terça-feira, 3 de abril de 2012

Outras religiões e uma Semana Santa diferente - "A Jurema e seus rituais"


Outras religiões e uma Semana Santa diferente - A Jurema e seus rituais
Saiba como movimentos afros comemoram o período, apesar da influência cristã.

Na Semana Santa, os fiéis de instituições cristãs costumam refletir e relembrar a passagem de Jesus Cristo pela terra. No mesmo período, outras religiões fazem ritos com características diferentes do que se é comemorado pelos tradicionais costumes do catolicismo e dos evangélicos, por exemplo. Esses ritos quase não são divulgados, e grande parte da sociedade desconhece até mesmo que eles existem.

 Sandro de Jucá e Alexandre L'Omi L'Odò na Jurema. Foto de André Nogueira.

Algumas religiões de origem africana são responsáveis por “Semanas Santas” diferentes das cristãs. É o caso do candomblé. Com cerca de 300 anos, a manifestação foi recriada no Brasil na época da escravidão dos negros. No entanto, eles não podiam celebrar abertamente a sua religião, por causa da grande repressão da Igreja Católica - religião vigente entre os colonizadores do País. “A gente tem uma relação com o cristianismo por causa do sincretismo”, comenta o pesquisador e integrante do candomblé, Alexandre L´Omi L´Odò. De acordo com ele, os escravos relacionavam entidades do candomblé com santos católicos, e assim, cultuavam a sua religião.

O Lorogum

Na época em que é realizada a Semana Santa dos cristãos, os candomblecistas realizam um ritual denominado Lorogum. “É quando é escolhido o orixá que vai reger os terreiros de candomblé durante o ano todo”, explica Alexandre. Mesmo assim, é notória na maioria dos terreiros a presença de imagens e representações cristãs, que o pesquisador aponta como sendo “resquícios da repressão, quando os negros eram obrigados a seguir o cristianismo”.

Diferente dos cristãos, quando a Semana Santa é a data mais simbólica das celebrações, no candomblé, o começo do ano é que tem maior destaque. “O início do ano é o mais importante, porque é quando as águas do terreiro são trocadas, simbolizando a renovação”. Porém, no próprio candomblé, é possível ver algumas pessoas mais velhas ainda aderirem a alguns ritos puramente cristãos. “Isso ainda ocorre por causa do calendário cristão adotado e que, até hoje, nos influencia”.

Quando o assunto é acreditar em Cristo, Alexandre é decidido. “Mesmo alguns do candomblé acreditando em Jesus, eu não acredito. Eu acho que Cristo não existiu de fato e essa história foi contada com o objetivo de que os fiéis atendessem a vários interesses da Igreja Católica”, diz o pesquisador. No entanto, ele salienta que o candomblé é uma religião que aceita as outras manifestações religiosas. “Nós aceitamos outras religiões e a qualquer pessoa. Você pode ser o Papa ou o mendigo da rua, que vai ser igual para o candomblé”, afirma.

A Jurema

Alexandre também faz parte da jurema, que de acordo com ele, é uma religião de origem indígena. “A jurema existe desde antes dos portugueses chegarem ao Brasil”, afirma. O juremeiro (como se chama o adepto da jurema) e pai de santo Sandro Jucá conta que apesar da jurema ter algumas características do cristianismo, a religião realiza ritos próprios.

“Temos cerimônias que são feitas na Semana Santa. Nós ofertamos na mesa da jurema o pão e o vinho, como objetos de sacralidade pertencentes aos africanos e aos indígenas. Além disso, homenageamos os mestres referenciais da jurema”, conta Jucá. Já de acordo com Alexandre, o Deus da jurema é Tupã e dificilmente a imagem de Jesus Cristo será celebrada pelos juremeiros. “O Tupã tem muito mais significado para nós do que Cristo”, comenta o pesquisador.

Em busca da identidade e do respeito

De acordo com Alexandre, as religiões afros ainda estão em busca da sua identidade cultural e também lutam contra o preconceito vigente na sociedade. “Hoje essas religiões vem buscando mais a sua identidade e o seu principio original. Estamos fazendo movimentos contra o sincretismo religioso. Embora não seja fácil se desvencilhar dos parâmetros católicos, aos poucos, estamos conseguindo a nossa liberdade”, exalta.

Visitem o site com a postagem integral, tá muito legal e completa a cobertura: 

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Publico aqui parte da matéria feita por Nathan Santos com fotos de André Nogueira do portal de notícias Leia Já OnLine (www.leiaja.com) em 04 de Abril de 2012. Achei super interessante a iniciativa do jornalista em focar, a discussão que aparentemente é somente cristã, na Jurema e no Candomblé. Isso mostra que ainda podemos ter jornalistas interessados em assuntos além do óbvio e do que a sociedade totalitária ordena e compra. Este texto abre um precedente importante para que outros jornalistas possam investir na pesquisa sobre as culturas de terreiro que são vastas e fortes em todo País. Parabéns pelo belo trabalho e vamos seguindo rumo a uma maior compreenção de nossas tradições e culturas religiosas brasileiras. Ainda peço obrigado à Karolina Pacheco, a jornalista mais linda de Pernambuco, que me indicou carinhosamente para a matéria. Obrigado. Salve a fumaça!!


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com 

4 comentários:

Karolina Pacheco disse...

Querido L'Omi,

Agradeço não somente o carinho do elogio como também sua receptividade à proposta.A maneira como você defende seus ideais é inspiradora.

Temos mesmo que levantar e ir atrás do que nos é de direito - partindo do pressuposto que todos nós "somos iguais em direitos", como afirma nossa tão escanteada constituição.

Realmente parabenizo ao Leia Já -que foi quem promoveu a ideia de mostrar as varias faces desta moeda - e Nathan, que recebeu bem a proposta e fez um excelente trabalho com direcionamento perfeito ao que possuímos de maior valor: verdade e esclarecimentos.

O jornalismo se faz de informação, e não preconceitos.

Bela iniciativa! Obrigada!

Alexandre L'Omi L'Odò disse...

Karol, seu toque brilhante aqui em meu blog só me deixa feliz por poder mesmo que pela net receber uma fala sua.

Muito axé emsmo a matéria. Gostei e acredito que ela possa contribuir para a derrubada de diversos preconceitos. Claro que o texto não é completo, nem o discurso aparece como deveria em sua plenitude, mas o pouco que é colcoado serve de exemplo para pessoas mais curiosas que vão buscar mais conteúdos em outros textos e espaços.

Seja sempre bem vinda aqui jornalista mais linda de PE!!!

L'Omi.

ricardo piacentini disse...

Cultura Afro-brasileira e todo um legado e muito rica , nós faz acreditar nós encantos que a natureza nos da através dos elementos naturais saudamos as forças da jurema na fumaça sagrada entramos em tranze com o nosso ser antepassado que habita em nós encantado! Exelente quero ter oportunidade de fazer parte deste blog Alexandre meu abraço fraterno!Salve Jurema sagrada salve todo catimbo nossos pretos Velhos!

ricardo piacentini disse...

Abraço fraterno parabéns Alexandre !!!

Quilombo Cultural Malunguinho

Quilombo Cultural Malunguinho
Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!