quinta-feira, 26 de julho de 2012

Bariká fun mi o! Oito anos de Oxum - O Rio nunca seca!

Alexandre L'Omi L'Odò batendo pateó para Oxum (2005). "Assim que começa, respeito à sua essência". Foto de Aluísio Moreira.

Bariká fun mi o! Oito anos de Oxum
O Rio nunca seca!

Todo dia 26 de julho bato meu pateó ("paô" - palmas) e bato minha cabeça para meu Orixá, Oxum, a dona do meu caminho de Odú para celebrar meu aniversário de iniciação no Orixá. São oito anos de iniciado hoje, dia muito importante para mim... Dia de reencontrar-me e de refletir sobre o que nestes anos todos tenho contribuído para o avanço de minha religião e de minha vida pessoal. Sou Iyawò e juremeiro, tenho nestas duas religiões (Culto Nagô/Jeje e Jurema Sagrada) minha vida livre e aberta para o auto-conhecimento e o fortalecimento de minha própria natureza. Me sinto muito feliz em poder comemorar tal data com saúde, com prosperidade e proteção espiritual.

O ano de 2012 me trouxe grandes mudanças. Mudanças imprescindíveis no caminho sacerdotal. Mudanças que Oxum e Malunguinho me deram como grande presente para eu poder aprender muito mais sobre minha religião e meu caminhar. Me preparo para ser um babalorixá, e para isso precisava aprender mais do Nagô e da Jurema Sagrada com pessoas velhas e de grande saber como Pai Paulo Ifátòógún e Mãe Lu Omitòógún, mestre e mestra do nagô pernambucano e, Mãe Terezinha Bulhões e Dona Dora, mestras na Jurema Sagrada que tanto preso. Estes zeladores hoje guardam pelo meu Orixá e pela minha Jurema com muito amor, fé, força e respeito. Isso também me deixa muito mais feliz, pois sei que estou nas mãos de pessoas históricas e éticas teologicamente.

Comemoro esta data agradecendo os 18 anos que fui integrante do Ilé Oyá T'Ogún, casa de Mãe Lúcia de Oyá, mulher negra, forte e competente que me iniciou com muito carinho e afeto no Orixá. Felizmente ou infelizmente nosso caminho se separou definitivamente, mas ainda resguardo respeito por ela e por nossa história juntos. Ela sabe o quanto contribuí para seu caminho também...

A foto acima (do parceiro Aluísio Moreira), representa muito para mim. Ela significa o respeito aos mais velhos e mais velhas, aos ancestrais e divindades africanas e indígenas, a mim e ao universo. Quando batemos cabeça ou "paô", ou pedimos a benção para um Orixá, sacerdote e ou sacerdotisa estamos reverenciando não apenas a eles, mas a nós mesmos e a nossa tradição que merece se manter viva em seus conceitos e princípios fundamentais. Bater cabeça é entrar em contato com a terra, com aquilo que nos sustenta toda vida e que nos mantém vivos eternamente, pois sempre voltamos de alguma forma à vida por causa da terra... Vivemos um ciclo contínuo de voltas...

Mais uma vez Bariká fun mi o!!!!
(Parabéns para mim)
Adupé Osún.


Alexandre L'Omi L'Odò
Iyawò e Juremeiro
alexandrelomilodo@gmail.com

domingo, 22 de julho de 2012

Povo de terreiro de Pernambuco protesta na mídia contra as acusações de prática de sacrifícios humanos

 
 Quilombo Cultural Malunguinho e Ilé Iyemojá Ògúnté reunidos para discutir acusações contra povo de terreiro no programa de Cardinot. Na foto: Sandro de Jucá, Mãe Lu Omitòógún, Alexandre L'Omi L'Odò e Bárbara Costa. Foto: Captura de Tela.

Povo de terreiro de Pernambuco protesta na mídia contra as acusações de prática de sacrifícios humanos

O Quilombo Cultural Malunguinho convocou o programa de Cardinot da TV Clube/Record (programa exibido em 16/07/2012) para prestar esclarecimento público e realizar defesa contra as acusações da mídia e da polícia referentes ao cruel sacrifício humano do menino Flânio de 9 anos do Brejo da Madre de Deus praticados supostamente por "pais e mães de santo". Gravamos o programa no Ilé Iyemojá Ògúnté, casa de tradição nagô dos netos biológicos de Pai Adão, em Água Fria/PE. Nós do QCM agimos imediatamente ao vermos neste programa a imagem das religiões de matrizes africanas e indígenas vilipendiadas vastamente pelas falas discriminatórias e infundadas dos atores do caso e dos apresentadores deste e também de outros programas sensacionalistas de algumas emissoras. O caso se tornou muito mais polêmico com o quebra de 7 terreiros e um templo do Vale do Amanhecer realizado por mais de 3 mil vândalos do local do crime. 

Alexandre L'Omi L'Odò fala sobre o termo "pai e mãe de santo" e diz que no candomblé nem na jurema se pratica sacrifícios humanos. Foto: Captura de tela.

