quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Mestra Têca de Oyá, um patrimônio do povo de terreiro de Pernambuco

 

Mestra Têca cantando para a Jurema Sagrada na Casa das Matas do Reis Malunguinho (2021). Foto de Monique Silva.

Mestra Têca de Oyá, um patrimônio do povo de terreiro de Pernambuco

Mestra Têca de Oyá (Terezinha José dos Santos) é um dos mais valiosos patrimônios dos povos tradicionais de terreiro em Recife e Região Metropolitana. Com contribuição histórica, entregou sua vida às giras, cantando, dançando e dando grandes ensinamentos negríndios para os signatários das tradições da Jurema e do candomblé. São 61 anos dedicados à manutenção e preservação de cânticos sagrados de grande valor religioso.

Têca, resguarda em si todas as transformações que o povo de terreiro sofreu nas últimas décadas, sendo ela, uma valiosa biblioteca/patrimônio vivo. Sua especialidade é cantar. Abrir e fechar giras, invocar o sagrado, dar força ao axé dos terreiros, ser a voz dos encantados. Foi homenageada em 2018 como Mourão que não Bambeia no XVIII Kipupa Malunguinho – Coco na Mata do Catucá, sendo reconhecida publicamente pela primeira vez nessa ocasião. 

Mestra Têca recebendo o Prêmio Mourão que não Bambeia em 2018 no Kipupa Malunguinho. Reconhecimento merecido. Homenagem entregue por Pai Messias de Ogun e Mané da Pinga. Foto de Adriana Preta.


Hoje, com grande desejo de perpetuar seus saberes, dedica-se à registrar os cânticos antigos e sagrados de sua Jurema, onde salvaguardam muitos segredos, fundamentos e história. Sem importantes registros imagéticos, de audiovisual etc., afinal sempre esteve a margem da história pública, tem na oralidade, em sua tradição oral seu maior documento histórico.

Atualmente, Mestra Têca está sendo protagonista da gravação de seu próprio filme, cujo nome não revelamos ainda. Esse trabalho é a continuidade do projeto Mourão que não Bambeia, que tem como objetivo principal registrar a história, memória, e a fala dos mestres e mestras dos terreiros de Pernambuco, em especial os que já foram homenageados no Kipupa. Desde o início do Prêmio Mourão (2012), já foram reconhecidos e reconhecidas mais de 53 juremeiros e juremeiras e pessoas do candomblé além de pessoas importantes para o fortalecimento das nossas tradições negríndias. O primeiro filme lançado foi o "Mãe Terezinha Bulhões - um mar de amor no coração do Recife", publicado recentemente em decorrência de seu falecimento aos 91 anos. 

  A obra dirigida por Alexandre L'Omi L'Odò, tem previsão de lançamento no final de 2022 e está a todo vapor em seu processo de construção. Têca, como gosta de ser chamada, está muito feliz com todo esse movimento. Ela relata que "nunca fui reconhecida. Já ajudei tanta gente nos seus terreiros e as pessoas só me usavam. Estou feliz em poder mostrar um pouquinho do que sei e do que me foi permitido aprender nessa religião que é minha vida". 

Há um documento vivo que temos que salvar do apagamento. Ele está na tradição oral. Na memória dos mestres e mestras de terreiro. Além disso o processo de apagamento da existência de pessoas importantes das casas de axé e Jurema é muito agressivo. Poucos são os que têm um registro minimamente organizado para que sua história e contribuição seja conhecida pelas gerações futuras. Esse é um problema grave do povo de terreiro, e esse projeto tem o desejo de contribuir para que seja a cada dia menos possível a continuidade desse apagamento racista dos nomes e feitos de nossos sacerdotes e sacerdotisas de terreiro.

Abaixo, disponibilizo alguns registros fotográficos da Mestra Têca, para que possamos ver em imagem o quanto ela é expressiva e linda com sua energia única. Têca é vento, é furacão, é o canto e a dança dos terreiros. Devemos valorizar!

Mestra Têca cantando para o grande público do Kipupa Malunguinho (2018). Foto de Adriana Preta.

Recebendo homenagem surpresa na Casa das Matas do Reis Malunguinho (agosto de 2021). A foto do quadro e essa são de Monique Silva.

Cantando pra Malunguinho na Casa das Matas do Reis Malunguinho (agosto de 2021). Foto de Monique Silva.

Com seus 75 anos de idade tem vitalidade que menino novo não tem. Foto de Monique Silva.

A tradição em pessoa. Foto de Monique Silva.

Sabe cantar muito pra Jurema. Tem axé e traz os espíritos à terra! Foto de Monique Silva.

Têca no XVI Kipupa Malunguinho (2020). Foto de Monique Silva.

Teca cantando para Exu/trunqueiros na Jurema. Foto de Monique Silva.

Na frente dos ilús ela dá seu show de axé. Foto de Monique Silva.

Com Alexandre L'Omi L'Odò, diretor de seu filme (2019). Foto de Monique Silva.

Dando seu recado na pisada mestra. Foto de Monique Silva.

É Mourão que não Bambeia - Mestra Têca de Oyá. Foto de Monique Silva.

Triunfando na Jurema. Casa das Matas do Reis Malunguinho. Foto de Monique Silva. 

Nas giras da Casa das Matas do Reis Malunguinho, sempre ajudando nos trabalhos. Foto de Monique Silva.

Para maior conhecimento do projeto Mourão que não Bambeia, veja o filme de Mãe Terezinha Bulhões no link: https://www.youtube.com/watch?v=jpOQRg1r54s&t=802s


Alexandre L'Omi L'Odò

Quilombo Cultural Malunguinho

alexandrelomilodo@gmail.com 

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Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!