quarta-feira, 14 de maio de 2025

Mestra Têca de Oyá lança seu primeiro álbum virtual – “Catimbó”

Mestra Têca de Oyá gravando no Estúdio O Criatório. Foto de Monique Silva.

Mestra Têca de Oyá lança seu primeiro álbum virtual – “Catimbó”

Mestra Têca de Oyá (Terezinha José dos Santos), nascida em 11 de junho de 1945 em Recife/PE, sempre foi uma artista, onde seu maior palco são os terreiros de Jurema e candomblé. Ali, bem no meio do salão, ela liberta uma energia (ciência/axé) que inunda todas as pessoas com seu brilho cristalino, que toma forma de chave espiritual para abrir as veredas que trazem as entidades e divindades à terra.

Seu corpo é uma das chaves mestras de Reis Malunguinho, o seu guia. Toda expressão física, vocal e espiritual é sua maneira inata de revelar sua função, dada pelas forças supremas. Ela reina, dança como o vento, incorpora as forças e triunfa. Vê-la bailar, invocar e se entregar ao som dos tambores é uma aula de ancestralidade negra-indígena. Ali é onde ela se reencontra com sua essência e faz-nos acordar para o quanto é bela nossa religião.

Muito conhecida nos terreiros de Recife e Região Metropolitana, em especial no eixo Recife/Olinda, Dona Têca se especializou na arte de cantar e dançar, já que não se “manifesta”. Assim ela faz há mais de 60 anos, sendo seu maior patrimônio a imensa coleção de pontos, toadas, rezas e saberes tradicionais de terreiro vivenciados com total entrega nesses anos. Portanto, ela em si resguarda uma memória viva e rica da história de inúmeros terreiros onde pôde contribuir em festas, rituais, iniciações e festejos (brinquedos) nos ciclos anuais de cada um. Sabe contar muitas narrativas desses lugares esquecidos das bibliografias. Em sua oralidade traz saberes e sujeitos que muitos não puderam alcançar. Os terreiros já extintos, as casas que trocaram de regência, os novos terreiros, etc.

Mestra Têca, mulher de fé inabalável na Jurema, discípula do Reis Malunguinho (seu trunqueiro). Foto de Monique Silva.

Com pouco reconhecimento no meio onde dedicou toda sua vida, pôde ter sua voz registrada pela primeira vez no CD “Jurema – ao vivo” (2007), fonograma feito por Alfredo Bello (DJ Tudo) e o prof. Dr. historiador Ivaldo Marciano. Mestra Têca aparece cantando a faixa 12 para Zé Pilintra e na faixa 14 o ponto intitulado “Paupendeu”, no terreiro de Pai Tuca, no bairro da Campo Grande/Recife. Este CD teve um papel importante, pois é um dos primeiros trabalhos realizados numa perspectiva fonográfica com preocupação de registrar a Jurema em três terreiros da cidade: terreiro de Pai Tuca, terreiro de Maria de Oxum e o terreiro de Pai Roberto de Angola. Em seu texto escrito pelo professor Ivaldo, levanta temas fundamentais ligados ao ostracismo histórico que a Jurema sofre; fala de como os pesquisadores “mal informados” apenas dão valor ao nagô em decorrência ao que acreditam ser uma tradição pura; cita ainda do primeiro CD do Maracatu Cambinda Estrela que ousou em gravar uma faixa de 09 minutos com pontos de Jurema e a importância histórica que isso teve; fecha falando sobre a importância de Malunguinho como ser histórico e divino. Em suma, o registro qual Mestra Têca aparece pela primeira vez tem uma importância histórica relevante, e a presença dela já fora um excelente indício de seu futuro brilhante no campo do patrimônio cultural afro-indígena.

Capa do CD "Jurema ao vivo", de 2007, onde Mestra Têca teve sua voz gravada pela priemira vez. Foto: Acervo Casa das Matas do Reis Malunguinho.

Após essa aparição, Têca conheceu a Casa das Matas do Reis Malunguinho em 2017, tendo sido levada pelo ogan Rinaldo Aquino. Ali foi imediatamente reconhecida pelo sacerdote Alexandre L’Omi L'Odò, pois desde muito jovem ele via a grande atuação de Mestra Têca, em especial na casa de Pai Ednaldo de Boiadeiro, no bairro de Campina do Barreto/Recife. Aquela mulher negra, masculina, tocando maracá com uma força incrível e dominando a gira como ninguém é uma imagem muito forte para se esquecer. No terreiro, rapidamente foi muito bem recebida por todos os filhos e filhas da Casa das Matas, a partir daquele momento ela passa a frequentar permanentemente todas festas, rituais e compartilhar de momentos coletivos. Malunguinho, o patrono da casa, logo a presenteou com sua conta Mestra, consagrando-a como membro do terreiro.

Em 2019 foi homenageada no XIV Kipupa Malunguinho, no Prêmio Mourão que Não Bambeia, tendo realizado um dos momentos mais lindos do evento. Cantou com muita alegria e beleza, encantando a quem esteve presente. Naquele dia (29 de setembro de 2019), ela se consagrou Mestra, a Mestra que sempre foi, só que agora nacionalmente vista, publicamente aclamada e recebendo pela primeira vez uma homenagem frente as estimadas nove mil pessoas que estavam no evento.

Este álbum virtual representa uma pequena partícula de seus saberes registrados para eternizar sua voz, seu jeito de cantar, sua imanência espiritual e sua contribuição histórica para os terreiros, pois mesmo colocada no escanteio pelos próprios membros da religião, ela segue compartilhando sua luz para ajudar aos que precisam encontrar o caminho da espiritualidade, sem nenhuma cobrança pessoal. Entrega sua ciência com amor e fé, pois é uma mulher de muita fé, que mesmo negada, criticada, e esquecida pelos que sempre ajudou de alguma forma, continua intacta e com vontade de fazer mais pela religião, mesmo na altura de seus 80 anos de idade.