A população, influenciada pela mídia e pelo racismo histórico brasileiro, se rebelou de forma criminosa expulsando os sacerdotes e sacerdotisas da Jurema e do culto aos Orixás da cidade violentamente. Este fato envergonhou e escandalizou a todos nós membros de terreiros de todo Brasil. A gravação deste programa, foi apenas uma tentativa de amortizar os efeitos absurdos provocados na mentalidade dos homens e mulheres do interior do Estado de Pernambuco, e também da Capital. Tendo a maior audiência de seu horário, e assistido pelas classes menos privilegiadas da pirâmide social, utilizamos o espaço para tentar contribuir com informação de qualidade para que as pessoas entendessem o que acontecia... Sabemos que este não é o melhor dos caminhos a tomar, mas também foi um caminho válido e de amplo alcance para as pessoas que precisavam escutar algo à contribuir em seu entendimento individual sobre as religiões de matrizes africanas e indígenas, consequentemente na quebra de preconceitos. Entendemos que este e outros programas podem ser sim, instrumentos de informação ao povo, mesmo que seus editores manipulem da forma que desejam as informações e nossas falas de acordo com seus interesses.  Demos uma entrevista de quase uma hora, com falas importantes e de acordo com o consenso nacional do povo de terreiro, infelizmente no programa só nos deram poucos segundos... Mas foi válido e importante sem dúvidas.

Sacerdotiza Mãe Lu Omitòógún defendendo a religião de matrizes africanas. Foto: Captura de tela.

Juremeiro Sandro de Jucá fala da importância da criança para o candomblé e para a Jurema. Foto: Captura de tela.

Com tanta violência e ódio retro-alimentado por estes programas, por membros de outras religiões que satanizam nossas práticas teológicas e, da despreparada polícia, tivemos que reafirmar em nossas falas que não praticamos sacrifícios humanos e que não somos adeptos de "rituais macabros nem de magia negra". A repercussão das falas foi completamente positiva, muita gente entrou em contato para elogiar, agradecer e pegar mais informações sobre os fatos. 

Estudante Bábara Costa faz explanação sobre o que é a religião de matrizes africanas e indígenas. Foto: Captura de tela.

Infelizmente não consegui os códigos (embed) para postar os vídeos diretamente aqui no blog, mas os links estão em ordem para podermos ver como se deram as falas e a forma que o programa dirigiu o contexto de nossas reinvindicações coletivas. O link que mostra diretamente nossas falas é este: (http://www.cardinot.com.br/parte-4-o-caso-do-menino-de-9-anos-assassinado-em-brejo-da-madre-de-deus/), os demais links tratam da questão como um todo. É importante ver todos eles para podermos ter melhor conhecimento sobre todo fato e também observarmos a forma como nossa religião foi tratada pela mídia irrresponsável de Pernambuco que sequer questionou se os criminosos cruéis haveriam de ser de fato sacerdotes ou sacerdotisas de nossa religião afro indígena.

Assista ao programa:






Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Integrantes do Candomblé discutem recentes atos de vandalismo contra terreiros

Vandalismo contra terreiros assusta integrantes do Candomblé. Povo de terreiro reunido no Palácio de Iemanjá (Casa de Pai Edu). Na foto: Juliana Bison, Eduardo Santana, Prof. Carlos Tomaz e Prof. Alexandre Dias. Foto de Laila Santana - Folha de Pernambuco.

CRENÇA 
Integrantes do Candomblé discutem recentes atos de vandalismo contra terreiros

Evangélicos fizeram manifestação em frente centro religioso na última segunda 

 18/07/2012 08:56 - THOMAZ VIEIRA, da Folha de Pernambuco

Integrantes do Candomblé se reuniram, nesta terça-feira (17), para discutir os recentes atos de vandalismo praticados contra os terreiros religiosos, decorrentes da morte de um menino em um ritual macabro no Brejo da Madre de Deus, Agreste do Estado. Segundo eles, na noite da última segunda-feira, um grupo de evangélicos realizou uma manifestação em frente a um terreiro no Varadouro, Olinda. Por volta das 19h, policiais chegaram ao terreiro de Pai Jairo com a denúncia anônima de que havia “um menino coberto de sangue” na casa, porém, nada encontraram. Pouco depois, segundo relatos, mais de 200 pessoas se juntaram em frente do local, gritando frases como “Sai, satanás!”.

Os membros do Candomblé demonstraram insatisfação com o ocorrido. O filósofo e babalorixá Érico Lustosa, que comanda um terreiro ao lado do de Pai Jairo, clamou mais ação do Estado. “Eu não quero incitar a violência de jeito nenhum, mas passivos nós não somos. A Justiça tem que mediar os direitos e deveres de cada um”, afirmou, durante o encontro. Ele acha que a Prefeitura de Olinda e o Governo do Estado deveriam se posicionar sobre a situação. Foi Érico que filmou o ato dos evangélicos e tentou conversar, sem sucesso.

O historiador João Monteiro acha que o caso do Varadouro “é consequência da ausência do Estado”. Ele afirma que o preconceito contra o Candomblé é um processo que vem sendo construído há muitos anos por outras religiões. Moradores do local disseram que Pai Jairo nunca teve problemas com a comunidade. “Ele é um homem bom, ajuda muito a todos”, disse a vizinha e membro do terreiro, Maria Paiva da Silva.



Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Culrural Malunuginho
alexandrelomilodo@gmail.com

sábado, 21 de julho de 2012

Terreiros pedem apoio ao Estado - Registro das intolerâncias religiosas sofridas pelo Povo de Terreiro

Digitalização de matéria do Diário de Pernambuco de 18 de julho de 2012 - ÚLTIMAS. na foto, da esquerda para a direita está: Nino do Bojo da Macaíba, Juremeiro Sandro de Jucá, sacerdote João Monteiro e o babalorixá Érico Lustosa.

