormente em "testemunhos" na Igreja como algo de virtude na lida da expansão do pensamento evangélico.

E mais, o racismo histórico ainda se revela na fala de um dos "evangélicos" que diz: "Deus gosta de negão, aprendi que Deus gosta é de negão"... Com isso fica claro que o indivíduo que é negro, ao se sentir aceito socialmente pela comunidade de sua Igreja, começa achar que Deus gosta de negros, revelando assim sua visão interna de que Deus é branco e que os brancos são mais aceitos... Esse é um tópico a ser muito aprofundado, pelo grau de importância do tema levantado (racismo religioso).

Acho que nós ainda não sabemos lidar com esses atos como deveríamos... Observa-se no vídeo que até os guardas do metrô, ficam perplexos perante a ação dessas pessoas. Não sabendo como agir. Pois não se sabe se isso é crime à ordem ou o que seria...

Acho que esse vídeo nos proporciona uma boa possibilidade de enxergar uma realidade a cada dia mais presente em nossas vidas. Essas práticas violentas contra outras formas de pensamento (como demonstra o vídeo na cena onde a mulher vai até dois jovens e ameaça-os com o "poder de Deus", por eles não estarem apoiando a atitude deles). Temos mesmo que discutir, pois isso, a psiquiatria diz ser surto coletivo... Etc.

Ontem, no V Colóquio de História da UNICAP, apresentei dois artigos com os títulos: Teologia da Jurema - Existe Alguma? e o Exú, Espírito Santo e Intolerância Religiosa... Este segundo trata de um caso semelhante a este citado, ocorrido dentro de um ônibus em minha ida à universidade. Depois disponibilizarei o texto integral aqui no blog.

Bom, vai aí a possibilidade de refletirmos e discutirmos sobre essa questão tão envolvente e indignante.

Afirmo aqui que minha proposta é de refletirmos sobre intolerância religiosa. Concebo que para essas pessoas no vídeo, o que ocorreu dentro do metrô foi algo sagrado, uma experiência religiosa. portanto, respeito na medida do possível isso, mas digo: "o direito do outro acaba quando começa o meu"...!

Salve a fumaça!


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Terreiros pedem fim do preconceito

 
Imagem da matéria de jornal do Diário de Pernambuco de 5 de novembro de 2011. Caderno Vida Urbana*. 

Caminhada

Terreiros pedem fim do preconceito

Kléber Nunes

O som dos tambores e o colorido dos Orixás tomou as ruas do Centro do Recife para pedir o fim do preconceito contra as religiões de matrizes africanas e indígenas. Ontem, milhares de pessoas participaram da 5° Caminhada dos Terreiros de Pernambuco. O evento abriu as comemorações do mês da Consciência Negra e marcou o lançamento da Rede Nacional da Jurema, que neste ano não participou da concentração. Os juremeiros foram proibidos pela coordenação do evento de fumarem seus cachimbos durante a caminhada. Eles se reuniram na Rua da Guia, e só depois se integraram ao grupo.

O juremeiro Alexandre Alberto Santos de Oliveira, mais conhecido como Alexandre L’Omi L’Odò, criticou o que ele chama de “nagocentrismo”. “Uma caminhada que deveria ser democrática se tornou só do candomblé”, denunciou. “Não queremos nos excluir. Queremos agregar, mas para isso é preciso que a coordenação reveja o evento no seu caráter político”, completou.

Os participantes da caminhada saíram da Praça do Marco Zero, no Bairro do Recife, em direção ao Pátio do Carmo, em Santo Antônio. Durante o percurso, foram executadas músicas em louvor às entidades sagradas da umbanda, do candomblé e da jurema.

De acordo com o coordenador do evento, Marcos Pereira, a manifestação “é uma prova da resistência a séculos de marginalização”.

A cabeleireira Otacília Leão, 55, esqueceu um pouco o luto pela morte do neto. “Acabei de vir do cemitério. Não podia deixar de participar. Se queremos mudar essa situação de exclusão que vivemos, temos que lutar”, disse.

Visite a matéria no site: www.diariodepernambuco.com.br

Fonte: Diario de Pernambuco – Recife, sábado, 5 de novembro de 2011. Caderno Vida Urbana A2 e A3.


 Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com
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Compartilho aqui texto original da matéria acima citada. Como a matéria trata, o Povo da Jurema se reuniu na Rua da Guia e nesse mesmo dia fundou com a participação de mais de 50 pessoas a Rede Nacional do povo da Jurema, que trarei maiores informações em futuras postagens.

*Desculpem a digitalização tão borrada, mas não foi culpa minha, no sábado, dia que saiu a matéria, o jornal entrou em greve e quebrou uma das máquinas de impressão, daí saiu essa porcaria ai. Mas foi geral, pois nenhuma das cópias que comprei estava diferente dessa. Cliquem na imagem para vê-la em formato grande.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

V Caminhada dos Terreiros de Pernambuco - Concentração do Povo da Jurema

Digitalização da fotografia da matéria do Jornal folha de Pernambuco de 2009. Primeiro registro da ação dos juremeiros na Caminhada dos Terreiros de Pernambuco. Na foto: Alexandre L'Omi L'Odò e Edson Torres.

V Caminhada dos Terreiros de Pernambuco - Concentração do Povo da Jurema

O Quilombo Cultural Malunguinho convida todo Povo da Jurema para participar da concentração, organização e ritual de Jurema na Rua da Guia as 14h do dia 04/11 para a V Caminhada dos Terreiros de Pernambuco

Juremeiros e juremeiras levar cahimbos, maracás e muitas pétalas de rosas de diversas cores. ir com roupa tradicional de Jurema.

Nessa ocasião, estaremos lançando a Rede Nacional do Povo da Jurema, que será uma articulação em prol do fortaleciemnto da Jurema nacionalmente.

Vamos agregar, juntarmos nessa corrente para fortalecer todo povo de Terreiro de Pernambuco. 

Agradecemos sua aprticipação e contamos com todos os irmãos e irmães de fé. Salve nossa ciência da Jurema.

Serviço

Concentração do Povo da Jurema para a Caminhada
Rua da Guia - Recife Antigo/PE
Hora: 14h 
Contatos: 81. 8887-1496 / 9428-4898


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Quilombo Cultural Malunguinho

Quilombo Cultural Malunguinho
Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!