Cantando pontos de Jurema com suas "Tequetes" ou "paquitas", como ela mesmo as batizou. Da esquerda pra direita: Nety Moura, Malú Falcão e Welica Silva. Foto de Monique Silva.

Este trabalho foi feito com a união integral dos filhos e filhas da Casas das Matas do Reis Malunguinho - @cmdoreismalunguinho, sem editais, políticos ou qualquer outra ajuda externa. Todos os participantes desse trabalho integram o terreiro, sendo assim uma missão dada pelo Reis Malunguinho e cumprida com êxito por esses artistas altamente qualificados e comprometidos com a salvaguarda da memória e tradição da Jurema Sagrada.

O álbum "Catimbó" é fruto do Prêmio Mourão que não Bambeia, do Kipupa Malunguinho, que ao longos dos anos homenageou mais de 53 pessoas relevantes da religião. A parceria da Casa das Matas do Reis Malunguinho, do Estúdio O Criatório e o Quilombo Cultural Malunguinho deram luz a este projeto idealizado por Alexandre L’Omi L’Odò.

O estúdio O Criatório, merece destaque nessa parceria, pois disponibilizou seu belíssimo espaço para realizar esse sonho que torna Mestra Têca imortal e reverbera sua voz no mundo todo. A alta qualidade de seus equipamentos e a maestria técnica de Cássio Sales deram a este trabalho a dignidade necessária e merecida.

Mestra Têca guarda em si um repertório gigantesco de pontos de Jurema. Mulher muito sábia, é um patrimônio vivo do povo de terreiro e está deixando grande contribuião para a memória da Jurema Sagrada pernambucana, com seu álbum Catimbó. Foto de Monique Silva.

Este é um trabalho de preservação do patrimônio cultural e sentimental da Jurema. É o presente de aniversário mais lindo que pudemos dar à Mestra Têca e à todos nós, que agora temos uma referência séria da Jurema cantada no Brasil. Com preocupação técnica e construção totalmente afetiva. As mais de 50 faixas de pontos que perpassam pelos Trunqueiros (Exus e pombojiras), Malunguinho, Caboclos, Mestres, Mestras e a própria Jurema, possibilitam um breve vislumbre pelas linhas que ela mais gosta e os tradicionais cânticos sagrados da Jurema de Recife e RM. Cantou o que o coração dela pediu e o que ordenaram as entidades, em especial Mestre Bevenuto, que é seu Mestre, Reis Malunguinho, que é seu guia principal e as entidades de sua juremeira e iyalorixá, seus padrinhos e madrinhas.

Junto a este trabalho, está sendo produzido seu filme, que contará parte de sua história e revelar muito mais da Jurema que muitos não conhecem.

O álbum será lançado dia 11 de junho de 2025, data de seu aniversário, quando completa 80 anos de vida. Será realizada uma sessão Premier no terreiro Casa das Matas do Reis Malunguinho para 200 convidados com seu show ao vivo. O material será lançado em todas as plataformas digitais de música e no YouTube.

Parabéns, Mestra Têca, pelos seus 80 anos de vida e luta pela Jurema Sagrada e pelo candomblé Nagô/Xambá de Pernambuco.

Mestra Têca de Oyá e parte da equipe de gravação. Foto de Giovana Simões.


FICHA TÉCNICA: "CATIMBÓ" - MESTRA TÊCA DE OYÁ

Voz principal: Mestra Têca de Oyá

Vocais: Welica Silva, Nety Moura, Malu Falcão e Alexandre L'Omi L'Odò

Ilú melé nkó: Henrique Falcão

Ilú Yan: Felipe Roberto ("Hambúrguer")

Maracás: Henrique Falcão

Gan e agogô: Henrique Falcão e Alexandre L'Omi L'Odò

Palmas de mão e efeitos: Henrique Falcão e Alexandre L’Omi L’Odò

Idealização: Alexandre L'Omi L'Odò

Produção musical: Alexandre L'Omi L'Odò e Henrique Falcão

Coprodução musical: Cássio Sales

Assistente de Produção: Diviol Lyra

Gravação e Mixagem: Cássio Sales

Lançamento: Canal no YouTube de Alexandre L'Omi L'Odò

Fotografia de capa: Monique Silva

Design de capa: Sofia L'amour

Registros fotográficos: Giovanna Simões, Monique Silva, Feane Monteiro

Motorista: Tiago Augusto da Silva e Bozó Bacamarte

Cozinheira: Valesca da Silva

Realização: Casa das Matas do Reis Malunguinhos e O Criatório - Residência Criativa.

Agradecimentos: Flávio Tavares e toda a comunidade religiosa da CMRM.

Gravado n'O Criatório - Residência Criativa em sessão ao vivo durante os dias 30, 31 de janeiro, 01 de fevereiro; 12, 13 de abril e 28 de abril de 2025.

Instagram da Mestra Têca de Oyá: @mestratecadeoya


Seviço:

Lançamento do álbum virtual - "Catimbó"

Dia 11 de junho de 2025 (dia de seu aniversário de 80 anos)

Local: Casa das Matas do Reis Malunguinho

19h

Apenas para os 200 convidados e convidadas.

Será exibido por live no instagram: @alexandrelomilodo


Alexandre L'Omi L'Odò

Quilombo Cultural Malunguinho

alexandrelomilodo@gmail.com

Quilombo Cultural Malunguinho

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Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!