Terreiros pedem apoio ao Estado
Onda de ataques aos centros afro começou após assassinato de criança no Agreste

A destruição e tentativa de invasão em centros de culto afro-brasileiro no Agreste do estado e na Região Metropolitana do Recife articulou o movimento negro em defesa das religiões de matrizes africanas e indígenas. Na tarde de ontem, cerca de 20 representantes de diversos terreiros do Grande Recife se reuniram para ajustar um pedido de apoio do estado no enfrentamento à intolerância religiosa.

A onda de ataques aos centros afro começou após a prisão de três homens - que afirmavam ser pais de santo - suspeitos de participação no assassinato de Flânio da Silva Macedo, 9 anos, em um ritual de magia negra no município de Brejo da Madre de Deus. Vários centros de culto afro -brasileiro foram destruídos no Agreste após a divulgação do caso. "O homicídio nada tem a ver com as religiões africanas e indígenas. O crime foi praticado por pessoas que no têm ligação com essas manifestações. Não há sacrifícios humanos nem satanás é reconhecido ou cultuado como uma entidade nessas expressões", esclareceu o pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão (INCTI) da Universidade de Brasília, Alexandre L'Omi L'Odò.

Durante a reunião de ontem, os representantes dos centros propuseram oficializar um documento para pedir a ajuda do estado no esclarecimento das características da religião. "Vamos contatar o governo estadual para pedir um posicionamento em relação à intolerância religiosa", disse o filósofo e babalorixá Érico Lustosa.

Os religiosos ainda pensam em formalizar uma queixa na polícia Civil. "Estamos nos sentindo pressionados. O preconceito está presente nos metrôs, nas ruas, nas faixas com mensagens negativas expostas em frente aos terreiros. O estado precisa tomar uma posição mais contundente em relação ao caso", afirmou o coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho, João Monteiro.

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Esta reunião realizada no Palácio de Iemanjá, casa de Pai Edu no Alto da Sé em Olinda, convocada pelo Quilombo Cultural Malunguinho, foi o início de uma grande articulação do povo de terreiro de Pernambuco contra a intolerância religiosa sofrida. 7 templos de nossa religião foram destruídos e nossa crença foi manchada e conspurcada como assassina e praticante de cultos macabros. Nosso povo sofreu danos morais coletivos irreversíveis... Templos foram ao chão, queimados e saqueados, babalorixás e iyalorixás, juremeiros e juremeiras foram expulsos, sob risco de morte de seus templos... Uma verdadeira caça as bruxas da Idade Média, um terror só visto na época da ditadura e da repressão aos terreiros da primeira metade do século passado. Isso é inadmissível, calarmos seria ser coniventes com nossa destruição completa, com nossa morte.

Estamos na luta para que a mídia e o estado se posicionem e possam nos ajudar a vencer este equivoco monstruoso causado pela pura e mais pura ignorância de conhecimento e racismo. Este caso não deixa de ser culpa do Estado que não implementou as leis 10.639/03 e 11.649/07 nas escolas, para educar desde já os futuros cidadãos e cidadães na cultura africana, afro descendente e indígena. Estes crimes também são fruto da influência massificada de algumas igrejas evangélicas que alimentam o racismo e o ódio aos seus diferentes a apartir de sua teologia da prosperidade e do racismo. também se deve estes cruéis fatos ao povo que não busca ser melhor...

Quem pagará pelos terreiros destruídos, quem pagará por nossa imagem vilipendiada e conspurcada? Quem?


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

A intolerância religiosa que gera revolta - Registro das intolerâncias religiosas sofridas pelo Povo de Terreiro

 Babalorixá e Juremeiro Érico Lustosa. JC CIDADES. 18 de julho de 2012. Foto de Marcos Pastich.

Digitalizações da matéria completa do JC capa do caderno CIDADES. 18 de julho de 2012.

Evangélicos tentam invadir terreiro em Olinda

Vídeo que mostra grupo evangélico tentando invadir terreiro em Olinda, domingo, foi repudiado por internautas


A intolerância religiosa que gera revolta

 

 

Centenas de evangélicos com faixas e gritando palavras de ordem realizam protesto em frente a um terreiro de matriz africana e afro-brasileira – candomblé, umbanda e jurema. As imagens poderiam ser de um filme sobre a Idade Média. No entanto, foram registradas no domingo, no Varadouro, em Olinda, Grande Recife. As cenas de intolerância religiosa circularam ontem nas redes sociais e provocaram a revolta de milhares de internautas.

As imagens foram captadas pelo filósofo e babalorixá Érico Lustosa, vizinho do terreiro alvo dos ataques. Segundo ele, por pouco os evangélicos não invadiram o espaço. “Eles gritavam ‘Sai daí, satanás’ e forçaram o portão. Foi aí que me coloquei em frente ao portão e meu filho começou a gravar. Um deles gritou para a gente tomar cuidado, que ele era evangélico mas era também um ex-matador”, relembrou.

O fato ocorreu uma semana depois que pessoas invadiram terreiros em Brejo da Madre de Deus, no Agreste, após o assassinato de uma criança, segundo a polícia, a mando de um pai de santo. Pesquisadores dizem que essas religiões não realizam sacrifício de humanos.

Com a repercussão nas redes sociais – o vídeo teve mais de 1,5 mil compartilhamentos no Facebook e cerca de 400 visualizações no YouTube em menos de 12 horas – representantes de dezenas de terreiros se reuniram, ontem à tarde, no Palácio de Iemanjá, no Alto da Sé, em Olinda.
No encontro foram discutidas propostas para coibir a intolerância religiosa. Entre elas a de ser registrado um boletim de ocorrência coletivo para denunciar o fato ocorrido no Varadouro.

O terreiro alvo dos ataques é o de Pai Jairo de Iemanjá Sabá, na Rua Manuel Souza Lopes. Vizinhos repudiaram o protesto. “Moro aqui desde criança e o pessoal do terreiro nunca trouxe problema. Sou católica, mas respeito as outras religiões. O que fizeram foi um absurdo. Por pouco não invadiram o espaço”, disse a dona de casa Cintia Gomes, 25 anos.

O secretário-executivo de Promoção da Igualdade Étnico-Racial do Estado, Jorge Arruda, lamentou o fato em Olinda e afirmou que os ataques têm relação com o caso de Brejo da Madre de Deus. A igreja responsável pelo protesto não foi identificada.

Hoje haverá reunião entre representantes do Ministério Público, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos e de terreiros. Também será lançada a cartilha Diversidade Religiosa e Direitos Humanos e debatida a intolerância contra as religiões de matriz africana e afro-brasileira em Pernambuco.

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Publico aqui texto completo e digitalizações da matéria sobre o caso de intolerância religiosa ocorrido contra um terreiro em Olinda. O caso está tão sério que mesmo com o acontecido, o sacerdote da casa se nega a prestar queixa com medo de represália por parte dos evangélicos... Espero que o povo de terreiro se una mais para combater este e todos os outros casos que estão acontecendo em Pernambuco e em todo Brasil!


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Nota, RITUAL - Registros da intolerância religiosa sofrida pelo Povo de Terreiro

Digitalização de nota do Jornal Folha de Pernambuco de 18 de julho de 2012, caderno Grande Recife.

Nota - RITUAL

Esta nota, quase imperceptível no jornal Folha de Pernambuco avisou sobre uma pauta/ação do CEPIR que não tinha de fato haver com a questão das intolerâncias vivenciadas pelo Povo de Terreiro. Neste momento o "secretário" da instituição fez até lançamento de cartilha de combate ao racismo ambiental, tema pouco relevante ao ser comparado com o grande massacre que o Povo de Terreiro de Pernambuco está vivendo. Ele junto com a coordenadora religiosa da Caminhada dos Terreiros de Pernambuco utilizaram-se do espaço para se promover e promover o Estado omisso pernambucano. Este governo que nos últimos anos só fez jogar para debaixo do tapete as discussões sérias sobre racismo e intolerância religiosa. Um governo sem compromisso com com o combate ao racismo, pois sequer criou a secretaria de combate ao racismo, ou de "igualdade racial".

Algumas representações do Povo de Terreiro se fizeram presentes e contestaram o ato e se disseram não representados pelos convocadores da ação. O Babalorixá e Juremeiro Érico Lustosa, foi o primeiro a se colocar afirmando não ser "este um ato comprometido com nosso verdadeiro problema".

A "carta de repúdio" de texto não divulgado, passou desapercebida sem efeitos edificantes para contribuir com a diminuição da violência simbólica e física que os terreiros do Agreste e da Capital estão sofrendo. Portanto, ainda estamos em um estágio muito delicado onde os sacerdotes e sacerdotisas ainda se vendem ao Estado comprometendo a luta e a causa de nosso pertencimento.


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomildoo@gmail.com

Terreiros foram invadidos - Registros da intolerância religiosa contra o Povo de Terreiro

 
Digitalização da matéria do Diário de Pernambuco de 13-07-2012, Caderno Vida Urbana

Terreiros foram invadidos

Os principais alvos da revolta da população do Brejo da Madre de Deus foram os terreiros de culto afro-brasileiros e até um centro doutrinário espiritualista cristã do Agreste. A delegacia do município só registrou um caso de depredação, mas a reportagem da TV Clube/Record flagrou pelo menos quatro ocorrências. Populares afirmaram que sete terreiros de umbanda foram invadidos e saqueados em São Domingos e em Santa Cruz do Capibaribe. 

O Vale do Amanhecer, centro de doutrina espiritualista cristã, também foi alvo da ira da população. Um funcionário do templo, Emanuel Jonas da Silva, chegou a ser agredido pelos populares e prestou depoimento à polícia. O centro só no foi incendiado porque policiais militares conseguiram que os manifestantes atearem fogo. O grupo ainda conseguiu saquear o centro e destruir objetos do local. "As pessoas estão invadindo os espaços aleatoriamente. Muitos não conhecem a história das religiões e estão cometendo injustiças". Apontou o delegado Antônio Dultra. 

Para o coordenador nacional de formação da Rede Afro LGBT Carlos Thomás, a revolta da população do Brejo da Madre de Deus está atingindo e difamando as outras religiões. "Estão destruindo todos os terreiros do Agreste. Vão matar nosso povo por falta de conhecimento. Essas pessoas que mataram a criança nada têm a ver com a religião africana. É preciso diferenciar para que injustiças não sejam cometidas", ressaltou. "As religiões de matrizes africanas e indígenas não têm rituais que evolva sacrifício humano. O preconceito em relação a essas crenças ainda é muito grande", completou.
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A fala do professor Carlos Tomaz que também é membro do Quilombo Cultural Malunguinho reverberou bastante e foi positiva para contribuir na quebra dos preconceitos de grande parte da população não só do agreste pernambucano como de todo Brasil. A partir desta matéria podemos perceber a mídia se preocupando em consultar pessoas sérias de nossa religião para dar melhores consultorias sobre o tema. Se isso tivesse sido feito antes poderia ter evitado a revolta da população leiga que saberia distinguir religião de matrizes africanas e indígenas de magia negra ou culto macabro com sacrifícios humanos.


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandelomilodo@gmail.com

Revolta contra rituais no Agreste - Reistros da intolerância religiosa contra o Povo de Terreiro

Digitalização da chamada de capa do Jornal Folha de Pernambuco de 13 de julho de 2012.

Revolta contra rituais no Agreste

Disponibilizo digitalização da chamada de capa sobre o assunto do menino Flânio de 9 anos, assassinado brutalmente em suposto ritual macabro no Brejo da Madre de Deus, Agreste pernambucano.

Na matéria, podemos averiguar o quanto o povo de terreiro do Brasil está exposto à violências materiais/físicas e simbólicas sem sequer ter nada haver com os crimes executados por psicopatas que se passam por sacerdotes os sacerdotisas em nosso meio. 

7 Terreiros foram destruídos por vândalos revoltados e instigados pelos rumores da mídia pernambucana (televisiva e escrita, também da polícia) em afirmar que o ritual (segundo depoimentos falhos dos suspeitos) seria de magia negra ou satanismo praticado com elementos materiais dos cultos de matrizes africanas e indígenas, como alguidais, garrafas de bebidas e outros objetos...

Ficou também evidente nas imagens expostas nas televisões que o local já era utilizado a muitos anos para rituais sagrados das matas do povo de terreiro. E os objetos ali encontrados em nada tinham haver com com o suposto ritual, já que todos os objetos se encontravam envelhecidos pelo tempo, não correspondendo ao período do crime praticado no local.

Isso só nos prova o quanto somos acusados intolerantemente e imergidos propositalmente em conceitos racistas e xenofóbicos pela sociedade brasileira que ainda alimenta o sentimento antigo de medo, desconfiança, e preconceito em relação a estas religiões, que pouco conhecem.

Quem pagará pelos crimes cometidos aos terreiros de Jurema, Umbanda e Candomblé daquela região? Cadê o Estado e o Ministério Público agora?


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Povo de Matriz Africana se Defende - Registros da intolerância religiosa contra o Povo de Terreiro

 
Digitalização de maétira da Folha de Pernambuco de 13/07/2012 - Grande Recife.

Povo de Matriz Africana se Defende

Juliana Veras
E Thomaz Vieira 

Diante da violência que o crime desencadeou a praticantes do Candomblé, o estudante de Ciências Sociais da UFPE e membro da comunidade Xambá, Guitinho da Xambá, afirma que rituais de sacrifício não fazem parte das tradições religiosas do Candomblé. “Nossa religião só prega a paz”, afirmou. 

Guitinho avalia que parte da desinformação da sociedade sobre a religião se deve à maneira como os meios de comunicação e os órgãos de segurança pública tratam os casos. “A abordagem demonstra o desconhecimento dessas pessoas em relação à nossa cultura. A associação desses rituais ao Candomblé é errônea e o discurso dos agentes de segurança criminaliza a religião”, alega. Ele acha, inclusive, que os oficiais envolvidos no caso que deram entrevista à mídia deveriam se retratar publicamente pela utilização distorcida dos termos.

A coordenadora religiosa das Caminhadas de Terreiros de Pernambuco, Mãe Eliza de Iemanjá, fez questão de ressaltar que as religiões de matrizes africanas não são adeptas do satanismo e repudiam esse tipo de ato criminoso. “Os povos de terreiros estão tristes e absolutamente perplexos com esse caso. É importante ressaltar que, em nossos ritos, nós reverenciamos a natureza, os rios, o mar, as florestas, o vento. Na nossa tradição, o ser humano, e especialmente a criança é o maior patrimônio. Não temos nenhuma relação com o satanismo. Essa é uma figura que sequer existe em nossa fé”, argumentou.

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Esta matéria é continuação da anterior de mesma data e jornal (Folha de Pernambuco de 13 de julho de 2012, cadeno Grande Recife). Após pressões os jornais começam a abrir espaço, mesmo que pequeno. Vamos reagir mais.


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunuginho 
alexandrelomildoo@gmail.com 

População saqueia e queima terreiros - Registros da intolerância religiosa contra o Povo de Terreiro

Digitalização de cabeçalho da matéria de 13/07/2012 - Folha de Pernambuco, caderno Grande Recife

População saqueia e queima terreiros
Violência foi motivada por assassinato de um menino durante um ritual macabro

O distrito de São Domingos, em Brejo da Madre de Deus, e Santa Cruz do Capibaribe amanheceram em alerta ontem. Logo nas primeiras horas da manhã uma onda de violência tomou conta das duas localidades. Moradores resolveram invadir, saquear e queimar casas usadas como terreiros, promovendo uma verdadeira ‘caça as bruxas’ contra pais-de-santo e espíritas. Foi difícil conter os revoltosos que agiam de forma simultânea em pontos distintos. A população envolvida nos arrastões justificavam as ações de vandalismo como uma “vingança” pela morte do menino Flanio da Silva Macedo, de 9 anos, vítima de um ritual macabro.

Residência de uma pai-de-santo, em São Domingos, ficou parcialmente destruída. Foto de Aguinaldo Lima.
 
Pelo menos sete casas de pessoas ligadas ao candomblé ou espiritismo foram os alvos. Entre elas as residências dos quatro acusados pelos crimes: Genival Rafael da Costa, 63 anos, a mulher dele, Maria Edileuza Silva, 51 anos, Ednaldo Justos dos Santos, 33, e Edilson da Costa Silva, 31. Na rua São Marcos, onde fica a casa de Edilson, aproximadamente 500 pessoas chegaram e destruíram tudo. Entre as cinzas, vários restos de imagens religiosas, velas, perfumes e outros elementos usados em rituais. Os vizinhos da casa estavam assustados com a ação contra a casa. “Isso é vandalismo. O que é ruim eles queimam, mas o que é bom ele roubam. Sabemos que a morte da criança foi triste, mas a violência não justifica mais violência”, denunciou uma dona de casa que preferiu não ter o nome divulgado.

Em outro ponto de São Domingos mais terror. Na rua Chile outra casa foi queimada, desta vez o prédio pertencia a um pai-de-santo conhecido por “Bisolo”, que fugiu ao saber que seria alvo da violência. “Acharam várias fotos deles bebendo sangue de animais, um caderno com nomes de várias mulheres, fotos também”, contou a costureira Vânia Cristovão, 26. O capoeirista José Roberto, 45 anos, também esteve presente nesta casa depois do quebra-quebra e ainda achou várias outras coisas como charuto, cachimbo, caneca com a inscrição “Exu”. “Isso está causando pânico aqui. Que paguem aqueles que devem, mas não pode generalizar”, frisou.

Os arrastões nas ruas só foram contornados com o incremento de homens e a chegada e dois helicópteros da Secretaria de Defesa Social (SDS). O comandante interino da Polícia Militar na região, capitão Josivaldo de Moura, pediu o reforço de policiamento de 60 homens vindos do Recife e Caruaru. Um ônibus do Batalhão de Choque e equipes da Companhia Independente de Operações Especiais (Cioe) também deram reforço na segurança. Assim que chegaram na região, as polícias especializadas já se dirigiram ao centro Ofranon do Amanhecer, um dos locais atacados. No espaço mais destruição e revolta dos seguidores do centro. Para manter a paz na cidade, o capitão Josivaldo de Moura informou que o reforço do policiamento continuará hoje.


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Na matéria impressa há maiores informações sobre esta perseguição absurda contra os Povos de Terreiro. Precisamos reagir urgente! O jornal após nossas pressões, nesta mesma matéria publicou uma janelinha (Saiba Mais) com informações obtidas após nossas discussões com a editoria.

Veja:

Digitalização de parte da matéria acima. Informação concedida ao público após pressões.


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
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População revoltada destrói terreiros e centro doutrinário no Agreste - Registros da Intolerância ao Povo de Terreiro de Pernambuco

Digitalização de chamada de capa do Jornal Diário de Pernambuco de 12/07/2012.

População revoltada destrói terreiros e centro doutrinário no Agreste 

Morte de menino de nove anos em ritual de magia negra gerou revolta na população que quer linchar os envolvidos

Publicação: 12/07/2012 19:01 Atualização: 13/07/2012 01:54
 
Nesta quinta-feira (12), sete terreiros de umbanda e um centro doutrinário espiritualista foram invadidos e saqueados por populares em São Domingos, no Brejo da Madre de Deus e em Santa Cruz do Capibaribe. Na última cidade, até mesmo um Vale do Amanhecer, centro de doutrina espiritualista cristã, foi alvo da ira da população. Um funcionário do local, que preferiu não se identificar, chegou a ser agredido pelos populares. O centro só não foi incendiado porque policiais militares conseguiram impedir os manifestantes.

A revolta popular começou depois que o corpo de Flânio da Silva Macedo foi encontrado na tarde desta terça-feira (10). O menino de apenas nove anos foi encontrado com mãos e pés amarrados, calça abaixada e cabeça decepada, ladeado por garrafas de bebidas, velas e bonecos de vodu. Desaparecido desde o dia 1º, ele foi localizado em uma estrada no Sítio Olho D'Água. Quatro suspeitos já foram presos. A população quer linchá-los. Segunda a polícia, o mandante do crime já foi identificado, mas não localizado.

A Secretaria de Defesa Social (SDS) está reforçando a segurança nas cidades para tentar amenizar a fúria dos moradores. Cerca de três mil pessoas estão espalhadas pelo distrito de São Domingos e prometem parar o distrito até que a polícia prenda todos os suspeitos. Foram enviados dois helicópteros da SDS para a cidade. Houve reforço ainda de equipes da Companhia Independente de Operações e Sobrevivência na Área de Caatinga (Ciosac), Grupo de Ações Táticas Itinerantes (Gati), Companhia Independente de Operações Especiais (Cioe) e da Tropa de Choque.

Os presos são: Ednaldo Justo dos Santos, o Pai Nau, de 33 anos; Edilson da Costa, conhecido como pai Deni, de 31 e Genival Rafael Costa, o Pai Veio, de 63 anos; além da  companheira dele Mara Edileuza Silva, de 51 anos.

  
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Publico aqui matéria do Diário de Pernambuco. Vamos observar  forma como a mídia está tratando o caso...

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomildoo@gmail.com

domingo, 15 de julho de 2012

Oficina "COCO-DE-VOLTA" com o Mestre Galo Preto e participação de Alexandre L'Omi L'Odò no FIG - Festival de Inverno de Garanhuns 2012

Mestre Galo Preto. Foto de Aluísio Moreira.
 
Oficina "COCO-DE-VOLTA" com o Mestre Galo Preto e participação de Alexandre L'Omi L'Odò no FIG - Festival de Inverno de Garanhuns 2012

O projeto idealizado pelo produtor e coquista Alexandre L'Omi L'Odò, com objetivo de repassar conhecimentos aprofundados sobre o coco, sua história e contexto através de oficinas de troca de saberes, será ministrada pelo Mestre Galo Preto e terá primeira execussão no FIG 2012.
Assim como existem as diversas formas de nomear os estilos de coco no nordeste como: coco-de-embolada, coco-de-roda etc., nasce a partir do pensamento e intenção de preservação da memória do coco, a termologia “coco-de-volta”, termo que pretende contribuir para a rememorização do significando do que é o coco autêntico dos tempos de outrora, dos antigos cantadores, dos grandes mestres e mestras desta arte nordestina. O “Coco-de-Volta”, tem o desejo de ocupar espaço no hoje para reeducar a juventude que não teve oportunidade de aprender esta tradição com seus mais velhos. Com este desejo desafiador, o Mestre Galo Preto propõe, junto com seu aluno Alexandre L’Omi L’Odò, uma oportunidade de trocar saberes e informações importantes históricas e culturais sobre os diversos estilos de coco dominados pelo Sr. Tomaz Aquino Leão, o professor e Patrimônio Vivo de Pernambuco Mestre Galo Preto. 

Contamos com sua presença!

Serviço: 

Oficina "COCO-DE-VOLTA" com o Mestre Galo Preto e participação de Alexandre L'Omi L'Odò no FIG - Festival de Inverno de Garanhuns 2012. 

De 16 a 20 de julho das 14 as 18h. 

Local: Aesga - Av. Caruaru, 508, Heliópolis. Anexo Santa Sofia: Rua do Magano, 419, Alto do Magano. 

20 vagas. 

Vamos redescobrir o coco tradicional!!

Curtam o Mestre Galo Preto no Facebook: http://www.facebook.com/Mestre-Galo-Preto

Visitem o site do FIG

http://www.fig2012.com



Alexandre L'Omi L'Odò
Produção do Mestre Galo Preto
alexandrelomilodo@gmail.com 

sábado, 14 de julho de 2012

Adeptos do Candomblé estão indignados

Matéria do jornal Folha de Pernambuco de 14-07-2012. Caderno REGIONAL, p. 4. QCM na luta contra intolerância religiosa. Alexandre L'Omi L'Odò, João Monteiro e Carlos Tomaz.
 RegionalAdeptos do Candomblé estão indignados

14/07/2012 - THOMAZ VIEIRA  (jornalista)

Os atos de vandalismo cometidos pela população na região do crime de Flanio, de 9 anos, provocaram indignação entre os adeptos do Candomblé. O coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho (entidade que representa os povos de terreiro e o povo negro), Alexandre L’Omi L’Odò, disse que o órgão já se articula junto a instituições de Direitos Humanos e estuda iniciar ação judicial coletiva por danos morais.

A grande reclamação dos religiosos é que os acusados pelo crime foram tidos como praticantes do Candomblé, o que não é verdade. “O Candomblé é uma religião que agrega muito as pessoas. Daí, indivíduos mal-intencionados usufruem disso para se aproveitar da carência das pessoas”, denuncia Alexandre. Ele conta, inclusive, que o processo de formação de líderes da crença é bem rígido e dura vários anos.

 João Monteiro, Alexandre L'Omi L'Odò e Carlos Tomaz, Representantes do Quilombo Cultural Malunguinho. Foto de Hesíodo Góes.

Para o historiador João Monteiro, o fato de a polícia ter apresentado, erroneamente, os suspeitos como pais de santo teria causado a reação de ódio na sociedade. “Quando a polícia prende esses marginais e os coloca com seus títulos sacerdotais em vez de seus nomes, demonstra o despreparo dos agentes no trato desses temas”, afirma. Ele aponta que o Governo desenvolve um programa de combate ao preconceito dentro das instituições públicas, mas que o mesmo não funciona adequadamente.

A associação do termo “magia negra” ao crime e à religião também revoltou os povos de terreiro. Para o membro do Fórum Estadual de Educação Étnico-Racial de Pernambuco, Carlos Tomaz, a expressão é, além de tudo, racista. “Mesmo que inconscientemente, tudo relacionado à etnia negra é tido como ruim”, reclama. O termo vem, na verdade, da Idade Média, das práticas de culto ao demônio originadas de religiões de matriz europeia.

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Devido as solicitações de disponibilisação do texto da matéria, digitei e posto aqui.
*Acima texto integral do jornal Folha de Pernambuco de 14-07-2012. Caderno REGIONAL, p. 4. Quilombo Cultural Malunguinho na luta contra intolerância religiosa. Na foto João Monteiro, Alexandre L'Omi L'Odò e Carlos Tomaz. 


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Povo de Terreiro não Pratica Sacrifícios Humanos!

Digitalização de parte da matéria do Jornal do Commercio de 12/07/2012, Cadernos Cidades, p. 3. Título da reportagem: "Morte em ritual macabro e cruel". Fala de Alexandre L'Omi L'Odò. Acervo.
 
O Povo de Terreiro não Pratica Sacrifícios Humanos!

Nós, Povos Tradicionais de Terreiro, integrantes da Jurema Sagrada, do Candomblé, da Umbanda, do Terecô, do Batuque, do Tambor de Mina Jeje e Nagô, do Xangô Pernambucano, da Kimbanda, Rezadeiras, Oradores do Nordeste, Catimbozeiros, Pajés, não praticamos sacrifícios humanos em nossas liturgias e rituais. Nossas teologias não concebem a morte humana como caminho para alcançar qualquer benefício na vida e, desconhecemos qualquer ritual pertinente a esta prática condenável.  Expugnamos completamente estes atos absurdos de assassinato em nome de qualquer Deus, deus, religião ou prática ritualística de seitas. Somos contra estas psicopatias cruéis e não aceitamos as acusações que nos direcionam a polícia e a mídia Pernambucana (escrita e televisiva) no caso do menino (Fânio da Silva Macedo) de 9 anos de idade assassinado e degolado cruelmente no Brejo da Madre de Deus/PE, e em tantos outros.

Nossas religiões prezam pela vida, pela saúde, pelo bem estar, pelo desenvolvimento social e sempre esta presente onde o Estado não chega, garantindo também alimentação aos que por ventura não tenham... Os terreiros são templos religiosos de matrizes africanas e indígenas que recebem milhares de pessoas todos os dias para promover a ajuda e aliviar os desesperados. Respeitamos a vida e a natureza, respeitamos o universo e todos os elementos que o materializa, portanto, a prática de assassinato de um ser humano para oferendas  é completamente impossível acontecer em nossas concepções teológicas e práticas religiosas.

Não praticamos "magia negra", desconhecemos estas práticas de origem européia. Nossas divindades e entidades em nada tem haver com a forma ritual destes povos.  Também não cultuamos demônios, diabos ou o satanás. Esta divindade cristã sequer são conhecidas pela nossa teologia que não faz menção aos textos bíblicos e consequentemente ao imaginário maniqueísta do céu e do inferno. Somos outra cultura, de outros povos, com outra formação. Mesmo ainda vivenciando os resquícios do sincretismo religioso com o catolicismo, e utilizando alguns termos cristãos, não praticamos nem acreditamos nestas divindades.

Queremos que a mídia tome uma postura adequada, e sobre tudo informativa/educativa, com conteúdo consistente, não racista e preconceituoso  em relação as nossas religiões! Os terreiros destruídos no Brejo da Madre de Deus são o resultado concreto de um sistema de má informação à população através destes meios de mídia que deram uma conotação completamente errada ao contextualizar os assassinos do garoto como pais de santo. O próprio termo "pai de santo" não é utilizado mais por nós, povos de terreiro. Este termo caiu em desuso sendo substituído pelos termos originais: babalorixá (para designar o sacerdote masculino) e iyalorixá (para designar a sacerdotisa feminina), ou ainda juremeiro e juremeira para os sacerdotes do culto da Jurema Sagrada.

Ressaltamos que o babalorixá ou iyalorixá, ou o juremeiro e a juremeira, são sacerdotes e sacerdotisas que passam por uma formação extremamente rígida de 7 e 14 anos estudando e vivenciando os conhecimentos africanos e indígenas para poder professar e presidir as práticas religiosas e poder ter um terreiro aberto. Muitos psicopatas se passam por estes religiosos e de forma irresponsável abrem terreiro e enganam as pessoas necessitadas de orientação, pessoas que estão fragilizadas por seus problemas e necessidades. Portanto, a mídia deve se preocupar sim em averiguar e pesquisar as pessoas de quem eles estão falando, averiguar a história deles e conferir com o povo de terreiro sério, quem são estes supostos "pais de santo", não apenas publicar de forma inresponsável que estes cruéis pertencem a nossa religião. Este foi um erro grave da mídia e da polícia, que acarretou em um crime histórico contra as comunidades tradicionais de terreiro do Brejo da Madre de Deus e consequentemente de todo Brasil. Este fato foi um dano moral coletivo cometido contra todos nós pertencentes as religiões de matrizes africanas e indígenas! Isso deve ser reparado urgentemente com indenizações às casas destruídas, prisão dos vândalos envolvidos e punição e retratação pública e explícita da mídia e da polícia. O Estado brasileiro tem que nos dar esta resposta o quanto antes, ou nós todos, de todo Brasil, entraremos com uma ação de dano moral coletiva no STF. Vamos nos organizar, relatar, registrar todo o fato para termos mais argumentos a nosso favor. Mas o que foi feito não se apaga. Portanto, vamos juntar o que resta de nós e prosseguir firmes nessa luta por respeito!

Exigimos Respeito!!

Cataloguei todos os 14 programas exibidos na mídia pernambucana desde o dia 10/07, quando iniciou este processo. Na segunda feira dia 16/07, será exibida uma entrevista realizada a partir de nossa atitude de solicitar ao programa um resposta ao povo. Fomos ao Ilé Iyemojá Ògúnté, casa de tradição nagô junto a Mãe Lu de Iyemojá Ògúnté, Bárbara Costa e Sandro de Jucá contribuir na defesa do Povo de Terreiro. Para acompanhar o caso e entender a questão com maiores detalhes, vejam os vídeos exibidos na televisão pernambucana (em ordem de exibição do primeiro ao último) através do programa de Cardinot:














 

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Quilombo Cultural Malunguinho

Quilombo Cultural Malunguinho
Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!